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Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião | Brasil precisa de cultura de dados para desenvolver políticas públicas de precisão

Com a existência de um sistema integrado de coleta de dados, será possível desenvolver políticas públicas que identifiquem trajetórias individuais

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Foto do author Alexandre  Chiavegatto Filho

Toda política pública precisa ser focalizada. De que serve ao governo oferecer aos cidadãos soluções para problemas que eles não têm? É um desperdício de dinheiro público e do tempo dos seus funcionários.

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Por exemplo, ao desenvolver uma política pública para reduzir a mortalidade neonatal é necessário em primeiro lugar identificar quais bebês têm alto risco de morrer. Todos os anos, nascem mais de 2 milhões de bebês no Brasil e não seria possível desenvolver uma nova intervenção de grande impacto na área que atingisse todos os recém-nascidos.

Uma pesquisa publicada em 2021 pelo nosso laboratório da USP, em colaboração com a Universidade Harvard, desenvolveu algoritmos de inteligência artificial (IA) para identificar os 5% recém-nascidos no município de São Paulo com maior risco de morrerem no primeiro mês de vida. Entre esses bebês, estavam 90% daqueles que acabariam de fato indo a óbito. Ou seja, graças ao uso de inteligência artificial, uma nova política pública precisaria focar em apenas 5% dos recém-nascidos para atingir quase todos aqueles que se beneficiariam dessa intervenção.

Política de dados e uso de IA no SUS pode aumentar eficiência do sistema  Foto: Werther Santana/Estadão

A ciência de dados está cada vez mais presente na elaboração de políticas públicas. No terça, 24, foi lançado pelo Ministério da Saúde o livro “Avaliação de Impacto das Políticas de Saúde: Um Guia para o SUS”. Eu tive a oportunidade de escrever o capítulo sobre o uso da inteligência artificial para melhorar a eficiência das políticas públicas, e sobre a atual possibilidade histórica que temos de aplicar novas tecnologias para o avanço da saúde pública brasileira.

A disponibilidade de dados será a chave para que as políticas públicas de precisão se tornem uma realidade. Precisamos ampliar cada vez mais a cultura de dados no serviço público brasileiro, para conseguirmos ir além das coletas independentes e em direção a um sistema integrado que possibilite o acompanhamento dos cidadãos em áreas prioritárias.

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Com a existência de um sistema integrado de coleta de dados, será possível desenvolver políticas públicas que identifiquem trajetórias individuais de alto risco com o potencial de serem revertidas com as intervenções adequadas. Algoritmos de inteligência artificial poderão, por exemplo, identificar históricos de pacientes com alta probabilidade de incidência de doenças graves e com isso alertar seu médico na sua próxima consulta.

Não se trata de um sonho impossível. Todos os residentes dos países nórdicos possuem há décadas um número de identidade pessoal único, atribuído a todos no momento do nascimento ou imigração, o que tem facilitado a integração dos dados de saúde e permitido um grande número de descobertas científicas importantes sobre a incidência de problemas de saúde e sobre os fatores de risco de doenças.

O Brasil tem um sistema de informações de saúde que é referência para vários países do mundo. É preciso complementá-lo com uma integração completa, incluindo o prontuário eletrônico. Chegou o momento das políticas públicas de precisão.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

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