Para eles, o iPod era só um tocador de MP3. O iPhone, só um iPod que fazia ligações. O iPad, só uma versão gigante do anterior. Quem é fechado vê tecnologia como sinônimo de hardware. Em uma época em que a computa-ção era nicho de geeks que montavam as próprias máquinas, isso até fazia sentido. Mas não agora, quando a cultura digital se torna a oficial e a internet, aos poucos, muda praticamente tudo, das relações de trabalho ao consumo.
Por isso, a tecnologia, em si, é cada vez menos importante – e suas implicações sociais, econômicas e culturais, cada vez mais. A ficha técnica de um aparelho só é relevante na medida em que impede o aparelho de cumprir seu fim. O que não é o caso do iPad.
Para o usuário comum, tanto faz como ele funciona ou qual é sua capacidade, desde que ele cumpra seu propósito. Desde o iPod, a Apple entende que aparelhos não são só produtos, mas possibilidades. Seus lançamentos são esvaziados de características técnicas e inflados com conceitos. Isso se reflete até no design minimalista do iPhone, em que o dispositivo vira apenas uma moldura negra em volta da interface. O iPad não é só um tablet – é um volante de carro, um mapa ou o jornal do dia.
Da mesma forma, o iPod era a primeira vez que “mil músicas cabiam no seu bolso”, mas também inaugurava o primeiro modelo viável para a música digital. Se o iPhone popularizou o smartphone, o touchscreen e a economia dos aplicativos, a tendência é que o iPad intensifique isso.
A Apple está lançando uma reinterpretação do computador pessoal. E o mercado vai tentar superá-la – o que gera, sempre, evolução. Se você vai comprar ou não, é problema da Apple. Mas as coisas mudam a partir daqui.
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Reportagem publicada na versão impressa do caderno Link de 12/04/2010