China pode recusar acordo do TikTok nos EUA, afirma jornal

Respondendo às divergências entre o controle majoritário da empresa, o jornal chinês Global Times afirmou que é improvável que Pequim aprove o acordo “injusto” que está sendo imposto ao TikTok

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Por Agências
Atualização:
O movimento visa pacificar a administração do presidente dos EUA, Donald Trump, que planejava banir o TikTok nos Estados Unidos por motivos de segurança Foto: Florence Lo/Reuters

Em meio ao imbróglio da negociação do TikTok, o jornal chinês Global Times afirmou nesta segunda-feira, 21, que é improvável que a China aprove um acordo "injusto" no caso do app nos Estados Unidos.

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Está em andamento nos Estados Unidos uma negociação entre o Tiktok, a Oracle e o Walmart para a criação de uma nova empresa, a TikTok Global.  O movimento visa atender às demandas da administração do presidente dos EUA, Donald Trump, que planejava banir o TikTok nos Estados Unidos por motivos de segurança.

A Oracle e o Walmart disseram que o negócio já estava acordado com a ByteDance, controladora chinesa do aplicativo, e que a participação majoritária do TikTok estaria em mãos americanas. Mas a ByteDance disse nesta segunda-feira, 21, que a TikTok Global seria sua subsidiária nos EUA com 80% de propriedade.

“É claro que os termos do acordo mostram extensivamente o estilo de intimidação de Washington. Eles prejudicam a segurança nacional, os interesses e a dignidade da China”, disse o jornal chinês em um editorial em sua edição em inglês publicado na noite desta segunda-feira. “Pelas informações dos EUA, o negócio foi injusto. Ele atende às demandas irracionais de Washington. É difícil para nós acreditar que Pequim vai aprovar tal acordo”.

Hu Xijin, editor-chefe do jornal, chegou a comentar o assunto no Twitter na noite desta segunda. Respondendo aos comentários que Trump fez ao canal de TV Fox News sobre como a TikTok Global seria “totalmente controlada” pela Oracle, ele disse: “Pare de extorquir. Você acha que o TikTok é uma empresa de um país pequeno? Não há como o governo chinês aceitar sua demanda. Você pode arruinar os negócios do TikTok nos Estados Unidos, se os usuários dos EUA não se oporem, mas você não pode roubá-lo e transformá-lo em um bebê americano”.

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O Global Times é um tablóide publicado pelo People’s Daily, o jornal oficial do Partido Comunista da China, mas não fala em nome do partido e do governo ao contrário de sua publicação original.

O governo da China se absteve de comentar diretamente sobre os detalhes do negócio, embora o Ministério das Relações Exteriores tenha dito que os Estados Unidos deveriam oferecer um ambiente justo e não discriminatório para as empresas estrangeiras.

A agência de notícias Reuters relatou este mês, citando fontes, que Pequim se opôs a uma venda forçada das operações do TikTok nos Estados Unidos pela ByteDance e preferia ver o aplicativo de vídeo curto encerrado nos Estados Unidos.

Segundo a ByteDance, o acordo ainda requer a aprovação dos reguladores de Pequim e Washington. O Ministério do Comércio da China revisou, no final de agosto, uma lista de controle de exportação de tecnologia que, segundo especialistas, lhe daria supervisão regulatória sobre qualquer negócio da TikTok. A ByteDance e o Ministério do Comércio não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

Principais objeções

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Neste último fim de semana, ByteDance, Oracle e Walmart disseram que chegaram a um acordo que atenderia ao apelo de Trump para que o TikTok fosse vendido para uma empresa americana a fim de garantir a permanência de sua operação nos Estados Unidos. No entanto, os lados definiram o negócio de maneira diferente em declarações públicas.

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Enquanto a ByteDance disse que será proprietária majoritária da TikTok Global, a Oracle e o Walmart disseram que a propriedade da ByteDance seria distribuída a seus investidores — muitos dos quais estão sediados nos EUA — e que a própria ByteDance não teria nenhuma participação direta. Eles também disseram que quatro dos cinco membros do conselho da TikTok Global seriam americanos.

O editorial do jornal Global Times se opôs à existência de apenas um assento no conselho reservado para um cidadão chinês, bem como à inclusão estipulada no conselho de um "diretor de segurança nacional" aprovado pelos EUA. Ele também denunciou a necessidade da ByteDance revelar seus algoritmos para a Oracle como parte do papel de "parceiro de tecnologia confiável" e criticou a probabilidade de a TikTok Global bloquear o acesso chinês ao seu aplicativo.

O TikTok, porém, nunca esteve disponível na China. No país asiático, está disponível um app equivalente da rede social de vídeos curtos, chamado Douyin. Nos EUA, o TikTok tem mais de São mais de 100 milhões de usuários ativos mensais.

“Como TikTok e Douyin devem ter o mesmo código-fonte, isso significa que os EUA podem conhecer as operações de Douyin”, disse o Global Times. “Se a reorganização do TikTok sob a manipulação dos EUA se tornar um modelo, isso significa que uma vez que qualquer empresa chinesa de sucesso expandir seus negócios para os EUA e se tornar competitiva, ela será alvo dos EUA e se tornará uma empresa controlada pelos EUA por meio de trapaça e coerção”.

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A ByteDance, sediada em Pequim, tem apenas dois cidadãos chineses em seu conselho de cinco membros, com os outros três sendo estrangeiros dirigindo empresas sediadas nos Estados Unidos. 

Promessas

Mesmo enquanto os envolvidos discutem sobre quem será o proprietário do TikTok Global, outra questão surgiu depois que Trump concordou no fim de semana em manter o popular aplicativo funcionando nos Estados Unidos por mais uma semana: como ele criará 25 mil novos empregos no país?

Essa promessa, repetida pelo presidente no sábado, 19, em um comício de campanha na Carolina do Norte, era parte de uma concessão que os compradores ofereceram para convencer Trump a aprovar a transação para a criação da TikTok Global.

Mas especialistas afirmam que a meta elevada de contratações será difícil de executar. Um número tão alto sugere uma expectativa de crescimento maciço da receita em um momento em que o TikTok enfrenta desafios globais sem precedentes.

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Se o TikTok operasse com uma eficiência mais próxima à de outras empresas de internet, como o Twitter, a empresa precisaria aumentar sua receita em até 19 vezes nos próximos anos. Espera-se que o TikTok gere cerca de US$ 1 bilhão em receita até o final de 2020, informou a agência de notícias Reuters anteriormente.

Muitos dos novos empregos nos EUA provavelmente serão em funções de engenharia, moderação de conteúdo e segurança, dado o foco intenso do governo nas políticas de privacidade de dados do aplicativo, disse Dan Ives, analista de tecnologia da Wedbush Securities.

“De uma perspectiva de segurança e infraestrutura, eles terão que contratar milhares de pessoas para se concentrar nessa questão, dada sua sensibilidade”, disse ele.

Além disso, fica mais difícil justificar uma equipe maior. Como a ByteDance ainda possuirá o algoritmo do TikTok e o licenciará para a nova empresa com sede nos Estados Unidos, ela não precisará contratar grandes equipes que trabalham com inteligência artificial.

A Oracle e o Walmart também podem criar divisões dentro de suas empresas para atender ao TikTok, o que pode contribuir para a contagem de empregos, disse Abishur Prakash, futurista geopolítico do Center for Innovating the Future, uma empresa de consultoria em tecnologia e geopolítica.

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Uma fonte familiarizada com as discussões do acordo disse que o número de 25 mil empregos foi baseado em organizações de tamanho semelhante que atendem a tantos usuários quanto o TikTok, sem dar mais detalhes. A fonte acrescentou que o número de empregos era, na verdade, conservador em um esforço para prometer pouco e entregar muito.

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