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‘Complexo e torturado’: biografia sobre Elon Musk detalha vida do bilionário; leia destaques

Publicado nesta terça-feira, livro apresenta compra do Twitter, comando da Tesla e opiniões políticas do empresário

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Por Jeremy W. Peters, Niraj Chokshi e Benjamin Mullin

THE NEW YORK TIMES - Uma nova biografia de Elon Musk retrata o empresário bilionário como uma figura complexa e torturada, cujo brilhantismo é muitas vezes ofuscado por sua incapacidade de se relacionar em um nível humano com as pessoas ao seu redor - suas esposas, seus filhos e aqueles em quem ele confia para ajudar a desenvolver a exploração espacial e os negócios de carros elétricos que o tornaram o homem mais rico da Terra.

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A vida de Musk até o momento (sua infância difícil na África do Sul, seus relacionamentos românticos tempestuosos, seu sucesso como visionário que construiu a SpaceX e a Tesla e sua decisão impetuosa de comprar o Twitter) é detalhada por meio de dezenas de entrevistas com sua família, amigos, parceiros de negócios e o próprio Musk.

O livro, lançado nesta terça-feira, 12, nos Estados Unidos e Brasil, é de autoria de Walter Isaacson, jornalista cujas obras anteriores relataram as vidas de Steve Jobs, Albert Einstein, Leonardo da Vinci e Benjamin Franklin. No País, a obra é publicada pela Ed. Intrínseca, com preço de R$ 69,90 para o e-book e R$ 99,90 para o livro físico.

O livro começa com uma citação de Jobs, o cofundador da Apple, que disse certa vez: “As pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo são as que mudam”.

Leia abaixo algumas das curiosidades apresentadas no livro.

Twitter, agora conhecido como X

Musk comprou o Twitter em outubro de 2022 por US$ 44 bilhões, após uma oferta surpresa pela empresa e uma aparente relutância em levar o negócio adiante.

  • Dias depois que a diretoria do Twitter aprovou o acordo, Musk disse a seus quatro filhos adolescentes que havia comprado a rede social para influenciar a próxima eleição presidencial dos EUA. “De que outra forma faremos com que Trump seja eleito em 2024?”, disse ele. (Era uma piada, escreve Isaacson, mas os filhos de Musk ainda não entendiam a razão da compra do Twitter, um aplicativo que eles raramente usavam).
  • Depois de adquirir o Twitter, Musk e sua equipe vasculharam as comunicações internas dos funcionários e as publicações nas mídias sociais, procurando sinais de deslealdade, escreve Isaacson. Os “mosqueteiros”, como os leais a Musk eram conhecidos dentro do Twitter, pesquisaram os arquivos do Slack do Twitter em busca de palavras-chave que incluíssem “Elon” e demitiram dezenas de funcionários que haviam feito comentários sarcásticos sobre o Musk.
  • Musk realizou uma invasão surpresa em uma instalação de dados do Twitter em Sacramento, Califórnia, no inverno passado, pouco depois de adquirir a empresa. O bilionário havia decidido transferir os servidores alojados nessa instalação para outro data center do Twitter para cortar custos, mas os líderes de infraestrutura do Twitter o advertiram de que a transferência segura dos equipamentos caros poderia levar meses. Em um acesso de raiva, o Musk decidiu colocar a mão na massa e mudar os servidores, recrutando uma pequena equipe e um bando de vans de mudança para transportá-los na véspera de Natal. (Posteriormente, ele disse que se arrependia da decisão, o que levou a interrupções no serviço).

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'Elon Musk', de Walter Isaacson, é a nova biografia sobre o bilionário dono da Tesla, SpaceX e Twitter Foto: Reprodução/Intrínseca

Vida pessoal

A família extensa do Musk tem sido uma fonte de conforto em meio à frequente turbulência de seus interesses comerciais que abrangem diferentes setores, escreve Isaacson. Mas o relacionamento com seu pai, Errol, é uma fonte de trauma que permanece.

  • O pai do Musk é descrito como emocional e fisicamente abusivo e é citado falando de forma depreciativa sobre negros. Quando o Musk concordou, em 2016, em conhecer seu pai, de quem tem se afastado em grande parte, um amigo relembra a Isaacson: “Foi a única vez que vi as mãos de Elon tremendo”. Isaacson escreve: “Há certas pessoas que ocupam um canto demoníaco do espaço da cabeça de Musk. Elas o desencadeiam, o tornam sombrio e despertam uma raiva fria. Seu pai é o número um”.
  • Enquanto a cantora e produtora Grimes, também conhecida como Claire Boucher, estava dando à luz seu filho X em maio de 2020, Musk tirou uma foto do parto e a compartilhou com seus amigos e familiares, incluindo o pai e os irmãos dela. Grimes ficou compreensivelmente horrorizada e se esforçou para que a foto fosse excluída. “Ele simplesmente não sabia por que eu fiquei chateada”, disse ela ao Isaacson.
Filho de Elon Musk com a cantora canadense Grimes se chama X AE-XII, nascido em maio de 2020 Foto: Elon Musk/Twitter

Política e Trump

A visão política de Musk desafia uma categorização simples. Apesar de seus ataques aos críticos liberais, de seus discursos contra os democratas “woke” e de sua promoção ocasional de teorias conspiratórias de extrema direita, ele é retratado como um desiludido com o desvio do Partido Democrata para a esquerda do que como um fã dos republicanos.

  • O Musk afirma repetidamente não ser um admirador do ex-presidente Donald J. Trump, dizendo ao seu biógrafo: “Não sou fã de Trump. Ele é perturbador”. Isaacson escreve que Musk nutre um “profundo desdém” pelo ex-presidente “que ele considerava um vigarista” e que parecia, segundo Musk, “meio maluco”.
  • Mas ele também não é um apoiador de Biden, embora tenha dito a Isaacson que teria votado em Biden em 2020 se tivesse votado. (Ele decidiu não votar porque estava registrado na Califórnia e considerou isso um desperdício porque o Estado não era competitivo na eleição presidencial). Musk descreve um encontro com Biden há vários anos, no qual não ficou impressionado. “Quando ele era vice-presidente, fui a um almoço com ele em São Francisco, onde ele ficou falando por uma hora e foi muito chato, como um daqueles bonecos em que você puxa a corda e ele diz as mesmas frases sem sentido várias vezes.”

Inteligência artificial

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Musk há muito tempo se preocupa com a inteligência artificial (IA), que ele considera uma possível ameaça existencial. Ele foi cofundador da OpenAI antes de romper os laços com a organização em 2018, e recentemente anunciou que estava formando uma empresa rival de IA, a X.AI.

  • Musk “convocou” Sam Altman, presidente executivo da OpenAI, para uma reunião na sede do Twitter em fevereiro de 2023, logo após o lançamento do ChatGPT. Musk pediu com raiva a Altman que “justificasse como ele poderia transformar legalmente uma organização sem fins lucrativos financiada por doações em uma empresa com fins lucrativos que poderia ganhar milhões”. Isaacson escreveu que o encontro deixou Altman “triste”.
  • A decisão de Musk de fundar a X.AI veio em parte da preocupação com a subpopulação. (Ele é pai de 10 filhos.) “A quantidade de inteligência humana, observou ele, estava se estabilizando porque as pessoas não estavam tendo filhos suficientes. Enquanto isso, a quantidade de inteligência computacional estava aumentando exponencialmente”, escreve Isaacson. Musk acreditava que “em algum momento, o poder cerebral biológico seria superado pelo poder cerebral digital”.
  • Musk deu aos primeiros funcionários da X.AI três objetivos: criar um chatbot de IA capaz de escrever códigos, um chatbot treinado para ser politicamente neutro e uma inteligência artificial que pudesse raciocinar e buscar a verdade. “Você deve ser capaz de dar a ela grandes tarefas, como ‘construir um motor de foguete melhor’”, disse Musk a Isaacson.

Relação com a mídia

O relacionamento do Musk com a mídia, que já era tenso antes de ele comprar o Twitter, atingiu novos níveis de tensão depois que o acordo foi anunciado.

  • O cocriador de Seinfeld, Larry David, confrontou Elon Musk no casamento, em 2022, de Ari Emanuel, presidente executivo do conglomerado de mídia Endeavor, que os havia sentado à mesma mesa. “Você quer apenas matar crianças nas escolas?”, David perguntou a Musk, questionando-o sobre seu apoio a candidatos republicanos após o tiroteio na escola em Uvalde, Texas, que deixou 19 alunos mortos. “Não, não”, respondeu Musk, de acordo com o Isaacson. “Sou contra o assassinato de crianças”. Emanuel também sentou o apresentador da MSNBC Joe Scarborough, outro crítico de Musk, na mesma mesa. “Acabou sendo um microcosmo do Twitter”, escreveu Isaacson.
  • Como os tuítes erráticos de Musk prejudicaram o relacionamento do Twitter com os anunciantes, ele procurou o conselho de nomes arrojados do setor de mídia para saber como consertar a ruptura. Um deles foi David Zaslav, presidente executivo da Warner Bros. Discovery, proprietária da HBO, do estúdio de cinema Warner Bros. e da CNN. Eles conversaram por mais de uma hora. “Zaslav lhe disse que ele estava fazendo coisas autodestrutivas que dificultavam a atração de marcas que eram aspiracionais. Ele deveria se concentrar em melhorar o produto, adicionando ofertas de vídeo mais longas e tornando os anúncios mais eficazes.”

Tesla

Durante anos, a Tesla foi o negócio de maior visibilidade no portfólio de empresas do Musk, servindo como uma fonte constante de orgulho e estresse.

  • As dificuldades iniciais da empresa contribuíram para um período longo e difícil para o Musk, que teve um impacto físico e mental, disse ele ao Isaacson em uma entrevista em 2021. “Não é possível estar em uma luta constante pela sobrevivência, sempre em modo de adrenalina, sem que isso o prejudique”, disse Musk. Mas ele também reconheceu que havia encontrado um propósito sob pressão: “Quando você não está mais em um modo de sobrevivência ou morte, não é tão fácil se motivar todos os dias”.
  • Mesmo quando a empresa obteve sucesso, ela atraiu críticos no mercado financeiro, que apostaram contra as ações da Tesla. Essa prática atingiu um pico em 2018, quando a Tesla lutou para cumprir as metas de produção, enfurecendo Musk, que chamou os vendedores dos papéis de “sanguessugas no pescoço dos negócios”. Mas ele reconheceu que alguns desses traders também haviam tinham um raio-x impressionantemente preciso da empresa a partir de informações privilegiadas e até mesmo de drones que sobrevoavam a fábrica da Tesla. “O grau de informações privilegiadas que eles tinham era insano”, disse ele.
  • As dificuldades e os problemas de produção na Tesla e na empresa de exploração espacial SpaceX também aprimoraram a filosofia de Musk, destilada por ele em uma abordagem de cinco etapas chamada de “algoritmo” - e repetidamente invocada para os funcionários. Ela envolvia, em ordem: questionar os requisitos, excluir partes ou processos, simplificar e otimizar, acelerar os processos e, finalmente, automatizar. “Eu me tornei um disco quebrado sobre o algoritmo”, disse Musk ao Isaacson.
Elon Musk é fundador e dono da Tesla, empresa de carros elétricos Foto: Toru Hanai/Reuters

SpaceX

Musk criou a SpaceX para ajudar a humanidade a se tornar uma espécie multiplanetária. O sucesso da empresa até agora é um crédito à sua disposição de aceitar riscos, às vezes com sucesso e às vezes não.

  • Durante a contagem regressiva para um lançamento crucial em 2015, um líquido não identificado começou a pingar de um foguete Falcon 9, assustando Mark Juncosa, um dos principais funcionários da SpaceX. Musk deliberou brevemente antes de decidir prosseguir, resultando em um lançamento bem-sucedido. Na época, Juncosa presumiu que Musk havia baseado essa decisão em uma complicada avaliação de risco, mas percebeu que estava errado depois de rever as filmagens anos mais tarde. “Pensei que ele tivesse feito alguns cálculos complexos e rápidos para decidir o que fazer, mas, na verdade, ele simplesmente deu de ombros e deu a ordem”, disse Juncosa sobre o Musk. “Ele tinha uma intuição do que era a física.”
  • Para realizar um voo interplanetário no futuro, a SpaceX precisava encontrar uma maneira de ganhar dinheiro no presente. Assim, em 2015, o Musk anunciou a Starlink, buscando entrar no lucrativo mercado de fornecimento de serviços de internet, nesse caso por meio de uma constelação de satélites de baixa órbita. O serviço tornou-se uma linha de vida vital para pessoas em zonas de guerra e ajudou militares ucranianos a se defenderem da invasão russa. Mas Musk também foi criticado por não permitir que a Ucrânia usasse o serviço para lançar um ataque de drones em uma base naval russa no ano passado, temendo que isso provocasse uma grande escalada na guerra. “Não queríamos fazer parte disso”, disse Musk.
  • Em 2021, a SpaceX, pela primeira vez, enviou com sucesso uma tripulação para a órbita sem um astronauta profissional a bordo. Depois disso, Musk refletiu sobre o papel que ele e sua empresa desempenharam no avanço da exploração espacial. “Construir carros elétricos para o mercado de massa era inevitável”, disse ele. “Isso teria acontecido sem mim. Mas tornar-se uma civilização espacial não é inevitável.” Ele acrescentou: “Esse voo foi um ótimo exemplo de como o progresso exige a ação humana.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME GUERRA
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