Ex-CEO do Google e veterano do Vale do Silício, o empresário americano Eric Schmidt acredita que o Brasil precisa de mais estabilidade para evitar que mais presidentes do País vão parar na cadeia. A declaração foi feita nesta terça-feira, 17, durante o encerramento da conferência Brazil at Silicon Valley, na cidade californiana de Mountain View, nos Estados Unidos.
“Para mim, os problemas do Brasil são muito mais sobre as regras do governo. Conheci quase todos os presidentes brasileiros e acredito que vocês precisam de um jeito de ter um presidente e instituições experientes para evitar que mais presidentes acabem presos”, afirmou Schmidt em palestra por teleconferência aos presentes.
Após a fala, o executivo foi aplaudido pelo público, composto por empresários envolvidos com o ecossistema de startups do Brasil, investidores e alunos brasileiros de universidades americanas, em especial de Stanford e UC Berkeley.
“O Brasil tem tudo, menos um governo estável. Vocês têm uma única língua, um país de 200 milhões de habitantes, uma cultura fantástica e são pessoas ótimas”, declarou, após ser questionado como companhias como o Google podem ajudar países emergentes.
Schmidt foi presidente-executivo do Google entre 2001 e 2011, tendo substituído os fundadores Larry Page e Sergey Brin no cargo. O empresário ficou ligado à empresa até 2020, tendo sido membro do conselho da Alphabet, a empresa controladora do Google.
Redes sociais e democracia
Schmidt também aproveitou o evento para criticar a moderação de conteúdo nas redes sociais, em especial Twitter e Facebook: “Sou a favor da liberdade de expressão para humanos, e não para robôs”, declarou, arrancando risos da plateia.
“Sou a favor da liberdade de expressão do ex-presidente Donald Trump, com quem não concordo, mas claramente é humano”, afirmou, tirando mais risos do público. “Encontrei-me com ele antes de se tornar presidente, apertei sua mão e posso afirmar que é um humano.”
O executivo faz referência ao banimento de Trump das plataformas, decisão tomada pelas companhias de tecnologia após o envolvimento do político com a invasão ao Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021 – algo que viola as regras de uso dessas redes, já que é uma forma de incitação à violência.
Schimidt nota como essas plataformas utilizam comentários negativos e de ódio publicados para gerar mais engajamento entre os usuários, o que traz mais publicidade e engorda o faturamento desses negócios. “Sem saber, nós mudamos as consciências dos nossos países por causa dessa habilidade de amplificar engajamento e receita, por incentivo de sistemas de computadores”, declarou.
Segundo ele, parte desse problema seria resolvido com feeds de notícias cronológicos, algo que ex-funcionários do Facebook já indicaram que poderia ser feito para amenizar o problema, diz. Outra sugestão é diminuir o alcance de conteúdos de ódio – mas essa solução já foi feita pelas plataformas e, ainda assim, especialistas dizem que os resultados estão abaixo do desejado.
“O ideal é que todos possam falar, do contrário você estará censurado essas pessoas”, conclui.
O pensamento é similar ao do bilionário Elon Musk (dono da montadora de carros elétricos Tesla), que iniciou e pausou as negociações para comprar o Twitter nas últimas semanas. O homem mais rico do mundo afirma que, se concluída a compra da rede social do passarinho, irá permitir a volta de Trump à plataforma, autenticar todas as contas de humanos e impedir a criação de robôs. Detalhes, porém, não foram dados sobre como deve fazer isso.
Quando questionado se a aquisição deve ser concluída, Schmidt esquivou-se: “Eu nunca vou apostar contra o Elon, porque ele é muito esperto. Não conheço o suficiente sobre detalhes da negociação. Mas acredito que o Twitter deveria ter adotado minha regra: liberdade de expressão para humanos, e nada de amplificar mensagens de robôs ou discurso controverso.”
*Repórter viajou a convite da Brazil at Silicon Valley
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