Escolas dos EUA tentam banir celulares das salas de aula. Isso funciona?

Defensores dizem que regras de proibição de celulares reduzem distrações dos alunos e bullying, enquanto críticos acreditam que podem prejudicar a autodireção e pensamento crítico

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Por Natasha Singer

THE NEW YORK TIMES - No início deste ano, a Flórida, nos Estados Unidos, aprovou uma lei que exige que as escolas públicas de todo o Estado proíbam o uso de celulares pelos alunos durante as aulas. As novas regras estaduais refletem a intensificação da repressão global contra os jovens e a mídia social.

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No início de outubro, o governo do Reino Unido emitiu novas diretrizes recomendando que o uso de celulares pelos alunos fosse proibido nas escolas de todo o país. Isso se seguiu à Itália, que no ano passado proibiu o uso de celulares durante as aulas, e à China, que há dois anos proibiu as crianças de levarem telefones para a escola.

Um relatório recente da UNESCO, a agência educacional e cultural das Nações Unidas, constatou que quase um em cada quatro países tem leis ou políticas que proíbem ou restringem o uso de celulares pelos alunos nas escolas. Em geral, essas proibições abrem exceções para alunos com deficiências e para usos educacionais aprovados pelos professores.

Mesmo assim, as medidas de repressão aos smartphones são controversas.

Os defensores dizem que as proibições impedem que os alunos percorram as mídias sociais e enviem mensagens de texto sobre bullying, reduzindo as distrações em sala de aula. Os críticos alertam que cortar o acesso dos alunos aos seus telefones poderia punir desproporcionalmente aqueles que têm empregos ou responsabilidades familiares - e que a aplicação das proibições poderia aumentar as medidas disciplinares severas, como suspensões escolares.

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Estado no EUA proibiu celulares em sala de aula Foto: Raphael Arbex/Estadão

Embora algumas escolas tenham apresentado uma redução significativa nos incidentes de cyberbullying, há poucas pesquisas rigorosas sobre os efeitos de longo prazo das proibições.

Como começaram as proibições?

Os distritos escolares dos EUA vêm fazendo experiências com proibições de telefones há mais de 30 anos.

Em 1989, com o aumento das vendas de drogas ilegais, o Estado de Maryland aprovou uma lei que tornava ilegal que os alunos levassem pagers e aparelhos então conhecidos como “telefones celulares” para a escola. Os infratores poderiam ser multados e presos. Na década de 1990, à medida que mais alunos levavam celulares para a escola, os distritos também instituíram proibições para remover os dispositivos que tocavam durante as aulas.

No início dos anos 2000, após o massacre na Columbine High School, em Colorado, e os ataques terroristas de 11 de Setembro, as escolas começaram a reverter as proibições de celulares por motivos de segurança - para permitir que os alunos entrassem em contato com os pais em casos de emergência.

As proibições logo aumentaram novamente, pois as escolas tentaram conter as novas distrações em sala de aula: o iPhone e aplicativos populares como o Facebook. Em 2010, mais de 90% das escolas proibiram o uso de celulares pelos alunos durante o horário escolar, de acordo com dados federais.

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Mas a preocupação de que muitos alunos de famílias de baixa renda, que não podiam comprar seus próprios laptops, estavam usando celulares para fins educacionais fez com que alguns distritos escolares reconsiderassem. Em 2016, dois terços das escolas proibiram o uso de celulares.

Desde então, os alertas sobre o uso compulsivo de mídias sociais e o cyberbullying levaram mais escolas a instituir proibições. Na semana passada, dezenas de pesquisadores e defensores de crianças enviaram uma carta ao Secretário Miguel Cardona solicitando que o Departamento de Educação emitisse um comunicado instando as escolas de todo o país americano a proibir os celulares.

Por que as escolas estão proibindo os telefones?

Os jovens filmaram brigas violentas na escola e publicaram os vídeos no TikTok. Os alunos também participaram de desafios de mídia social nos quais vandalizaram propriedades escolares.

Em 2021, 16% dos alunos do ensino médio dos EUA disseram ter sofrido bullying por meio de mensagens de texto ou plataformas de mídia social como o Instagram no ano anterior, de acordo com um relatório deste ano dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

Defensores acreditam que redes sociais na escola podem gerar bullying Foto: Alice Labate/Estadão

Alguns alunos também estão sendo inundados por notificações de mídia social. Um relatório recente da Common Sense Media, que acompanhou cerca de 200 jovens com telefones Android, descobriu que os participantes normalmente recebiam 237 notificações de celular durante o dia - cerca de um quarto delas durante o horário escolar.

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As proibições de celulares nas escolas funcionam?

Relatórios nacionais sobre proibições de celulares nas escolas oferecem resultados mistos.

Uma pesquisa federal com diretores em 2016 constatou que as escolas com proibições de celulares relataram taxas mais altas de cyberbullying do que as escolas que permitiam o uso de celulares (o relatório não ofereceu uma explicação sobre o motivo pelo qual as escolas com proibições de celulares registraram taxas mais altas de cyberbullying).

Um estudo de escolas na Espanha, publicado no ano passado, constatou uma redução significativa no cyberbullying em duas regiões que haviam imposto a proibição do uso de celulares nas escolas. Em uma dessas regiões, as pontuações dos testes de matemática e ciências também aumentaram significativamente.

Estudantes precisam entender os riscos e as oportunidades que vêm com a tecnologia, desenvolver habilidades críticas e aprender como viver sem tecnologia

Unesco

Um estudo recente realizado na Noruega constatou que as alunas expostas à proibição de smartphones no ensino médio tinham notas médias mais altas. Mas as proibições não tiveram “nenhum efeito” nas notas médias dos meninos, talvez porque as meninas passassem mais tempo com seus telefones, segundo o estudo.

O que as escolas devem fazer?

Um relatório recente da Unesco recomenda que as escolas procedam com cautela, considerando a função que as novas tecnologias tem no aprendizado e baseado suas regras em evidências.

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A agência das Organizações Unidas também sugeriu que a exposição a ferramentas digitais, como o celular, pode ajudar os estudantes a desenvolverem senso crítico sobre as tecnologias emergentes.

“Estudantes precisam entender os riscos e as oportunidades que vêm com a tecnologia, desenvolver habilidades críticas e aprender como viver sem tecnologia”, afirmou a UNESCO. “‘Proteger’ os alunos de tecnologias novas e inovadoras pode os colocar em desvantagem”. / TRADUÇÃO POR ALICE LABATE

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