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Brasil bate pico de tráfego de internet, mas infraestrutura de rede está preparada

Em meio à crise do coronavírus, volume de dados chegou a 10 terabits por segundo; operadoras pedem uso responsável, enquanto especialistas afirmam que aumento da demanda pode ser suportado

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Foto do author Circe Bonatelli
Foto do author Bruno Romani
Por Anne Warth, Circe Bonatelli (Broadcast), Bruno Romani, de Brasília e de São Paulo

O aumento no número de pessoas que estão sem sair de casa para trabalhar e se divertir, devido ao avanço do novo coronavírus no País, está provocando alta no tráfego de internet nacional. Nas noites dos últimos dias 18 e 19 de março, o País bateu recorde em volume de dados, com 10 terabits sendo enviados por segundo (Tb/s), segundo dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Enquanto as operadoras ponderam que a capacidade das redes não é infinita e já pedem “uso responsável” aos usuários, especialistas e entidades do setor afirmam que o crescimento até aqui é residual e a infraestrutura está preparada para aguentar a alta na demanda. 

Segundo Milton Kaoru Kashiwakura, diretor de projetos especiais e desenvolvimento do NIC.br, entidade que supervisiona a governança da internet no País, o uso de dados aumentou entre 5% e 10% ao longo do dia desde a semana passada. “O pico de 10 Tb/s aconteceu num momento em que, por conta do covid-19, mais pessoas passaram a acessar a internet para fins como trabalho remoto, estudo à distância e busca por entretenimento”, afirma. “Mas não deve ser visto de forma isolada, porque o crescimento tem sido uniforme nas últimas semanas.” 

Segundo especialistas, infraestrutura da rede está preparada, mas podem ocorrer instabilidades em diferentes bairros Foto: Reuters

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Já de acordo com Julio Sirota, gerente de infraestrutura do IX.br, entidade do NIC.br responsável por criar infraestrutura para trocas de dados entre as redes das operadoras e de grandes empresas, o tráfego dos últimos dias se assemelha a de um fim de semana, com bastante demanda por streaming de vídeo. 

Sob controle

Sirota avalia que é pouco provável que o volume de tráfego exploda nos próximos dias. “As pessoas não vão passar a consumir duas ou três vezes mais tráfego. Já recebemos pedidos dos provedores de conteúdo para aumentar a capacidade, mas essas empresas sempre se antecipam a possíveis aumento de demanda.” 

A antecipação da demanda é algo que as operadoras também fazem, afirma Giuseppe Marrara, diretor de relações governamentais da fabricante de equipamentos para telecomunicação americana Cisco. “Com ou sem coronavírus, o tráfego de rede cresce de 20% a 30% por ano, então as operadoras trabalham com capacidade que se antecipa à demanda de seis a doze meses”, afirma. 

A visão é compartilhada pelas empresas que constroem e mantêm as redes em funcionamento. “Notamos um aumento no tráfego de dados, mas até aqui é um volume residual. Não vemos risco imediato para os próximos dias”, diz diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Empresas de Soluções de Telecomunicações e Informática (Abeprest), Helio Bampi – a entidade atua na instalação e manutenção de redes de fibra óptica e antenas de 3G e 4G no País. 

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O que pode acontecer, segundo Marrara, é que pontualmente pode haver problemas, especialmente em bairros residenciais. “A demanda que existe em centros preparados para alto volume de tráfego, como a região da Avenida Paulista, vai se diluir em outros pontos da cidade que podem não ter a mesma infraestrutura”, diz. Na visão do executivo da Cisco, as operadoras têm habilidade para fazer a gestão da rede. “É possível identificar pontos que estão consumindo muita banda além do normal e baixar sua capacidade para garantir que todos possam usar a rede.”

De acordo com a Associação NEO, que reúne prestadoras de pequeno porte, os associados já perceberam aumento no tráfego de suas redes nos últimos dias – no interior do Rio de Janeiro, um deles já registra alta de 25% em relação ao dias pré-pandemia. As empresas também observaram uma migração do tráfego de internet das redes móveis para a internet fixa. 

“Até agora, as operadoras têm absorvido bem essa demanda”, disse o diretor-geral da Associação NEO, Alex Jucius. Ele afirma que a associação está em contato direto com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para adotar medidas de garantia da qualidade de rede e serviço.

Na tarde desta sexta-feira, 19, o Sinditelebrasil, que reúne as principais operadoras do País, divulgou comunicado pedindo aos usuários “uso responsável” das redes, evitando sobrecargas. “Os recursos de rede não são infinitos”, disse a entidade, em comunicado enviado à imprensa. O grupo, formado por Algar Telecom, Claro, Nextel, Sercomtel, Oi, TIM e Vivo, também vai se reunir em um comitê de crise para alinhar prioridades e medidas, incluindo a conectividade de hospitais, unidades de saúde e estações de telecom, que controlam e distribuem o tráfego e as antenas. 

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O posicionamento de “uso responsável” segue recomendação da Associação Interamericana de Empresas de Telecomunicações (Asiet), a qual pertencem Vivo e Claro, pedindo a usuários para priorizar home office e estudos em horário comercial, deixando atividades de lazer para a noite. Usar redes fixas em detrimento das móveis, preferir ferramentas colaborativas sem vídeo e fechar páginas que não estejam em uso também são algumas das orientações. 

Definição padrão

Para manter a qualidade do serviço, recomendações mais duras já foram adotadas na Europa. Na Espanha, em quarentena desde 15 de março, a Telefónica pediu para a seus clientes que priorizem o uso da internet para quem trabalha ou estuda em casa durante o dia e chegou até a sugerir o uso do telefone fixo. A União Europeia também pediu a empresas de vídeos – como Netflix, YouTube e Amazon Prime – para que reduzissem a qualidade de suas transmissões, a fim de não sobrecarregar as redes. 

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A medida foi acatada pelas companhias. A Netflix, por exemplo, vai reduzir a transmissão de dados em até 25%, conforme perceber a demanda das redes. Procurada pelo Estado, a empresa enviou posicionamento dizendo que não descarta adotar a prática pelo mundo. “Trabalhamos com governos de todo o mundo e aplicaremos as mudanças conforme for necessário em outros lugares”, diz a nota. Já o YouTube diz que as medidas por enquanto só valem para a UE – pelos próximos 30 dias, os europeus não terão vídeos em alta definição ou 4K, assistindo as imagens na chamada definição padrão (480p).

Na visão de Marrara, da Cisco, o streaming não preocupa. “As empresas já fazem essas medidas de redução de qualidade normalmente, conforme percebem instabilidades na rede”, diz. “O mais difícil será lidar com o upstreaming, isto é, com as pessoas transmitindo conteúdo para a rede.” / COLABOROU BRUNO CAPELAS, DE SÃO PAULO

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