Quando conversamos com alguém em uma rede social, em geral consideramos isso como sendo uma interação real humana – mas nem sempre foi assim. No início deste século, com a ascensão da vida online, um grande número de reportagens foi escrito sobre a artificialidade das interações digitais.
Em 2003, a The Economist publicou o suplemento “Digital Dilemmas”, que tentou alertar a população da época que interações online resultariam apenas em conexões superficiais. Vinte anos depois, estima-se que entre 30% a 40% dos novos relacionamentos tenham começado online.
Os avanços da inteligência artificial (IA) vão tornar essa ideia sobre o que é real ainda mais nebulosa. Por exemplo, a maioria das pessoas não se importa de que a pessoa com quem está teclando utilize alguma forma de autocompletar as palavras que está digitando. Porém, e se um algoritmo de IA escrever uma frase inteira? Ou uma sequência de frases inteiras?
Utilizar um filtro é algo também cada vez mais comum em imagens e vídeos online. Porém, e se for um filtro que muda algumas palavras do que a pessoa falou, para, por exemplo, corrigir algum erro de conjugação, ou para alterar o tom da voz para soar mais confiante ou amigável? Isso é uma comunicação real ou artificial?
À medida que os algoritmos de IA continuarem a evoluir, chegará um ponto em que será difícil, senão impossível, distinguir se estamos interagindo com uma pessoa real ou com uma IA. Como conseguiremos fazer essa distinção - e será que as pessoas vão se importar?
O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural
Se uma conversa, um vídeo, ou até mesmo uma experiência real for criada em um ambiente artificial sem que percebamos, será que o sentimento gerado deixa de ser autêntico? Se uma interação nos provoca alegria, tristeza ou empatia, mas é mediada por uma IA, esses sentimentos são menos legítimos? No fim das contas, as emoções que experimentamos são reais, mesmo que a origem delas seja uma construção artificial.
Seremos forçados a confrontar a possibilidade de que a autenticidade não reside na origem, mas na experiência vivida. O verdadeiro desafio será redefinir o que é real em um mundo onde o artificial pode levar a sentimentos mais profundos do que o natural. Se o significado e as emoções que derivamos de nossas interações são genuínos para nós, o que afinal define o que é real?
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Será que começaremos a valorizar as imperfeições humanas como o verdadeiro sinal de autenticidade? Ou abraçaremos essa nova forma de realidade, onde o artificial e o real se confundem para desafiar a nossa compreensão de mundo?
Em breve, estaremos diante de uma escolha inevitável: aceitar as possibilidades oferecidas por um mundo onde a linha entre o real e o artificial se torna cada vez mais tênue, ou resistir, cientes de que esse pode ser o nosso último grande ato de discernimento.
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