Há cerca de dois meses, o CEO da Nvidia Jensen Huang afirmou em uma palestra que aprender a programar não será mais uma habilidade necessária para as novas gerações, já que essa função poderá ser automatizada por algoritmos de inteligência artificial (IA). A declaração deixou o mundo da tecnologia em polvorosa, principalmente em relação às perspectivas futuras da empregabilidade dos programadores.
Uma previsão semelhante foi feita em 2016 por Geoffrey Hinton, um dos pais da IA moderna, sobre o futuro dos médicos radiologistas. Nas suas declarações em diversos eventos da época, Hinton frequentemente mencionava que os avanços em IA tornariam os radiologistas obsoletos, já que os algoritmos conseguiriam analisar imagens médicas com maior precisão e velocidade.
A área, entretanto, tem seguido um caminho muito diferente das previsões de Hinton. A radiologia, que foi a primeira especialidade médica a começar a ser transformada por algoritmos de IA, tem visto a sua demanda e os seus salários aumentarem todos os anos nos EUA. Segundo uma pesquisa recente do site Medscape, a radiologia já está na sexta posição entre as especialidades médicas mais bem remuneradas nos EUA, atingindo em 2023 um salário equivalente a R$ 200 mil ao mês.
Uma realidade econômica histórica é que os profissionais que se tornam mais eficientes e mais produtivos têm a sua demanda aumentada no mercado de trabalho. Segundo o conceito econômico de teoria da firma, empresas contratam um novo funcionário quando o rendimento gerado pelo produto marginal desse trabalhador for pelo menos igual ao seu custo marginal. Em outras palavras, se o valor adicional que um trabalhador traz à empresa excede ou é igual ao seu custo, então faz sentido econômico para a empresa realizar a contratação.
Ao aumentar o produto marginal gerado pelos trabalhadores, os algoritmos de IA tornarão muitos desses funcionários viáveis para serem contratados pelas empresas, principalmente por startups e empresas de médio porte, mesmo se forem mantidos os altos salários da área.
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Além disso, a cada avanço no reconhecimento da importância de IA por parte das empresas, novas especializações têm sido criadas na área de programação e estatística, como engenheiros de dados, cientistas de dados e especialistas em machine learning operations (MLOps). Aos poucos, vai começar a ficar evidente que o papel do programador está em evolução, e não diminuindo.
Ao mesmo tempo, IA irá também induzir novas demandas em algumas profissões. Por exemplo, à medida que a radiologia tem se tornado mais eficiente graças ao uso da IA, outras especialidades médicas têm solicitado mais exames de imagem. Isso não apenas tem melhorado o diagnóstico e o tratamento dos pacientes, mas também aumentado o número total de exames realizados, o que tem impulsionado a demanda por radiologistas.
A realidade é que o crescimento do uso da IA irá transformar todas as profissões. Porém não se trata de uma ferramenta criada apenas para resolver problemas técnicos, mas sim de uma tecnologia profundamente liberadora e, acima de tudo, humana.
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