Está ficando cada vez mais claro que os avanços futuros da inteligência artificial (IA) farão com que a tecnologia esteja presente em todos os aspectos da sociedade, como na educação, na saúde e na alocação dos recursos públicos.
Isso terá como consequência o fato de que a área será muito provavelmente engolida pelo atual momento de radicalização e polarização da vida pública, em que as opiniões individuais muitas vezes refletem as vicissitudes das lideranças partidárias de cada país.
A realidade é que esse movimento atual é fluído e se molda pelos interesses políticos de cada região. Hoje existem diferentes lideranças mundiais consideradas de esquerda e de direita que se alternam entre serem bastiões da liberdade de imprensa, do livre-mercado e das liberdades individuais.
A movimentação partidária em relação à IA começou recentemente, com a adição da promessa ao plano de governo de Donald Trump de que não será feita uma regulação de IA. Longe de ser o resultado de um posicionamento ideológico (na verdade, os republicanos são atualmente mais críticos ao livre-mercado do que os democratas), essa decisão veio após importantes lideranças de tecnologia, como Elon Musk, Marc Andreessen e Peter Thiel, terem apoiado enfaticamente a candidatura de Trump nas semanas anteriores.
Com isso, o partido democrata, que historicamente costuma ser muito mais pró-ciência e tecnologia, pode ser empurrado para o campo dos céticos em relação à IA, com consequências danosas para o futuro do desenvolvimento econômico dos EUA. No Brasil, esse direcionamento partidário ainda está em aberto, mas é questão de tempo para que a IA comece a ser considerada “coisa de bolsonarista” ou “coisa de petista”.
Nesses tempos sombrios de partidarização de tudo, será importante manter a sanidade sobre o direcionamento dessa revolução tecnológica que está começando. É fundamental que, em meio a essa polarização, se busque um espaço para o diálogo construtivo e a colaboração entre os diferentes setores da sociedade.
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A construção de uma narrativa comum em torno da IA pode ajudar a mitigar os riscos associados à sua polarização. Especialistas, acadêmicos e representantes da indústria precisam se unir para promover uma compreensão mais ampla e fundamentada sobre os benefícios e os desafios da IA, independentemente das divisões partidárias.
Mesmo assim, a responsabilidade dos líderes políticos é inegável. Eles precisam se comprometer com o desenvolvimento de políticas de IA que priorizem o bem-estar da sociedade, em vez de sucumbirem às pressões partidárias. A construção de um futuro em que a IA seja uma aliada do desenvolvimento humano depende da capacidade de transcendermos divisões e trabalharmos em conjunto para o progresso econômico e social.
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