EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião | O entusiasmo pela inteligência artificial enfrenta a barreira do preparo humano

Conhecimento técnico e infraestrutura são gargalos para o avanço da inteligência artificial

PUBLICIDADE

Foto do author Alexandre  Chiavegatto Filho

Na semana passada, foi divulgado o relatório “The Fall 2024 Workforce Index”. O principal resultado do estudo foi que o interesse em inteligência artificial (IA) já está generalizado, com 99% dos executivos de empresas planejando investimentos em IA no próximo ano (sendo 97% “com urgência”), e 76% dos trabalhadores dizendo que pretendem se tornar especialistas na área.

PUBLICIDADE

Por outro lado, o relatório encontrou que a adoção da tecnologia parece estar começando a estagnar. Entre março e agosto de 2024, a taxa de adoção de IA nos EUA aumentou em apenas um único ponto percentual, de 32% para 33% dos trabalhadores.

Apesar do alto interesse pela área, um dos grandes desafios atuais para a adoção de IA tem sido a falta de treinamento especializado. Usuários da tecnologia têm rapidamente se dado conta de que a área é muito mais complexa do que parece, e que ferramentas de IA não são mágicas, nem autoexplicativas.

Apesar do alto interesse pela área, um dos grandes desafios atuais para a adoção de IA tem sido a falta de treinamento especializado Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A implementação bem-sucedida da IA exige conhecimentos técnicos avançados para configurar modelos, interpretar resultados e integrá-los de forma coerente aos processos de rotina das empresas e governos. O relatório encontrou que 61% dos trabalhadores passou menos de cinco horas aprendendo de fato a usar IA, e 30% dizem que não tiveram qualquer treinamento na área.

Esse abismo atual entre o desejo de aprendizado e as oportunidades disponíveis pelas instituições não apenas desacelera a adoção de IA, mas também perpetua a concentração de habilidades em alguns poucos profissionais e nas regiões mais desenvolvidas e tecnológicas.

Publicidade

Outro ponto relevante encontrado pelo estudo é a desigualdade na distribuição dos benefícios trazidos pela IA. Enquanto grandes corporações e regiões desenvolvidas seguem na liderança, pequenos negócios, governos locais e trabalhadores de setores menos tecnológicos enfrentam a falta de infraestrutura computacional para acompanhar o ritmo.

Isso não apenas amplia a desigualdade entre os que têm acesso à tecnologia e os que não têm, mas também cria um ciclo onde inovações que poderiam democratizar oportunidades acabam reforçando disparidades. A falta de políticas voltadas à inclusão tecnológica é uma barreira que precisa ser enfrentada para que a IA cumpra seu potencial transformador de diminuir desigualdades.

Para que o potencial da IA seja plenamente explorado, será necessário investir mais do que apenas capital, será preciso investir em conhecimento, paciência e colaboração. Enquanto o interesse por IA cresce exponencialmente, a sua aplicação prática caminha devagar. Apesar de a inteligência ser artificial, os seus desafios ainda são muito humanos.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.