SÃO PAULO – Quando modelos como Gisele Bündchen e Carol Trentini cruzarem as passarelas da São Paulo Fashion Week (SPFW), que começa hoje, elas exibirão as roupas que mostram as tendências para o outono/inverno 2015. Se antes era necessário aguardar a chegada de novas coleções às lojas para encontrar peças similares, agora a tecnologia pode ajudar fashionistas a localizar com apenas alguns toques no celular roupas com o mesmo tecido, cor ou modelo exibidos nas passarelas ou fora delas.
Novos apps como o Asap54, que será lançado hoje no Brasil durante a SPFW, estão ajudando a intermediar a relação entre lojas virtuais de roupas e o consumidor criando serviços que fazem pela moda o que apps como o Shazam, de identificação de áudio, fizeram pela música.
O Asap54, criado pela brasileira Daniela Cecílio, que mora em Londres, é um dos pioneiros no uso da tecnologia de reconhecimento de imagem para moda. A partir de uma foto tirada pelo usuário e inserida no app, o sistema identifica padrões de roupas, sapato ou bolsas e busca modelos semelhantes em lojas virtuais.
“Muita gente resolveu a questão da compra de artigos de moda pela internet, mas não a busca. Se eu vejo uma bolsa legal sendo usada por uma modelo, posso usar o aplicativo para buscar algo parecido”, diz Daniela.
O app também tem uma equipe de consultores que ajudam gratuitamente o usuário a encontrar a peça do seu desejo por meio de uma busca manual, com resultado em até 24 horas, caso ele não obtenha sucesso na busca pelo sistema.
O Asap54 foi lançado em março no mundo todo e recebeu investimento de US$ 3 milhões dos fundos e.ventures, Ceyuan e Novel TMT, além de um grupo de investidores-anjos. A startup tem parcerias com blogueiras, lojas brasileiras e internacionais, como Dafiti, Michael Kors e Nordstrom.
Só hoje, porém, a startup lança oficialmente o seu aplicativo no Brasil por meio de uma parceria com O Boticário, que vai divulgar a nova coleção da sua linha de maquiagens Make B pelo app. Cada vez que um usuário recorrer aos consultores para encontrar um look, a equipe vai retornar as sugestões mostrando, além de roupas, opções de maquiagem da linha.
As duas empresas trabalham para que em um futuro próximo o app já faça automaticamente a sugestão de maquiagem em qualquer busca. “Vimos a possibilidade de oferecer um mundo novo à consumidora, que é cada vez mais multicanal e busca interação”, diz Vanessa Gardano, gerente de marketing digital de O Boticário.
MercadoA Asap54 não está sozinha nesse mercado. Apps como o Snap Fashion, no Reino Unido, e Style-Eyes, da Irlanda, oferecem a mesma proposta. No Brasil, o Buscapé criou o concorrente Moda It com o serviço de comparação de preços para o mercado de moda.
“As pessoas não associam o Buscapé à moda, então criamos uma plataforma que agrega 250 blogs e 500 marcas com serviço de curadoria para as pessoas descobrirem onde as peças que elas gostam estão sendo vendidas”, diz Rodrigo Borer, presidente executivo do Buscapé.
O interesse pelo segmento vem do potencial de mercado de moda online. Segundo o relatório Webshoppers, da E.bit, esse setor teve, no ano passado, um crescimento de 28% no Brasil e lucrou R$ 28,8 bilhões. Para 2014, estima-se um aumento de 20% nas vendas online em território nacional, totalizando R$ 34,6 bilhões.
O site e aplicativo do Buscapé, por enquanto, só oferecem a sugestão de peças de looks criados por blogueiras. O motivo, segundo Borer, é o tamanho do desafio de criar uma tecnologia de busca por imagem “que atenda às expectativas do usuário”.
TecnologiaConseguir resultados precisos com o uso da tecnologia de reconhecimento de imagens ainda é uma realidade um pouco distante. No início do ano, por exemplo, a Amazon lançou seu Fire Phone destacando como uma das inovações do aparelho o reconhecimento de imagens. O dispositivo, porém, só é capaz de identificar superfícies planas, como capas de livros. Quando se trata de embalagens curvas ou texturas mais complexas, esses sistemas ainda são falhos.
Nos testes feitos pelo Link com o Asap54, o aplicativo foi capaz de encontrar algumas peças com cores e texturas semelhantes às das fotos usadas nos testes, mas nunca algo idêntico.
Na busca por um vestido tomara que caia preto de lantejoulas, por exemplo, o aplicativo retornou entre os resultados um vestido de estampa de oncinha e modelos diferentes, com a mesma cor do original.
“O reconhecimento de imagem é um desafio, porque tudo é feito por um cálculo matemático. Há questões que interferem nos resultados, como a qualidade da foto e a disponibilidade do item online”, diz Daniela.
Outro desafio são as culturas regionais. Dependendo do mix de lojas associados ao aplicativo, o sistema pode ser incapaz de encontrar uma roupa que represente a moda específica da um país. “Em uma foto limpa o app identifica a cor e textura. Ele também identifica um pouco do formato, mas não é 100%. Por isso criamos opções para a cliente refinar a busca”, explica Daniela. “No caso de estampas, consigo identificar alguns tipos de animal print e riscas largas, mas se for uma estampa pequena pode ter confusão”, explica.
Daniela diz que o trabalho de aprimoramento da tecnologia é contínuo, mas destaca que para a moda, o que conta mais é o conceito. “O que as pessoas buscam é uma inspiração. Estou sentada agora em um escritório que tem uma cadeira amarela maravilhosa. Posso tirar uma foto da cor e aplicar em qualquer roupa ou uma bolsa que eu gostaria de ter da mesma cor” diz.
A busca por imagem é um desafio até para o Google. No site do serviço Google Goggles a empresa diz que o reconhecimento de imagens funciona melhor com livros, obras de arte e textos, ou seja, figuras planas. Já para a moda, há um longo e promissor caminho pela frente.
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