Brasileiros na IA: Geraldo Ramos, o baterista que quer revolucionar a música com algoritmos

Fundador da Moises AI explora sistemas de inteligência artificial de ‘desmixagem’ e clonagem de voz

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Foto do author Bruno Romani
Atualização:

No meio musical, uma piada comum é a de que bateristas são pessoas distraídas, que vivem em mundo à parte, distantes de outros instrumentistas. Pois foi do alto de sua bateria que Geraldo Ramos, 38, viu a música sob outro prisma: uma expressão da humanidade que pode ser turbinada por algoritmos de inteligência artificial (IA).

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O pernambucano de nascimento e paraibano de criação está nos EUA desde 2012 trabalhando com tecnologia, mas foi em 2019 que tudo mudou. Naquele ano, pesquisadores da plataforma de streaming Deezer publicaram o Spleeter, um algoritmo de código aberto que fazia “desmixagem” (ou “unmixing”), processo de separar os instrumentos de um arquivo de música já pronto. É um trabalho oposto ao de uma mixagem de música, que tenta acomodar todos os instrumentos em uma única pista.

Ao conhecer o Spleeter, Ramos fundou em Utah (EUA) a Moises AI, startup que desenvolve algoritmos de desmixagem. No início, a companhia tinha um aplicativo que eliminava o vocal de canções, o que permitia brincar de karaokê, porém, os algoritmos evoluíram para isolar qualquer instrumento de uma canção.

Geraldo Ramos fundou a Moises AI, nos EUA, em 2019  Foto: Estadão

Virou uma ferramenta não apenas de diversão, mas também de estudo. Permitiu que músicos ouvissem e entendessem com mais precisão antes de executar partes. A companhia fez parceria com instituições de ensino, como a Berklee, uma das mais renomadas faculdades de música no mundo. E chegou também a músicos profissionais. Charles Gavin, baterista dos Titãs, afirmou ter usado o aplicativo para ensaiar as músicas da atual turnê de reunião da banda.

Em abril deste ano, a companhia já tinha 30 milhões de usuários cadastrados e Ramos viu um novo caminho para os seus algoritmos - desde o Spleeter, a Moises AI passou a desenvolver a própria IA . “Estamos cada vez mais envolvidos com produção musical, oferecendo soluções para a indústria”, afirma ele ao Estadão.

Os algoritmos de desmixagem, por exemplo, também são excelentes ferramentas para preservar e recuperar áudios antigos. Os áudios do filme Elis & Tom - Só Tinha de Ser com Você, de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, foram recuperados e retrabalhados pela IA da Moises AI.

Com um pé em Utah e outro em um centro de desenvolvimento em João Pessoa (PB), a Moises AI recebeu seu último aporte, de US$ 8,65 milhões, em agosto do ano passado. E agora se prepara para o próximo estágio da tecnologia na música: clonagem de voz por IA.

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A startup criou uma plataforma na qual cantores podem licenciar suas vozes, que posteriormente podem ser usadas por produtores na criação de canções e peças publicitárias - essas vozes podem cantar qualquer música e narrar qualquer texto, pois elas são clonadas e manipuladas por IA. O caminho do licenciamento tenta acalmar artistas, preocupados com a exploração indevida de suas qualidades na nova era dos algoritmos.

“Cada artista que licencia sua voz com a gente recebe toda a receita de quando ela é usada na plataforma. Estamos propondo um modelo focado no artista”, afirma ele. É uma visão ampla do processo de produção musical - algo que a piada sobre bateristas jamais pensou que pudesse acontecer.

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