A energia elétrica é um bem essencial, é o "sangue" da sociedade moderna e, com a eletrificação das frotas de automóveis, se tornará ainda mais importante. Há várias formas de se produzir energia elétrica. Uma delas é através da fissão nuclear. Esse é o processo utilizado em usinas nucleares, onde um isótopo de um material pesado, como o urânio, é partido e, ao ocorrer essa partição, uma quantidade grande de energia é liberada. Essa energia é convertida em energia elétrica nas usinas nucleares.
No entanto, o material gerado nesse processo é radioativo, o que cria um risco considerável para o meio ambiente e para a vida. Esse é o mesmo processo utilizado, por exemplo, na usina de Fukushima e na Usina de Chernobyl. Quando ocorre um acidente, o risco ambiental é gigantesco, as consequências são severas e duradouras, sendo que a radiação é invisível. Por essa razão, as usinas nucleares são fortemente combatidas por ambientalistas.
Nesse contexto, uma tecnologia vem ganhando muita atenção da comunidade científica, principalmente nas últimas décadas: a fusão nuclear. Trata-se do mesmo processo que gera a energia das estrelas, como o Sol. O funcionamento desse processo é similar ao da fissão, mas no sentido contrário: ao invés de partir um isótopo grande em partes menores, isótopos pequenos são fundidos em um elemento maior. Quando isso ocorre, a energia gerada é maior do que a resultante do processo de fissão, e o material resultante não é radioativo. Além disso, não há emissões de gás carbônico ou outros agentes prejudiciais na atmosfera. Portanto, trata-se de um processo com riscos ambientais muito reduzidos.
Então por que a tecnologia não é utilizada na produção de energia? A razão é simples: a quantidade de energia obtida a partir da fusão não superava a quantidade de energia colocada para se criar a fusão.
No entanto, no final de 2022, um avanço significativo foi anunciado pelo Lawrence Livermore National Laboratory (LLNL): uma técnica conseguiu obter mais energia com a fusão do que foi necessário utilizar para a ignição do processo. Apesar de a disponibilidade de energia elétrica produzida por esse método ser esperada apenas para 2035, a comprovação de sua viabilidade materializa uma nova alternativa.
Como ocorre com toda tecnologia, o custo inicial é elevado, mas pesquisas apontam para uma potencial redução de custos ao longo dos anos. A empresa Google, por exemplo, retomou há alguns anos experimentos com a fusão nuclear a frio. A fusão nuclear a frio é uma linha de pesquisas que busca o desenvolvimento de abordagens que permitam a realização de fusão nuclear à temperatura ambiente.
Caso as pesquisas com fusão nuclear a frio tenham sucesso, o custo da energia elétrica será reduzido drasticamente, o que traria um efeito disruptivo, pois democratizaria o acesso a diversos recursos que hoje não estão disponíveis para todos, tornando o mundo mais igualitário. Isso porque o custo da energia afeta o valor de tudo o que consumimos. Por essa razão, um percentual elevado do valor dos bens é na verdade devido ao custo da energia. Em torno de 23% do custo da cesta básica é devido ao custo da energia, ultrapassando 30% em vários alimentos. Por exemplo, do custo total do pão, biscoitos, açúcar e macarrão, a fatia é de 31%, 35%, 36% e 38%, respectivamente, de acordo com a Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres). Consequentemente, podemos dizer que o custo da energia afeta inclusive o acesso aos alimentos e, portanto, a fome no mundo. Por esse motivo, o genial e polêmico cientista croata Nikola Tesla idealizou e perseguiu formas de tornar a energia elétrica disponível e gratuita para todos. Será que algum dia estaremos mais próximos da realização do sonho de Tesla e a caminho de uma sociedade mais igualitária?
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