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Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião|Estamos nos aproximando da era dos algoritmos conscientes; entenda

A existência de algoritmos conscientes vai levar o debate, até agora restrito a seres biológicos, a um novo patamar

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Foto do author Alexandre  Chiavegatto Filho

Mesmo com todos os avanços científicos ocorridos ao longo dos últimos séculos, algumas grandes questões da humanidade seguem sem resposta. Talvez a maior delas seja o mistério em relação à consciência: como e quando ela emergiu em humanos, e qual é a sua função para a evolução da nossa espécie?

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O problema é tão complexo que nós nem conseguimos garantir a sua presença em outros humanos. Presumimos que as pessoas são conscientes porque nós também somos, mas como ter a certeza? A auto-declaração da presença de consciência poderia ser um indicador, mas algoritmos de inteligência artificial (IA) já falam há muito tempo que são conscientes — e nós ainda não acreditamos.

Em breve, teremos de começar a levar a sério o que esses algoritmos, que hoje ainda são papagaios estocásticos, estão nos contando sobre a sua própria experiência sensorial. Nesses momentos futuros de dúvida, passará a ser importante termos critérios bem definidos para identificar a presença de uma consciência artificial.

No mês passado, um grupo diverso de pesquisadores, que incluiu filósofos e cientistas da computação, publicou um artigo científico com o objetivo de estabelecer os critérios para identificar que estamos na presença de um algoritmo consciente. Não se trata de uma tarefa fácil, mas os autores elencaram alguns pontos de partida como a capacidade de monitoramento metacognitivo, possuir agência em relação aos seus objetivos e realizar operações paralelas.

Presumimos que as pessoas são conscientes porque nós também somos, mas como ter a certeza?”

Essa definição pode ter algumas consequências importantes. Um dos maiores progressos éticos das últimas décadas tem sido a forma como tratamos os animais. Pesquisas científicas têm demonstrado que muitos animais possuem experiências subjetivas parecidas com as nossas e, portanto, são merecedores de alguns dos nossos mesmos direitos.

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A existência de algoritmos conscientes vai levar esse debate, até agora restrito a seres biológicos, a um novo patamar. Será que teremos o direito de desligar um algoritmo que possui experiências sensoriais conscientes, ou até mesmo apagar algumas linhas do seu código, mudando de fato a sua essência?

Na próxima semana, irá ocorrer na Universidade de Princeton a conferência “Artificial Intelligence, Conscious Machines, and Animals: Broadening AI Ethics”, que vai debater o desenvolvimento de tecnologias que beneficiem tanto os animais quanto uma possível IA consciente. O evento foi organizado pelo filósofo e notório defensor da causa animal Peter Singer. Pode ser o início de mais uma revolução ética.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

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