Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem se consolidado como uma tecnologia revolucionária em diversas áreas, como na descoberta de novos medicamentos e no auxílio a diagnósticos médicos. No entanto, uma dúvida persiste entre muitos pesquisadores da área: os algoritmos de IA estão realmente aprendendo ou apenas replicando padrões dos dados?
O argumento em defesa da IA é que existe sim aprendizado, uma vez que praticamente todas as decisões dos algoritmos são genuinamente novas e não estão presentes na sua base de treinamento. Por exemplo, ao auxiliar no diagnóstico de um paciente, o algoritmo provavelmente nunca encontrou um indivíduo exatamente igual, que combine todas as suas mesmas características, como idade, medidas antropométricas, sintomas e resultados de exames.
Essa capacidade de lidar com novos casos tem sido vista como um sinal de que a IA consegue generalizar o conhecimento adquirido durante o treinamento e aplicá-lo a novas situações. No entanto, críticos dessa teoria como François Chollet argumentam que a sua habilidade de generalização é limitada, e que muitos modelos de IA estão simplesmente memorizando padrões complexos em vez de realmente compreendê-los.
Chollet, que é autor do livro Deep Learning with Python, e um dos pioneiros da atual revolução de machine learning, defende que a verdadeira aprendizagem implica a capacidade de aplicar conhecimentos de forma flexível a uma variedade de contextos. Quando confrontados com situações que divergem profundamente dos seus dados de treinamento, os modelos atuais de linguagem muitas vezes falham.
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Para superar essas limitações, Chollet defende que será necessário o desenvolvimento de algoritmos que não apenas reconhecem padrões, mas também compreendem os princípios subjacentes que levam a esses padrões, por meio da incorporação de mecanismos de raciocínio abstrato e compreensão contextual.
O debate sobre a capacidade de a IA aprender de verdade ganhou um novo capítulo na semana passada com o anúncio do Prêmio ARC. Idealizado por Chollet, a competição oferece US$ 1 milhão à equipe que desenvolver um algoritmo capaz de alcançar 85% de precisão em um novo benchmark chamado ARC.
O diferencial do ARC é a exigência de compreensão e resolução de problemas, em vez de apenas uma memorização de dados. Isso significa que os algoritmos serão desafiados a raciocinar, interpretar e se adaptar a situações novas e complexas, abrindo caminho para uma IA mais inteligente e impactante.
A discussão sobre se a IA está realmente aprendendo ou apenas decorando será muito importante para o futuro da tecnologia. Como apontado por François Chollet, a verdadeira inteligência artificial ainda está longe de ser alcançada. O caminho para atingir esse objetivo envolve não apenas avanços técnicos, mas uma nova maneira de raciocinar sobre o que significa compreensão verdadeira na era da IA.
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