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Cinco anos após privatização, Telesp lidera rentabilidade

Grupo espanhol já recebeu quase a metade do que investiu para a compra da antiga Telesp sob a forma de dividendos ou juros sobre o capital próprio, nos últimos cinco anos

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Por Agencia Estado
Atualização:

O grupo espanhol Telefónica já recebeu quase a metade do que investiu para a compra da antiga Telesp sob a forma de dividendos ou juros sobre o capital próprio, nos últimos cinco anos. A Telefónica desembolsou R$ 5,7 bilhões no leilão de privatização para adquirir o controle da empresa de telefonia fixa que atendia ao Estado de São Paulo, o que equivalia a US$ 4,9 bilhões, ao câmbio da época. Desde então a Telesp Operacional, parte da empresa que continuou atuando na telefonia fixa, já que a parte de telefonia móvel foi adquirida pela Portugal Telecom, já pagou ou provisionou para pagar este ano o equivalente a US$ 2,3 bilhões sob a forma de dividendos, sendo que a quase totalidade vai para o grupo espanhol, detentor de 87% das ações da antiga Telesp. Ou seja, em cinco anos, a empresa teve o retorno de 41,1% do capital investido, em dinheiro vivo. A antiga Telesp tem sido pródiga na distribuição de dividendos, que representou quase 77% do lucro líquido contabilizado nos últimos cinco anos. Em 1998, por exemplo, para um lucro líquido equivalente a US$ 860 milhões, a empresa pagou aos acionistas US$ 600,6 milhões, o que representou 70% do total. Em 1999 a distribuição foi ainda mais farta, em termos proporcionais, atingindo US$ 548 milhões para um lucro líquido de US$ 411 milhões, ou o equivalente a 133,3% de distribuição. Para este ano, a empresa previu o pagamento de US$ 290,6 milhões sob a forma de dividendos, o que representa 95% do lucro líquido de US$ 305 milhões. Pelos dados da Economática, o valor de mercado da empresa estaria atualmente em torno de US$ 5,4 bilhões. Outro trunfo forte do grupo espanhol é que controla 50% da Vivo, em joint venture com a Portugal Telecom. A nova empresa tem abrangência nacional e lidera, de forma isolada, o setor de telefonia celular no Brasil, especialmente nas regiões mais dinâmicas, como São Paulo e Rio de Janeiro. São posições que poucos grupos internacionais conseguiram em tão pouco tempo e com amplas perspectivas de ampliação de negócios. Embratel Enquanto os espanhóis desfrutam do excelente retorno para o seu investimento, o mesmo não acorre com os norte-americanos da MCI/WordCom que compraram a Embratel. Vista como a "jóia da coroa" do antigo sistema Telebrás, a ex-estatal acumulou prejuízos nos dois últimos anos e só remunerou os acionistas nos três primeiros anos, com o pagamento de US$ 269 milhões sob a forma de dividendos ou juros sobre o capital próprio. Pelos cálculos da Economática, considerando as cotações atuais, a empresa valeria em torno de US$ 800 milhões, bem abaixo dos US$ 2,3 bilhões que os norte-americanos pagaram para assumir o controle da operadora de longa distância no leilão de privatização de 1998. Nos dois últimos anos a Embratel operou com prejuízo, principalmente por conta de "calote" de clientes e ao peso de uma dívida contabilizada em dólares. Em 2001 os prejuízos totalizaram US$ 238 milhões e outros US$ 177 milhões no ano passado. A empresa foi a que menos investiu na ampliação dos serviços e viu o seu espaço ser crescentemente ocupado pelas concorrentes. Assim é que perdeu a exclusividade nos serviços de longa distância nacional e internacional e no tráfego de dados sofre concorrência cada vez mais feroz, das concessionárias fixas, como Telesp, Telemar e Brasil Telecom. Além de ser "comida pelas bordas" pelas concorrentes, a Embratel está praticamente de fora do segmento de telefonia móvel, o mais promissor a médio e longo prazo, na avaliação dos principais atores desse setor. A empresa não comprou licenças para operar na telefonia celular e não fez nenhum acordo com outras empresas para permitir ampliar as suas atividades nessa área. As incursões na telefonia local, por sua vez, continuam relativamente tímidas, com a empresa jogando boa parte do seu futuro na capacidade de sensibilizar as autoridades governamentais para impedir o "monopólio privado" na telefonia local. Para isso joga pesado na regulamentação do setor, tentando reduzir drasticamente os chamados custos de interconexão, que são as instalações realizadas pelas empresas de telefonia fixa levando o fio telefônico até às residências dos brasileiros. Dependendo da regulamentação final da questão da interconexão, a Embratel pode ver os seus problemas se agravarem no futuro próximo. Telemar A Telemar acredita que um dos fatores que os antigos condutores do programa de privatização dos serviços de telecomunicações no País (o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e o ex-presidente do BNDES, André Lara Resende) viam como "problema", possa se transformar em vantagem. A Telemar foi a única empresa a não ter um sócio estrangeiro no grupo de controle, o que irritou os condutores do programa de privatização, que consideravam vital que as grandes operadoras nacionais tivessem um "operador estratégico com experiência internacional". O mundo muda e com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a empresa tem a esperança de se tornar a "queridinha" do governo justamente por ser 100% brasileira. Até porque conta com forte participação do Estado entre os seus controladores, inclusive o BNDES. Aos trancos e barrancos, a empresa conduziu o mais ousado e mais confuso programa de investimentos do setor, investindo R$ 10 bilhões em um único ano (2001), com a esperança de poder operar em outros mercados (telefonia de longa distância nacional e internacional, além da transmissão de dados) e em outras praças, especialmente em São Paulo. Esses investimentos garantiram à empresa a liderança nacional em termos de terminais instalados, com 17,5 milhões telefones em serviços na telefonia fixa e outros 2 milhões de telefonia móvel. Se cada linha desta valer os US$ 781 que o próprio grupo pagou para incorporar a Oi (a telefonia fixa comprou a unidade de telefonia móvel), o preço de mercado do grupo todo estaria próxima de US$ 15 bilhões. Considerando que os controladores pagaram apenas US$ 2,949 bilhões pelo controle da empresa, pode-se concluir que esse foi um dos melhores negócios do programa de privatização do País. Em termos de resultados financeiros, os lucros não têm sido elevados e a empresa contabilizou prejuízos no ano passado. Nos últimos cinco anos os lucros acumulados somaram US$ 504 milhões, mas a empresa distribuiu ou US$ 940 milhões para o pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio. Além disso, os cinco grupos que controlam a Telemar firmaram um acordo de gestão com a empresa, que lhes garante uma remuneração a título de "contrato de gestão", equivalente a 0,5% da receita líquida, com esse percentual devendo cair para 0,2% a partir deste ano (de 1998 a 2000 essa remuneração foi equivalente a 1% da receita líquida). O pesado endividamento, com a dívida líquida superior a R$ 10 bilhões, é um dos grandes problemas do grupo Telemar. Além disso, por atuar em algumas das áreas mais pobres do País, como o Nordeste brasileiro, a empresa tem de oferecer serviços onde muitas vezes o retorno não é satisfatório. Até agora, porém, a empresa conseguiu manter a sua dívida em patamares negociados com os bancos e a perspectiva de redução dos juros taxa Selic pode garantir excelentes ganhos, aliviando o seu pesado endividamento. A recente operação de compra da Oi (telefonia celular do grupo), apesar de polêmica, foi avaliada como trazendo mais benefícios que prejuízos aos grupos, especialmente devido aos ganhos fiscais imediatos. Brasil Telecom Os executivos da Brasil Telecom insistem em dizer aos analistas para que avaliem os números da empresa, para dizer se ela está indo bem ou não. A empresa é a menor das três grandes concessionárias, dispõe de 10,6 milhões de terminais de telefonia fixa instalados, enquanto a Telesp tem 13,2 milhões e a Telemar 17,5 milhões, e apresenta dois grandes problemas, na avaliação de analistas: um acordo acionário confuso e com possibilidade de instabilidade, e ainda não se posicionou de forma definitiva na disputa do mercado de telefonia celular. Apesar de o grupo de Daniel Dantas controlar empresas de telefonia celular em Minas Gerais e no Norte do País e ter adquirido licença de telefonia móvel para atuar na sua área de concessão de telefonia fixa (região Sul e Centro-Oeste, além de Brasília), ainda não está claro como será a integração das diversas operações. Outra decisão vital é quanto à opção tecnológica no braço de telefonia celular. Enquanto a Telemar, a TIM o grupo Telecom Americas optou pelo serviço GSM e a Vivo (Telefônica/Portugal Telecom) pelo sistema CDMA, o grupo Opportunity faz mistério quanto à sua escolha e ainda não anunciou formalmente quando irá ativar o serviço de telefonia celular na sua área de concessão. Os executivos do grupo dizem que será em breve. As relações conflituosas de Dantas com os fundos de pensão, especialmente a Previ, dificilmente facilitarão os novos passos e essa questão terá de ser administrada com maestria para evitar danos maiores. Em termos de números, especificamente, os dados da Brasil Telecom não chamam muito a atenção, nem por serem ruins ou por serem excelentes. Nos cinco anos após a privatização, a empresa contabilizou lucro líquido acumulado de US$ 843 milhões e distribuiu ou provisionou dividendos e juros sobre capital próprio de US$ 476 milhões. Ou seja, os dividendos pagos ou provisionados representam pouco mais de 56% dos lucros líquidos, indicando uma "fome" menor pela distribuição de resultados. Com base nas cotações nas bolsas de valores, a empresa poderia ser adquirida pelo equivalente a US$ 2,7 bilhões. Na época da privatização os seus controladores pagaram o equivalente a US$ 1,778 bilhão, o que indica que a posição atual é lucrativa. Além disso, pelo critério de terminal instalado, a companhia seria avaliada por mais de US$ 10 bilhões, considerando o valor de US$ 781 por terminal que a Telemar pagou pela Oi.

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