Há meses a rotina de Ana Paula Craveiro, do Rio de Janeiro, é a mesma. Toda vez que a jovem posta uma foto nos Stories do Instagram, contas fake aparecem aos montes, curtindo suas postagens - às vezes, são perfis estrangeiros ou com bios que sugerem conteúdo impróprio. O perfil é sempre muito parecido. O que Ana tem passado não é raro. Relatos de diferentes usuários do Instagram mostram que a importunação ocorre em larga escala e de forma cada vez mais intensa.
As páginas, quase sempre, apresentam indícios de serem bots - ou seja, robôs que executam tarefas de forma automatizadas. Em sua maioria, estes usuários apresentam na bio - espécie de descrição das contas do Instagram - links para sites com conteúdo pornográfico. A prática aponta para o golpe de phishing, quando usuários são induzidos a clicar em um link que os leva para sites onde pode ocorrer roubo de dados ou instalação de vírus nos dispositivos.
“Só bloqueio às vezes, porque como tem (curtidas nos Stories) todo dia, acaba sendo cansativo”, explica Ana, que diz conhecer diversos outros usuários que passam pelo mesmo problema. “Eu fiz um tuíte e mais de mil pessoas concordaram (que também tinham passado pela mesma situação)”.
A situação é a mesma de Bruna Brasão, de Blumenau (SC), que diz sofrer com os bots. Porém, diferentemente de Ana, ela diz que nunca conseguiu identificar um padrão nos ataques. As curtidas, diz ela, ocorrem em publicações aleatórias nos seus Stories.
Apesar das denúncias, essas contas se replicam e continuam a causar dor de cabeça nos usuários. Muitas vezes, usando expressões, espaçamento e emojis, que fogem do controle das normas de uso da plataforma.
“O que acontece é que as medidas (de segurança das plataformas) se baseiam, principalmente, em inteligência artificial (IA), e as pessoas que fazem esses bots conseguem, de certo modo, contornar a a tecnologia”, explica Guilherme Klafke, pesquisador do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP.
Instagram pede colaboração de usuários
Questionada, a Meta, dona do Instagram, afirmou em nota que dedica “recursos significativos para combater perfis que promovam este tipo de comportamento” nas suas plataformas. Segundo a empresa, quando os bots são detectados, são consideradas “todas as opções aplicáveis, incluindo a suspensão e remoção das contas”.
Além disso, a Meta diz que encoraja “as pessoas a denunciarem quaisquer contas ou atividades suspeitas no Instagram por meio das nossas ferramentas de denúncia”. Apesar disso, os relatos dão conta de que denunciar estes perfis tem pouco ou nenhum efeito prático, já que as contas se replicam e continuam com as ações.
Para Klafke, as ações tomadas pela empresa, assim como de outras plataformas, está longe de ser suficiente. Segundo ele, as ferramentas para denúncia poderiam ser facilitadas para os usuários, com a possibilidade de se denunciar que tipo de ataque está sofrendo para, assim, tentar uma abordagem mais eficiente contra os ataques.
Além disso, ele menciona a necessidade de se ater a outras regras de segurança, como cuidado com fotos sensuais, que podem ser roubadas e usadas em bancos de imagem, além de evitar interagir com contas fake, tanto as que reagem em Stories, mas também aquelas que comentam em fotos ou fazem marcações em publicações.
“A gente tem que fazer essas contas não terem reações, que as reações delas sejam só os próprios bots. É uma cultura de não interagir com essas contas, não clicar no link, não curtir postagem de robô”, defende.
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