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BBB 24: voto com CPF joga luz sobre combate aos bots na internet

Estratégia de identificação por documento do Big Brother Brasil é ideia antiga e já foi discutida até no PL das Fake News

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Foto do author Bruna Arimathea

O reality Big Brother Brasil, sucesso da TV Globo desde 2002, sempre teve engajamento do público, mas foram as últimas edições que registraram participações recordes do telespectador. Os paredões — eliminações em que o público escolhe quem fica e quem sai da casa — já chegaram a registrar mais de 1 bilhão de votos e, agora, passam por uma nova mudança para quem acompanha o programa: para escolher quem sai do reality, será necessário informar o CPF na hora da votação pelo site do programa.

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A votação mediante a “apresentação” de documentos vai acontecer parcialmente, mas a ideia é que em uma determinada etapa do paredão cada pessoa possa fazer a escolha apenas uma vez, ao contrário dos votos em massa realizados pelo mesmo indivíduo durante os mutirões vistos nas últimas temporadas do reality. Isso pode ajudar a tornar o processo mais autêntico, dando “poder” também para um nicho fora dos fã-clubes de participantes.

O paredão com maior número de votos da história, por exemplo, sofreu esse efeito - a ocasião foi na edição de 2020, na disputa entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez, quando a Rede Globo registrou mais de 1,5 bilhões de votos (1.532.944.337, mais especificamente). Os números foram inflados pela rivalidade entre Manu e Prior, que levou os fãs a entrarem em uma maratona de votos.

Agora, com o CPF na jogada, esses números podem ser diferentes e o novo método promete acender a discussão sobre a identificação oficial de usuários na internet, uma conversa que rondou a rede nos últimos anos.

Tiago Leifert apresenta o paredão entre Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez, que bateu recorde de votos com mais de 1,5 bilhão de votos  Foto: Reproducao/TV GLOBO

Como vai funcionar?

A votação não será inteiramente por CPF. Para este ano, a emissora estipulou duas fases de participação do público. Uma delas será como tem sido nos últimos anos: o espectador poderá acessar o site do programa e votar quantas vezes quiser em um participante. Esse processo agora se chama “Voto da Torcida”.

A outra etapa terá a identificação pessoal em que cada voto deverá passar por um cadastro na plataforma, chamada de “Voto Único”. Com a informação do CPF, cada conta só poderá registrar um voto por paredão. Ainda será necessário um login e a Globo afirmou, pelo seu site de entretenimento, o GShow, que o documento vai passar por uma validação antes do voto ser registrado.

Menores de 16 anos que quiserem votar vão precisar indicar um adulto responsável pela conta, uma medida tomada pela empresa para estar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD.

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A Globo ainda anunciou que cada etapa da votação terá peso de 50% no resultado final, mas ainda não está claro quanto tempo cada fase deve durar — os períodos devem aparecer como surpresas ao longo do programa.

A ação é uma forma de diminuir, ao menos em parte, supostas votações artificiais feitas por bots - uma reclamação comum entre fãs nas últimas temporadas. No GShow, a Globo afirmou que não tem nenhum indício de “votos realizados por robôs, ou quaisquer outros mecanismos de fraude, que impactem a dinâmica do programa, e qualquer tentativa de automação de votos estaria sujeita às validações de controle e segurança, que são aplicadas no processamento de cada um dos votos”.

A reportagem entrou em contato com a Rede Globo para comentar o assunto, mas não obteve resposta até a conclusão desta matéria.

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Ainda que a empresa negue a existência do problema em um de seus principais programas, a ação de bots é um processo bastante comum na rede. E por isso, a exigência de CPF e login é bem-vinda. “Quando você põe algum tipo de proteção como, por exemplo, uma conta, já complica muito a vida do pessoal (que cria bots)”, afirma Carlos Rafael Neves, professor do curso de Ciências de Dados e Negócios da ESPM, em entrevista ao Estadão.

De acordo com Neves, bots trabalham principalmente com métodos de tentativa e erro para identificar o Captcha — aquela trava de segurança que geralmente pede para o usuário identificar imagens semelhantes. Adicionar uma barreira como o CPF, então, dificulta a ação desse tipo de software.

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Identificação com CPF ajuda a eliminar bots?

A ação para o BBB não é a única discussão em relação a um tipo de identificação verificada na internet — na verdade, esse momento representa a chegada do mainstream do assunto. Em um dos textos do PL 2630/2020, o PL das Fake News, o deputado Orlando Silva (PC do B) propôs que o acesso a redes sociais no Brasil também fosse feito mediante a uma autenticação do usuário, com documentos como RG ou CPF.

A medida entrou em discussão como uma forma de impedir perfis falsos e bots de agir de má-fé nas redes sociais, seja na disseminação de desinformação, notícias falsas ou em ataques coordenados com discurso de ódio.

O texto, porém, não foi para frente e não foi considerado viável pelos outros membros da comissão que analisaram a proposta. Algumas das questões levantadas foram a dificuldade de se exigir a verificação dos usuários pelas empresas, que não são brasileiras, e a exclusão de parte da população que não tem documentos no País — mais de 2,7 milhões pessoas não tiveram acesso a um registro oficial e permanecem sem certificado de nascimento, RG ou CPF, de acordo com o Censo 2022.

Antes do deputado, o bilionário Elon Musk também olhou para a identificação humana na guerra contra os bots. Antes de comprar o Twitter, em abril de 2022, ele afirmou que tentaria autenticar todos os humanos na plataforma para combater o problema, algo que ainda não ocorreu.

Para Marcelo Crespo, professor de direito digital da ESPM, impor uma identificação obrigatória por documentos às redes sociais é inviável, mas que tornar o cadastro com CPF uma barreira de segurança para ações como a votação do BBB, por exemplo, pode ser uma forma de garantir uma participação verídica do público no programa.

“A identificação com CPF pode ajudar a diminuir o número de votantes indiscriminados no Big Brother, por exemplo. Por outro lado, isso reduz e muda o jeito das pessoas votarem. Quando você limita esse número, você torna a votação mais justa mas, ao mesmo tempo, acaba tornando a votação mais burocrática. Esse é um dilema que a Rede Globo pode ter”, explica.

O que ainda não é possível saber é se a mudança no maior reality show do País poderá influenciar os rumos das redes sociais por aqui. O jeito é dar uma espiadinha nesse paredão.

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