Captura de íris do ‘pai do ChatGPT’ chega ao Brasil para provar que você é humano; entenda

Projeto de Sam Altman quer diferenciar pessoas de bots na internet a partir de imagens dos olhos; ideia é transformar tecnologia em porta de entrada para ecossistema de criptomoedas

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Foto do author Bruno Romani
Atualização:

A World, projeto cofundado por Sam Altman, CEO da OpenAI e um dos criadores do ChatGPT, chega ao Brasil nesta quarta, 13. Ele tem como objetivo inicial distinguir pessoas reais de bots na internet - posteriormente, a ideia é transformar o protocolo em porta de entrada para um grande ecossistema de criptomoedas.

Câmera Orb que faz escaneamento de íris, estará em dez locais físicos de São Paulo a partir desta quarta, 13 Foto: Bruno Romani

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Para fazer a prova de humanidade, o projeto realiza uma foto de alta resolução da íris dos usuários, gerando uma identidade digital única e anônima. O processo é feito por meio de uma câmera de alta resolução chamada Orb, que estará disponível em 10 pontos físicos da cidade de São Paulo a partir desta quarta - no ano passado, a companhia realizou um projeto piloto no País. Entre os locais estão pontos físicos no Shopping Vila Olímpa e Shopping Metro Tatuapé.

O processo de verificação de humanidade começa com um aplicativo chamado World App. Por lá, o usuário encontra um local físico com um dispositivo Orb e agenda horário para a captura da íris. A própria câmera converte as imagens dos olhos em um código numérico único que comprova a humanidade. Por fim, o número gerado, chamado de World ID, é criptografado e armazenado no aplicativo World App.

Toda a parte tecnológica do projeto, como aplicativo e desenvolvimento da Orb, é feito pela empresa Tools for Humanity, criada também por Altman e Alex Blania, para impulsionar o ecossistema World, que inclui a criptomoeda worldcoin e o World Chain (o blockchain que registra as operações do sistema). World é o nome dado ao protocolo que gera a prova de humanidade e permite as transações.

Criada em 2019, a Tools for Humanity já levantou US$ 194 milhões em três rodadas de investimento - a mais recente delas, de abril de 2023, foi no valor de US$ 115 milhões. Entre eles estão a16z, Blockchain Capital e Bain Capital.

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A curto prazo, a Tools for Humanity planeja gerar receita oferecendo seu sistema de prova de humanidade como alternativa a tecnologias de segurança como CAPTCHA, aquele teste fotográfico usado para distinguir humanos de bots em sites pela internet. O sistema poderia ser embutido em diversos serviços, como e-mails, plataformas de vídeo chamadas, perfis em jogos e ferramentas para combate de spam. O discurso da empresa é de que a verificação de humanidade será essencial para garantir a confiança e a segurança nas interações online.

E a companhia tenta reforçar: ela não faz verificação de identidade. Nenhum nome ou documento é atrelado à identidade gerada pelas Orbs. O projeto usa provas de conhecimento zero para garantir que a identidade dos usuários não seja revelada para nenhum aplicativo de terceiros. Esse sistema permite que apenas o usuário consiga descriptografar os dados armazenados, evitando que qualquer empresa possa utilizá-los para qualquer outra função.

Atualmente, a Tools for Humanity está em 20 países e conta com uma base de 7 milhões de humanos verificados, 16 milhões de usuários do aplicativos e 902 câmeras orbs em todo o mundo - o projeto brasileiro começa em São Paulo e não trata de expansão no momento. Ainda assim, é um número baixo para os planos da startup que tem como objetivo capturar a iris de toda a população mundial. A ideia é distribuir 50 mil orbs em todo o mundo.

As orbs são operadas por empresas parceiras - é como se a Tools for Humanity terceirizasse o processo de captura de iris. Segundo o Buzzfeed News e o MIT Technology Review, alguns desses contratados usaram técnicas enganosas para solicitar inscrições em diferentes países.

Ambição e perigos

Sam Altman é um dos cofundadores da World  Foto: ©World Economic Forum/Pascal Bi

De fato, o projeto mantém planos ambiciosos, como já ficou conhecido o estilo Sam Altman de se expressar em público. Os fundadores já disseram que o World é a base para a renda básica universal, um sistema de bem-estar em que todos recebem pagamentos garantidos, e argumentam que as identificações de íris ajudarão a distinguir verdadeiros humanos de robôs. No entanto, o trabalho atual da companhia é convencer humanos a entrarem no sistema.

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É algo que não será simples. Autoridades de França e Alemanha anunciaram investigações sobre as práticas de coleta de dados da Tools for Humanity. No ano passado, o Quênia ordenou que a Tools for Humanity parasse de realizar as capturas, citando uma “falta de clareza” em seu tratamento de informações sensíveis. O projeto também foi investigado em Hong Kong, na Argentina e na Espanha.

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A chegada ao País da plataforma já acendeu a luz amarela em especialistas em privacidade. " O projeto de capturar dados biométricos, como o escaneamento da íris, levanta sérias questões sobre privacidade e segurança, especialmente em um contexto onde as legislações de proteção de dados, como a LGPD, exigem rigorosos controles. O fato de a empresa ter enfrentado problemas em outros países reforça a necessidade de vigilância das autoridades brasileiras para garantir que os direitos dos consumidores, especialmente em relação ao tratamento de dados sensíveis, sejam devidamente respeitados”, diz Luã Cruz, coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec).

Em julho deste ano, a Fundação World, que desenvolve o protocolo, foi multada pela província de Buenos Aires ao equivalente a R$ 1,1 milhão por supostas cláusulas abusivas - o governo local demonstrou preocupação em relação à gestão e segurança dos dados.

“O Idec observa com preocupação que, após a aplicação de uma multa milionária e a proibição de práticas abusivas na Argentina, a World tenha redirecionado suas operações na região para o Brasil”, diz Cruz.

Na apresentação para jornalistas brasileiros, Rodrigo Tozzi, chefe de operações da Tools for Humanity, disse que está conversando com autoridades brasileiras e citou o Ministério da Ciência e Tecnologia, mas não detalhou questionamentos sobre reuniões com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). Representantes da empresa também afirmaram que não conversaram ainda com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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Para tentar convencer humanos a entrarem no sistema, a World oferece um incentivo de 50 tokens de worldcoin - 25 na adesão ao sistema e o restante parcelado ao longo de 12 meses. Na cotação deste dia 12, 1 worldcoin vale US$ 2,38. No discurso, a companhia almeja engordar o ecossistema para que transações financeiras ocorram dentro dele, o que pode gerar valorização da moeda no longo prazo.

Segundo Altman, é a partir da valorização e inclusão de massa crítica que as riquezas geradas pela IA poderão ser redistribuídas em formato de renda básica universal. No entanto, 25% dos worldcoins já estão reservados para os investidores do projeto.

Precisamos de uma prova de humanidade?

Verificação de humanidade pode ser importante contra bots Foto: phoenix021/Adobe.Stock

Com o avanço da IA, a internet se tornou um campo fértil para a proliferação de bots e contas falsas, que são utilizados para diversos fins maliciosos, como a disseminação de desinformação, a manipulação da opinião pública e a realização de ataques cibernéticos.

O relatório Bad Bot da Imperva, lançado em 2024, revelou que quase metade de todo o tráfego online global em 2023 foi gerado por bots. Esses “robôs” podem ser usados para diversas atividades maliciosas, como roubar dados pessoais, espalhar malware e realizar ataques de negação de serviço.

Em tese, a verificação de humanidade se torna importante para garantir a integridade e a confiança nas interações online, permitindo que os usuários tenham certeza de que estão interagindo com pessoas reais.

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