O encontro entre Elis Regina e Maria Rita, separadas após a morte de Elis quando a filha tinha apenas 4 anos, já pode ser visto em uma peça publicitária da Volkswagen graças à inteligência artificial (IA). A publicidade, que celebra os 70 anos da montadora no Brasil, usou deep fake, uma técnica de sobreposição de voz e expressões, para compor o dueto cantado por mãe e filha na música “Como nossos pais”, de Belchior, um clássico dos anos 70.
O vídeo, que já pode ser visto na TV e na internet, mostra Maria Rita e Elis Regina dirigindo dois modelos diferentes de Kombi — a filha, com a versão elétrica que está sendo lançada pela Volkswagen, chamada de ID.Buzz. Já a mãe, aparece na tradicional “perua” da marca alemã.
Para unir as cantoras na peça, foi preciso unir as técnicas chamadas deep fake e deep dub, que referem-se, respectivamente, à criação de rostos e vozes por meio de IA. A montagem foi possível porque o ponto central do desenvolvimento de um vídeo como esse é a interação entre duas IAs: enquanto uma gera um conteúdo, a outra tenta decidir se aquele conteúdo é real ou falso.
Para conseguir passar pelo “crivo” do deep dub, o deep fake se vê obrigado a criar elementos cada vez mais realistas, para que o vídeo de fato pareça ser gravado da forma atualizada desde o começo. A essa “disputa” entre IAs diferentes deu-se o nome de Generative Adversarial Networks (GANs), que é o que gera as imagens vistas no comercial.
Esses algoritmos capazes de modificar e sintetizar rostos e vozes surgiram para automatizar tarefas, como construir um vídeo ou gerar uma imagem, explica o doutor em Engenharia Eletrônica e Computação Anderson Soares, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).
No vídeo em que Maria Rita, de 45 anos, reencontra a mãe após mais de 40 anos, ferramentas de IA foram treinadas para o reconhecimento facial de Elis Regina e um dublê de corpo foi responsável por recriar movimentos da cantora e criar a imagem dela para o filme da montadora.
“As tecnologias surgem para automatizar alguma tarefa, ou seja, para que a máquina possa fazer aquilo que o ser humano faria com as próprias mãos. Essa nova revolução industrial traz essa ótica, só que para algumas tarefas ditas intelectuais e criativas. É o caso de você construir um vídeo, gerar uma imagem etc”, afirma Soares.
A peça começou a ser divulgada nesta segunda-feira, 3, e marca a volta da Kombi ao mercado após 10 anos.
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