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Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Opinião | Um mundo sem doenças precisa ser o objetivo da inteligência artificial

Atualmente a evolução dessa tecnologia está focada nas máquinas

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Foto do author Alexandre  Chiavegatto Filho

A história da sobrevivência humana no planeta Terra pode ser resumida como uma luta constante contra as doenças e a morte. Ao longo dessa batalha, cada nova descoberta tem nos aproximado de uma realidade futura em que o sofrimento e os agravos à saúde poderão ser significativamente reduzidos e, em alguns casos, até completamente erradicados.

A resistência contra as doenças começou com práticas místicas em civilizações como a egípcia e a babilônica, que posteriormente evoluíram para o estabelecimento das bases da medicina ocidental por Hipócrates na Grécia Antiga. Alguns marcos históricos importantes nessa jornada incluem o desenvolvimento da vacina contra a varíola por Edward Jenner em 1796 e a descoberta dos antibióticos por Alexander Fleming em 1928.

Foco das IAs deveria ser na saúde Foto: Gabriela Bilo/Estadão

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Os avanços científicos e tecnológicos ocorridos ao longo do século passado ajudam a explicar boa parte do crescimento inédito da expectativa de vida ao nascer, que mais do que dobrou durante o período, passando de 32 anos em 1900 para 66 anos em 2000.

Tudo indica que agora podemos estar iniciando uma nova era de avanços na saúde sem precedentes na história. A capacidade dos algoritmos de inteligência artificial (IA) de processarem e analisarem grandes conjuntos de dados poderá levar a diagnósticos cada vez mais rápidos e precisos, tratamentos personalizados e até a prevenção de doenças antes mesmo de elas se manifestarem.

O enorme conteúdo científico disponível online é um terreno fértil para que algoritmos de IA consigam identificar novas associações de fatores e fenômenos biológicos complexos, até então imperceptíveis para a mente humana.

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Na semana passada, um medicamento descoberto com IA que combate a fibrose, e possivelmente modula o processo de envelhecimento dos tecidos, passou com sucesso pela primeira fase do seu estudo clínico. A expectativa é que muitas novas descobertas começarão a aparecer em breve com o avanço da tecnologia.

Porém esse não será um desafio fácil de ser superado. Se tem algo que a história nos ensina é que o controle de alguns problemas de saúde costuma levar ao predomínio de outros, como foi o caso da queda das doenças infecciosas e consequente ascensão das doenças crônicas ao longo do século 20.

Embora os desafios de saúde pública possam ter mudado nos últimos séculos, com conhecimento científico, inovação e determinação, é possível que um dia conseguiremos superá-los. O caminho à frente pode parecer impossível, mas, olhando para o passado, podemos encontrar não somente esperança, mas também a inspiração necessária para seguirmos no caminho de um futuro cada vez mais saudável.

O fato é que não podemos desistir facilmente. Como disse uma vez Marie Curie, “nada na vida deve ser temido, apenas compreendido. Agora é a hora de entender mais, para que possamos temer menos.” Lutar contra as doenças é uma batalha que precisaremos vencer. Ou pelo menos morrer tentando.

Opinião por Alexandre Chiavegatto Filho

Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

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