Sempre que algo surge, a história se repete. Em 2006, muitos diziam: Facebook é apenas para estudantes. Em 2015: LinkedIn só serve para procurar emprego. Em 2019: TikTok só tem dancinhas. Em 2023: Threads é o próximo Clubhouse. Toda novidade gera debates sobre o seu potencial. E para muita gente, a atual aposta de Zuckerberg chegou com tamanha força tão somente para desaparecer na irrelevância cultural.
Fato é que o Twitter está pronto para ser desafiado há anos. Já houve tentativas, mas nenhuma chegou perto de rivalizar com a rede social de Elon Musk. Agora, porém, a Meta entrou nesse jogo, fez o Threads obter 100 milhões de usuários em cinco dias e tornou real a possibilidade de alguém virar o próximo Twitter.
Dessa vez, no entanto, a estratégia foi diferente. Ao alcançar em menos de uma semana o mesmo número de usuários que o ChatGPT alcançou em dois meses, além do Threads ter se tornado o app com crescimento mais rápido da história, a Meta provou que é possível pegar a comunidade de uma plataforma já existente e transferi-la para uma nova. Isso é diferente de simplesmente copiar um recurso, como stories, shorts ou reels. O plano de Zuckerberg foi usar a base de usuários do Instagram para alimentar a construção do Threads.
Claro que isso não garante vida longa à nova rede social. Até porque a Meta já fracassou em ataques aos seus concorrentes no passado. Em 2010, por exemplo, lançou o Facebook Questions, parecido com Quora e Reddit. Em 2012, foi a vez do Poke, que copiava o Snapchat. Em 2015, anunciou o Riff, serviço similar ao Vine, bem popular na época, para as pessoas produzirem vídeos colaborativos. Em 2017, tentou o Bonfire, bate-papo em grupo idêntico ao Houseparty. Todas essas iniciativas duraram pouco.
Mas meu ponto aqui é outro. Sob o aspecto da adesão de usuários, os resultados do Threads são tão desproporcionais que não há nada comparável na história da internet. Isso, obviamente, colocou um holofote na estratégia bem-sucedida de Zuckerberg e fez muita gente refletir sobre as possíveis consequências. Veja... O que impediria Elon Musk de estar desenvolvendo, nesse exato momento, um app concorrente ao Instagram em que as pessoas, durante o cadastro, importam suas comunidades já existentes no Twitter para dentro dessa nova ferramenta? E por que Pinterest, LinkedIn, YouTube e outras redes sociais não podem estar fazendo o mesmo?
Esse movimento do Threads abriu um potencial enorme para presenciarmos uma guerra de clones jamais vista.
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