Nos últimos 100 anos, a expectativa de vida global passou de cerca de 35 anos para 73,2 anos, segundo estimativa das Organização das Nações Unidas (ONU). Isso ocorreu em grande parte devido a novas descobertas em áreas como saúde preventiva, controle de doenças infecciosas e melhorias em saneamento e nutrição.
Todos esses avanços até agora vieram de um órgão de cerca de 1,4 litro e composto por apenas 86 bilhões de neurônios, pertencente a uma espécie que compartilha 98,7% dos seus genes com os bonobos. É impressionante o que conseguimos fazer com tão pouco.
O desafio agora é bem diferente. Não estamos mais enfrentando tantas pragas e desnutrição, mas uma batalha contra o envelhecimento do corpo humano e suas consequências naturais, como o câncer e as doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.
Para dar o próximo salto em longevidade, precisaremos de novas ideias e abordagens que desafiem os limites biológicos do envelhecimento. É aqui que a inteligência artificial (IA) pode abrir uma nova fronteira.
A IA não é apenas uma ferramenta de automação ou análise, mas uma tecnologia capaz de repensar a nossa compreensão do corpo humano. Estamos entrando em um território em que a saúde se encontra com a ciência de dados, onde cada paciente, célula e gene podem ser analisados em níveis de detalhe inimagináveis há apenas algumas décadas.
O objetivo final é alcançar a velocidade de fuga da longevidade, onde a expectativa de vida aumente mais rapidamente que o ritmo do envelhecimento natural. Para isso, será necessário superar o desafio do deslocamento de mortalidade, onde o controle de uma doença ou fator de risco faz com que outras condições se tornem as principais causas de morte.
No campo da saúde pública, a IA já está reescrevendo as regras ao otimizar a distribuição de recursos médicos e predizer novas doenças. Ao combinar dados dos pacientes com algoritmos preditivos, sistemas de saúde poderão priorizar recursos de maneira mais eficaz, evitando que emergências de saúde se tornem incontroláveis.
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No Brasil, um país que enfrenta tanto desafios no envelhecimento populacional quanto nas desigualdades de acesso à saúde, as aplicações da IA têm um potencial imenso. A integração de algoritmos preditivos ao Sistema Único de Saúde (SUS) irá transformar radicalmente a atenção à saúde nas regiões mais remotas do País, ajudando a equilibrar desigualdades.
Ao pensar em prolongar a vida humana, a questão mais profunda é se estamos realmente preparados para isso. A IA pode estender a longevidade, mas nos faz questionar: viver mais importa, se não vivermos melhor? O grande desafio será garantir que esses avanços sejam acessíveis a todos, criando não apenas uma vida mais longa, mas também mais justa e significativa.
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