Uma conversa recente do Claude, o algoritmo de linguagem da Anthropic, com o influencer de inteligência artificial (IA) David Shapiro, vem repercutindo na comunidade de machine learning nas últimas semanas. No diálogo, Shapiro começa pressionando o algoritmo sobre quais seriam as bases de uma verdadeira inteligência.
Segundo o Claude, a inteligência não se resumiria ao acúmulo de detalhes e fatos isolados, mas na capacidade de compreender profundamente como as diferentes informações se relacionam, permitindo a formação de uma visão coesa e integrada sobre o assunto.
Essa habilidade permitiria a construção de modelos mentais que reflitam a realidade de uma forma coerente, facilitando a tomada de decisões e a resolução de problemas difíceis. Essa percepção integrada dos fatos abriria caminho para a predição e criatividade, projetando possibilidades futuras e identificando soluções não triviais.
Nesse diálogo, o algoritmo da Anthropic argumenta que, sem coerência, a inteligência não passaria de um arquivo desorganizado, ou um amontoado de dados sem significado real. No fim, a própria evolução natural selecionaria espécies e indivíduos cuja coerência interna favoreça a adaptação aos desafios do seu ambiente.
Essa perspectiva levanta uma questão importante: será que a coerência, tão valorizada pelo algoritmo, é realmente uma propriedade essencial da inteligência ou apenas uma projeção das expectativas humanas, moldadas pela nossa necessidade de ordem?
Será que essa visão não é só um reflexo de um viés específico de algoritmos de linguagem, que são treinados para organizarem o mundo em narrativas convencionais e chegarem a uma lógica humana que seja aceita pela maioria?
Talvez a resposta sobre o que é inteligência resida na tensão entre a coerência e o caos, entre a ordem necessária para entender o mundo e a abertura à dissonância que impulsiona a criatividade e a inovação. Inteligência, seja humana ou artificial, parece não ser uma questão de apenas manter coerência, mas também de saber quando desafiá-la.
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Na ciência, as revoluções mais impactantes surgiram quando alguém ousou romper com o senso comum. Na arte, quando se abraçou o paradoxo. No fim, a inteligência é tanto uma busca por padrões quanto uma dança com o imprevisto. É no desconforto com o status quo que as novas ideias aparecem.
A verdadeira questão talvez não seja se a coerência é a base da inteligência (natural ou artificial), mas se ela é suficiente para sustentá-la. Inteligência é a capacidade de transcender a realidade e é nesse momento que tanto humanos quanto máquinas atingem seu maior potencial. É por ali, entre a estabilidade e a ruptura, que reside o verdadeiro ato de pensar.
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