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‘Brasil tem limitação de mercado de IA’, diz CEO de única startup nacional em ranking global

Criada por brasileiros, Tractian é única empresa de manufatura em lista da Forbes com as 50 startups mais importantes de IA em 2024

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Foto do author Bruna Arimathea
Foto: Divulgação/Tractian
Entrevista comIgor MarinelliCEO da Tractian

O Brasil ainda tem muitos aspectos para melhorar antes de prosperar no mercado de inteligência artificial (IA), mas o celeiro de talentos é grande por aqui, afirma Igor Marinelli, CEO da startup Tractian. A empresa apareceu em abril em um ranking da revista Forbes que listou as 50 startups de IA mais importantes de 2024.

A startup, que nasceu em 2019 pelas mãos de Marinelli e Gabriel Lameirinhas, é especializada em sensores de IA para indústrias e linhas de produção de fábricas. A companhia usa esses equipamentos para monitorar e antecipar possíveis falhas elétricas e mecânicas em maquinário industrial antes que parem de funcionar - a solução rendeu para a empresa o título de primeira startup de manufatura a ser incluída na lista da Forbes.

“É legal para a gente estar pavimentando para que futuras soluções também tomem esse cenário. Eu acho que estamos muito próximos do primeiro unicórnio industrial de manufatura”, explica Marinelli, em entrevista ao Estadão.

Apesar de ter sede em Atlanta, nos EUA, a empresa tem a alma brasileira dos fundadores e atende o País com um escritório em São Paulo - além da operação americana e no México.

Veja os melhores momentos da entrevista:

O que significa para a Tractian estar na lista da Forbes das 50 startups de IA mais importantes do mundo em 2024?

A coisa mais fantástica desta lista é que ela foi a primeira edição em cinco anos que incluiu a categoria industrial. O orgulho maior é que a categoria industrial de manufaturas finalmente foi inaugurada. Das 50 listadas, três eram industriais e, dessas, só nós somos manufatura, as outras são de robótica. Então é legal para a gente estar pavimentando (esse caminho), para que futuras soluções também tomem esse cenário. Eu acho que estamos muito próximos do primeiro unicórnio industrial de manufatura.

Como a Tractian incluiu a IA em suas soluções?

A gente nasceu com a tese de ser um copiloto industrial, mas em uma época infértil de tecnologias que pudéssemos utilizar. Então, a gente quebrou muito a cabeça para conseguir executar esse sonho, mas a tese nunca foi fazer o serviço (braçal) pelo cliente, mas fazer com que a tecnologia fizesse esse serviço para ele.

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Foi fácil trazer a IA para dentro dos produtos da empresa?

Achamos incrível quando o ChatGPT e as ferramentas de IA se popularizaram porque estávamos bem posicionados em termos de dados. Nós tínhamos todos os dados de funcionamento de máquinas e milhões de manuais de fabricantes que estavam prontos para ser processados. Faltava o modelo (de IA) e a gente estava construindo um próprio para ler isso quando chegou o ChatGPT e acelerou a nossa empresa.

O que a IA ainda pode acrescentar à indústria?

Hoje, por exemplo, a gente tem mais dados de como os motores operam do que o próprio fabricante que construiu o motor. Eu sei quais são as peças de desgaste, quais são os componentes, sei a expectativa de quando a quebra vai acontecer. O fabricante não faz a menor ideia porque só testou o produto dele em laboratório antes de entregar para o cliente. Então pensa no poder disso e o que a gente pode fazer no futuro com isso.

O Brasil tem capacidade de ter outras empresas em uma lista importante como a da Forbes?

Sim. O Brasil é um excelente formador em engenharias, um excelente formador em pesquisa e em desenvolvimento. A gente não perde em nada para os americanos aqui nesse sentido. Nós não temos uma limitação de talentos, temos uma limitação de mercado. O ativo brasileiro é fantástico, só que a economia brasileira ainda não acompanhou.

O que falta no Brasil para alcançar um patamar maior de desenvolvimento de IA nas empresas?

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Nos EUA, você tem todas as empresas afunilando dinheiro para as universidades, para que elas construam melhores talentos, gerando desenvolvimento para que esses talentos voltem para as empresas. O que estamos tentando fazer no Brasil é a mesma coisa e eu não estou vendo muitos exemplos bem-sucedidos disso.

As pessoas falam que tem que ser por meio do governo, isso e aquilo. Mas cadê a responsabilidade corporativa em formar os melhores talentos, em casar universidade com o mercado de trabalho o quanto antes para que eles possam ter essas experiências do mundo real? Acho que esse link é muito bem feito nos Estados Unidos e é insipiente, embrionário aqui. Às vezes a pessoa passa cinco, seis anos estudando e acha que não tem mercado porque nenhuma empresa bateu na porta da universidade ainda para falar sobre os desafios que eles têm dentro da empresa.

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