No princípio, as redes sociais eram o verbo. Sentimentos, desejos e teorias eram expressados – e respondidos – por texto. A natureza da internet passou a ser diferente quando, no dia 9 de fevereiro de 2009, o Facebook propôs uma singela questão aos seus membros: “Curtiu?”. Da maneira como as pessoas interagem (e as consequências psicológicas disso) aos modelos de negócios dos serviços mais populares da web: nada mais foi como antes, depois do “primeiro like”.
É curioso pensar que o Curtir demorou a existir. Criado em 2007 pela ilustradora Leah Pearlman, gerente de produto do Facebook na época, o recurso passou dois anos “na geladeira”. Mark Zuckerberg, fundador da rede social, não gostava muito dele, mas foi vencido pelo entusiasmo dos funcionários da empresa. “É uma forma rápida de dizer aos seus amigos que você curte o que eles estão postando”, dizia o texto que apresentava a função, escrito por Pearlman. “Isso deixa espaço nos comentários para elogios mais longos.”
Veja a evolução do design do Facebook ao longo de 12 anos
1 / 12Veja a evolução do design do Facebook ao longo de 12 anos
Início
Assim nasceu o Facebook – ou melhor, o Thefacebook.com – em 2004. Em 4 de fevereiro, o site era voltado apenas para alunos de Harvard. Meses depois, c... Foto: ReproduçãoMais
Perfil de 2005
Em 2005, um perfil comum do Facebook mostrava muitos detalhes que você até encontra em um perfil hoje em dia, mas ainda de um jeito muito parecido com... Foto: ReproduçãoMais
Reforma
Em 2006, o Thefacebook perde o "the" e passa a ser só Facebook. Junto com a mudança de nome, o site ganha uma nova cara, com uma fonte mais legível e ... Foto: ReproduçãoMais
Mini Feed
Um ano depois, o Facebook ganhou uma cara mais adulta, o que incluiu a adição do Mini Feed no perfil: uma pequena timeline que mostrava as atividades ... Foto: ReproduçãoMais
Barrinhas
Em meados de 2008, o Facebook mudou de cara novamente: o principal destaque eram as barrinhas que organizavam melhor o layout do site, como a barra de... Foto: ReproduçãoMais
No que você está pensando?
Em março de 2009, o Facebook lançou uma nova página inicial, que adicionou uma ferramenta de publicação: a partir daquele momento, era possível postar... Foto: ReproduçãoMais
Foco nas fotos
Em 2010, mais uma reforma: o principal destaque ficou com a barra de fotos, que apareciam no topo da página do usuário e mostravam mais sobre como ele... Foto: ReproduçãoMais
Sem vergonha
Outra reforma de 2010 foi a adição do Open Graph, que permitiu que atividades de fora do Facebook aparecessem na linha do tempo. As novas postagens pr... Foto: ReproduçãoMais
Linha do Tempo
Em 2011, o Facebook introduziu um novo jeito de ver perfis de usuários: a Timeline. No lugar das informações escolhidas pelos usuários, o foco agora f... Foto: ReproduçãoMais
Ampliação
No início de 2012, o Facebook lançou uma nova ferramenta de visualização de fotos, que mostravam imagens maiores. Oscomentários e anúncios passavam a ... Foto: ReproduçãoMais
Foto de capa
Em março de 2013, a Linha do Tempo ganhou uma atualização considerável: além de mostrar novos jeitos para apps aparecem na timeline, a alteração criou... Foto: ReproduçãoMais
Perfil de hoje
E está aí um perfil dos dias de hoje. Muita mudança, né? Foto: Reprodução
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Era algo novo: Orkut, MySpace e outros serviços da época eram organizados em textos e comunidades, bem como inúmeros fóruns que reuniam aficionados por qualquer tema – de PCs a cinema, algo que soa muito nerd hoje em dia. Os elementos visuais eram mais rudimentares. As pessoas já usavam emojis para se expressar em e-mails, por exemplo, mas eles serviam mais como complemento ao texto.
O botão curtir permitia uma reação rápida – e até um pouco desinteressada – a qualquer coisa. Não à toa, ele teve sucesso imediato. “Em pouco tempo, publicações que tinham 50 comentários acabavam tendo 150 curtidas”, disse Pearlman, em entrevista à revista Vice, em 2017.
Era o que o Facebook precisava: três meses após lançar o Curtir, a rede superou seu maior rival nos EUA, o MySpace. Mais que isso, ditou moda: em 2010, o YouTube trocou as estrelas de seu sistema de avaliação de vídeos por um polegar positivo. O Twitter fez testes até 2015, quando estabeleceu o coração como símbolo para “curtir” um tuíte. Instagram, LinkedIn e Tinder também incorporaram o recurso. “Hoje, é difícil imaginar uma rede social sem curtidas”, diz Luís Peres-Neto, professor da ESPM.
Egotrip. “Com o curtir, as pessoas passaram a fazer mais publicações”, afirmou Pearlman à Vice. De participantes de uma rede, as pessoas agora se consideram protagonistas dela. “Há uma supervalorização da validação do próximo, do olhar de outras pessoas sobre tudo que o usuário faz”, diz Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais.
É algo que tem gerado impactos na saúde mental: estudo feito pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) em 2017 mostrou que receber uma curtida ativa áreas do cérebro que respondem quando se recebe algo bom – como comer chocolate em um dia difícil.
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A história do Facebook em 30 fotos
1 / 30A história do Facebook em 30 fotos
100 milhões de amigos
Em agosto de 2008, o Facebook ultrapassa a marca de 100 milhões de usuários em todo o mundo. Foto: Reuters
Avante
Em janeiro de 2011, uma rodada de investimentos liderada pelo banco Goldman Sachs adquire 1% das ações do Facebook e avalia a empresa em US$ 50 bilhõe... Foto: ReutersMais
1 bilhão de amigos
Em outubro de 2012, a base de usuários do Facebook atinge 1 bilhão de usuários. Foto: Reuters
Fundação Zuckerberg
Zuckerberg e Priscilla Chan durante o anúncio da chegada de Max, sua primeira filha Foto: Facebook
Notícias Falsas
Em 2016, o Facebook entrou na mira da política, ao ser acusado de auxiliar a disseminação de notícias falsas que influenciaram, por exemplo, no refere... Foto: ReutersMais
2 bilhões de amigos
Em junho de 2017, o Facebook chegou à marca de 2 bilhões de usuários, conquistando boa parte do mundo conectado. Foto: Reuters
Cambridge Analytica
Em março de 2018, o Facebook vive possivelmente sua maior crise, graças à revelação pelo jornal inglêsThe Observerde que a consultoria política Cambri... Foto: EFEMais
Prólogo
Em 28 de outubro de 2003, Mark Zuckerberg lança o Facemash, um predecessor do Facebook. Usando fotos do sistema de alunos de Harvard, o site pedia aos... Foto: ReproduçãoMais
Início
Em 4 de fevereiro de 2004, quatro estudantes de Harvard fundam uma rede social voltada para estudantes da universidade,o Thefacebook: Mark Zuckerberg,... Foto: DivulgaçãoMais
Investimentos
Em junho de 2004, a rede social já havia se expandido para outras universidades e recebeu seu primeiro investimento, feito pelo investidor Peter Thiel... Foto: NYTMais
Plágio
Em 2004, os ex-colegas de Mark Zuckerberg em Harvard, os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss entram com uma ação judicial contra o Facebook, alegando qu... Foto: NYTMais
1 milhão de amigos
Com Sean Parker na presidência, o Facebook conquista 1 milhão de usuários em 30 de dezembro de 2004. Meses depois, a empresa transfere sua sede para u... Foto: NYTMais
'Não, não, não'
Em março de 2006, o Yahoo oferece US$ 1 bilhão para comprar o Facebook, mas Mark Zuckerberg rejeita a proposta. Foto: NYT
Feed de notícias
Em setembro de 2006, o Facebook lança o News Feed (Feed de Notícias, em português): uma página que se atualizava automaticamente através de um algorit... Foto: ReproduçãoMais
Para menores
Inicialmente voltado para universitários de faculdades de renome nos Estados Unidos, o Facebook se abre, em setembro de 2006,para qualquer usuário a p... Foto: ReutersMais
Abertura
Em 2007, buscando superar rivais como o MySpace, o Facebook abre sua plataforma de dados (API, na sigla em inglês) para desenvolvedores criarem aplica... Foto: ReutersMais
Microsoft
Em outubro de 2007, a Microsoft adquire 1,4% das ações do Facebook, o que faz a empresa ser avaliada em US$ 15 bilhões. Foto: Reuters
Tchau, Myspace
Maior rede social do mundo até 2009, o MySpace é destronado da liderança pelo Facebook em maio daquele ano: segundo números da ComScore, a rede social... Foto: EstadãoMais
Fazenda Feliz
Lançado pela Zynga em 2010, FarmVille se torna o primeiro grande game a ser jogado dentro do Facebook. O jogo tinha um objetivo simples: o usuário ass... Foto: ReproduçãoMais
Curtida
Em junho de 2010, a empresa lança uma de suas marcas registradas: o botão de "Like" – aqui no Brasil, o like é chamado de curtida. Em Portugal, ele é ... Foto: ReutersMais
A Rede Social
Estreia em outubro de 2010 o filmeA Rede Social, que conta a história dos primeiros anos do Facebook. O filme, dirigido por David Fincher (Seven)e com... Foto: ReproduçãoMais
Mensageiro
Em 9 de agosto de 2011, o Facebook lança o Facebook Messenger: inicialmente um substituto para o chat interno que havia na rede social, o Messenger se... Foto: ReutersMais
Linha do tempo
Em setembro de 2011, o Facebook introduz a Linha do Tempo (Timeline), uma função que alterava os perfis dos usuários: no lugar de informações detalhad... Foto: ReproduçãoMais
Abertura de capital
Em 18 de maio de 2012, o Facebook realiza sua abertura de capital na bolsa de valores Nasdaq, em Nova York: com preços iniciais de US$ 38, as ações da... Foto: ReutersMais
'Bota no Insta'
Criado pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger, a rede social de fotografias Instagram é comprada pelo Facebook por US$ 1 bilhão e... Foto: NYTMais
Internet.org
Em parceria com seis empresas (Samsung, Ericsson, MediaTek, Nokia, Opera e Qualcomm), Mark Zuckerberg lança o Internet.org em agosto de 2013. A intenç... Foto: ReutersMais
Zap Zap
Em fevereiro de 2014, o Facebook anunciou a aquisição do WhatsApp, um dos principais aplicativos de mensagem da atualidade, por US$ 21,8 bilhões (em v... Foto: ReutersMais
Realidade virtual
Em março de 2014, o Facebook expande seu foco de atividades ao comprar a startup Oculus, dona dos óculos de realidade virtual Oculus Rift, por US$ 2 b... Foto: ReutersMais
Reações
O velho botão de curtir ganhou novos companheiros em abril de 2016: desde então, as pessoas podem reagir às publicações dos amigos com "Amei", "Haha" ... Foto: ReutersMais
Feed de Notícias
Criticado pela disseminação de notícias falsas, o Facebook decidiu reagir em janeiro de 2018: naquele mês, a empresa disse que iria alterar seu algori... Foto: ReutersMais
Outras pesquisas já ligaram sintomas de depressão, ansiedade, solidão, baixa autoestima e tendências suicidas ao uso de redes sociais. “Tem gente com autoestima baixa que posta selfies todo dia, esperando reações. Quando não se recebe muitas curtidas, a tendência é ficar mais triste”, diz a psicóloga Anna Lucia King, do Instituto Delete, ligado à UFRJ.
Manada. No mesmo estudo, pesquisadores da UCLA mostraram que o Curtir ajuda a gerar comportamentos de manada – se uma foto já ganhou muitos likes, é provável que mais pessoas devam se manifestar sobre ela. Por outro lado, os algoritmos das redes sociais consideram o número de curtidas para determinar o que será exibido a um usuário. Se ele curte sempre as mesmas coisas – e quem produz conteúdo busca temas populares para ganhar curtidas – o processo de criação de uma bolha está formado. Unidos, o “efeito manada” e o reforço do algoritmo geram uma reação em cadeia.
As curtidas permitiram ainda uma forma eficiente para o funcionamento desses algoritmos. Na época, sistemas de reconhecimento de texto por inteligências artificiais eram bem mais rudimentares – até hoje, eles não entendem ironia. Há ainda a complexidade de diferentes idiomas. O Curtir, para o algoritmo, virou um tradutor universal: todos falam a mesma língua, com dois signos – “gostei” ou “não gostei”.
De quebra, as redes sociais passaram a identificar os gostos das pessoas, num prato cheio para a publicidade. É um ingrediente importante para o Facebook ter sobrevivido e gerado receita de US$ 16 bilhões em seu último trimestre fiscal; uma realidade muito diferente do Google com o Orkut, que nunca conseguiu faturar. Trocar curtidas por dinheiro virou um modelo comercial imperativo.
É nas curtidas, também, que surgem algumas das principais mazelas da internet atual – de “fazendas” com milhares de smartphones curtindo posts 24 horas por dia, inflando números de audiência por centenas de dólares, à interferência em eleições e fome por dados de usuários. A Cambridge Analytica, firma de marketing político que usou indevidamente dados de 87 milhões de perfis do Facebook, começou analisando justamente as curtidas. Com 150 publicações, os pesquisadores diziam saber mais sobre alguém do que seus pais ou irmãos.
É algo que causou danos ao Facebook – fazendo a empresa rever políticas, perder dinheiro e colocando-a sob escrutínio global. Talvez, em breve, esse modelo já não seja mais tão curtido. / COLABOROU GIOVANNA WOLF
10 motivos para sentir saudade do Orkut
1 / 1010 motivos para sentir saudade do Orkut
Comunidades sérias
Parece até estranho, mas sem um feed de notícias, boa parte da interação que você podia ter no Orkut era dentro das comunidades. E algumas delas eram ... Foto: Mais
Comunidades sem sentido nenhum
Além de lugares legais para trocar ideias e conhecer pessoas, as comunidades funcionavam como as fanpages do Facebook, servindo para mostrar para quem... Foto: Mais
Depoimentos
Atire a primeira pedra quem nunca mandou um depoimento fofo para um amigo ou lutou pelo “topo” de uma página cheia de “testmonials” (como eles eram ch... Foto: Mais
Buddy Poke
Muito antes do Facebook se tornar popular aqui no Brasil e trazer à tona o “cutucar”, o Orkut tinha o BuddyPoke. Era um aplicativo com gráficos meio t... Foto: Mais
Sorte do Dia
Às vezes, parecia que o Orkut era 2 em 1: junto com a rede social, você ganhava de graça um conselheiro anônimo na sua tela de entrada. Era a “sorte d... Foto: Mais
Os scraps
Em uma época que a internet não era tão instantânea assim, a conversa entre os amigos no Orkut rolava através dos scraps, os famosos recadinhos – que ... Foto: Mais
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Perfil caprichado
A foto quase sempre pouco importava, mas ter um texto caprichado no seu perfil era imprescindível para ser uma pessoa legal no Orkut. “Quem se define ... Foto: Mais
Radar dos bisbilhoteiros
Essa servia para quem queria se sentir popular ou tinha mania de perseguição: em cima da sorte do dia, na tela de entrada, todo dia o orkut avisava qu... Foto: Mais
Todo mundo estava lá!
Hoje, redes comoo Facebook, o Twitter e o Instagram podem ter superado o antigo e desativadoOrkut na preferência dos internautas brasileiros, mas uma ... Foto: Mais