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Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião|Caso Jabuti mostra que arte feita com IA é duplamente criativa; leia análise

Inteligência artificial na arte amplia a criatividade e torna expressão artística mais acessível

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Foto do author Alexandre  Chiavegatto Filho
Atualização:

Otimizar um algoritmo para que consiga produzir algo belo é um desafio que tem ocupado muitas gerações de pesquisadores. O artista e cientista da computação formado pelo MIT Karl Sims, vem desde a década de 1980 produzindo algoritmos capazes de gerar obras de arte, que têm vencido prêmios e já foram até exibidas no Georges Pompidou em Paris.

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O desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial (IA) é em si também uma arte, ao contrário do que tradicionalistas possam dizer. A inspiração vem de grandes artistas como Margaret Hamilton, a responsável pela sequência de códigos que em 1969 levou a humanidade à Lua, utilizando uma capacidade computacional muito inferior à dos celulares que hoje cabem no nosso bolso.

Para garantir a eficiência do código de um algoritmo de IA, é importante ficar atento a todos os detalhes, corrigindo cada pequena imperfeição para que as instruções fluam da forma mais harmônica possível. É necessário que o desenvolvedor possua visão, criatividade e, por que não, sensibilidade artística.

Edição de 'Frankenstein' da editora Clube de Literatura Clássica, feita com inteligência artificial, foi indicada ao Prêmio Jabuti 2023. Foto: Clube de Literatura Clássica/Divulgação

A reação ludista contra o uso da tecnologia na criação artística possui um histórico que é tão longo quanto mal-sucedido. A mais forte dessas reações talvez tenha sido contra a fotografia, que foi durante décadas acusada de tirar emprego de pintores e de ser uma manifestação criativa preguiçosa.

A defesa da fotografia como uma manifestação artística foi encabeçada pelo movimento Pictorialista, que começou em 1885 e foi amplamente vitorioso. Hoje, felizmente, ninguém pensa em reclamar que Sebastião Salgado deveria pintar quadros dos índios suruwahas em vez de fotografá-los.

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O aumento do uso da IA na arte permitirá ampliar a criatividade humana e torná-la mais acessível a um grande número de novos artistas. Além disso, é duplamente criativa, unindo o desenvolvedor que programou o algoritmo ao artista que utilizou a sua própria inspiração para orientar linhas de código a criarem algo esteticamente aprazível.

Nesta sexta, 10, o prêmio Jabuti optou por desqualificar a obra Frankenstein do prêmio de melhor ilustração por ter sido elaborada em conjunto com IA, o que é uma pena. A obra de Vicente Pessôa retrata o olhar de um monstro resignado com a sua recém-descoberta monstruosidade. Possui criatividade, profundidade e leveza estética.

André Dahmer, o autor da brilhante tirinha Os Malvados, é um dos jurados do prêmio Jabuti de melhor ilustração. Ele se manifestou hoje no X, ex-Twitter, afirmando que não teria selecionado a obra se soubesse que havia sido feita com o auxílio de IA. Assim como está escrito na sua mais recente tirinha dos Malvados, a internet é mesmo uma tecnologia do século 21 que as pessoas utilizam para emitirem opiniões do século 19.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

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