Na última semana aconteceu mais um importante marco histórico da inteligência artificial (IA): o primeiro protesto de rua contra a tecnologia. O evento, organizado pela PauseAI, uma organização cujo nome é auto-descritivo, não mobilizou uma grande multidão, mas levou 30 pessoas à frente da sede da OpenAI com cartazes como “Sobrevivência acima de lucros” e “A Terra é nada sem as suas pessoas” (em inglês).
Protestos como esse se tornarão frequentes nos próximos anos em diversos países do mundo. À medida que a tecnologia for avançando, vão também aumentar os temores dos seus impactos, e as inseguranças das pessoas ficarão mais aparentes em um mundo em rápida transição.
As consequências psicológicas dessa nova realidade serão reais e não podem ser subestimadas. Entretanto, grupos como esse erram na solução para o problema. Nós precisaremos de cada vez mais pessoas trabalhando na área, nunca menos.
Em primeiro lugar, porque os ganhos do uso de IA na saúde, agricultura e educação serão maiores do que qualquer potencial impacto negativo. Em segundo lugar, porque impedir a tecnologia de ser usada em países que seguem as leis internacionais não significa o seu cumprimento em países que atuam na sua margem, o que tornará a tecnologia de fato perigosa.
Em terceiro lugar, porque os maiores temores sobre IA, como o seu próprio risco existencial, só serão evitados com mais pesquisadores trabalhando em questões como alinhamento, ética e justiça algorítmica. Necessitaremos cada vez mais da criatividade humana para orientar os avanços de IA na direção que aumente o bem-estar social.
É por isso que iniciativas como o atual projeto de lei de IA em tramitação no senado brasileiro, que pretende restringir e burocratizar o uso de IA, é tão nocivo para o país. Dificultar o acesso dos brasileiros à IA neste momento histórico de explosão da tecnologia terá profundas consequências para o desenvolvimento econômico e social do país.
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Assim como toda tecnologia revolucionária, a IA não está livre de problemas. Entretanto, é importante diferenciar as consequências negativas exclusivas do uso de IA, daquelas que a utilizam apenas como ferramenta. A eletricidade é uma tecnologia utilizada para cometer quase todos os crimes do mundo moderno, mas ninguém ainda propôs uma restrição do uso de acordo com todos os seus potenciais riscos, como prevê o atual projeto de lei brasileiro.
Não podemos deixar nossas inseguranças em relação a um futuro novo nos afastar dos avanços que a IA já está trazendo para as áreas mais importantes da nossa vida. É possível sim direcionar a tecnologia para o maior benefício humano se tivermos cada vez mais especialistas de IA trabalhando na área, e isso não será atingido com leis restritivas, nem com protestos de rua.
Mesmo com tantas incertezas atuais sobre as direções da IA no futuro, a única coisa garantida é o potencial humano para resolver qualquer problema. Assim como diz a famosa frase atribuída a Abraham Lincoln, a melhor forma de prever o futuro é criá-lo.
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