Ex-mulher de Jeff Bezos doa US$ 750 mil para ONG brasileira usar tecnologia no setor público

MacKenzie Scott fez a doação em dezembro para a Vetor Brasil, que faz treinamento de profissionais para atuarem na esfera pública usando algoritmos de combinação de talentos e plataforma de cursos online

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Foto do author Guilherme Guerra
Atualização:
A fortuna deMacKenzie Scott vem de ações da Amazon que ela obteve em 2019, após seu divórcio com Jeff Bezos, fundador da empresa Foto: Danny Moloshok/Reuters

A organização da sociedade civil Vetor Brasil, que usa tecnologia para capacitar profissionais para atuarem no setor público, anunciou nesta quinta-feira, 13, o recebimento de uma doação de US$ 750 mil (R$ 4,2 milhões) feita pela bilionária MacKenzie Scott, ex-mulher do fundador da Amazon, Jeff Bezos. Após o divórcio em 2019, ela tornou-a dona de um patrimônio de US$ 59 bilhões em ações da gigante do varejo, segundo a revista Fortune.

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“Esse é um reconhecimento muito grande do trabalho que a gente faz”, diz ao Estadão Joice Toyota, presidente executiva da Vetor Brasil, que ajudou a fundar em 2015 após concluir MBA na Universidade Stanford, nos EUA. Segundo a ONG, essa é a primeira vez que a bilionária americana faz um aporte em uma instituição de fora dos Estados Unidos — o recurso foi depositado em parcela única em dezembro passado de forma irretrista, ou seja, sem cobranças quanto ao uso do dinheiro, deixando a critério da organização escolher como melhor alocá-lo.

Desde que entrou para a filantropia, em 2019, MacKenzie Scott destinou mais de US$ 8,5 bilhões para doações em áreas que considera estratégicas na redução de desigualdades no mundo, como educação, equidade racial e mudança climática. O volume cedido tornou a ex-mulher de Bezos um dos nomes mais conhecidos da filantropia mundial.

O contato entre a Vetor Brasil e a bilionária americana foi mediado pela consultoria Bridgespan, especializada em encontrar organizações aptas para receber quantias de entidades filantrópicas — o grupo, que já assessorou as fundações Ford e Bill & Melinda Gates, é conhecido pelo rigoroso processo seletivo a que submete possíveis candidatos a receberem doações de seus clientes.

A Vetor Brasil não foi exceção, conta Joice: entre julho e setembro de 2021, a ONG brasileira teve de entregar uma série de documentos e realizar diversas reuniões, sem saber quem seria o doador. “Parecia que iam nos comprar, porque pediam muitas informações para nós. Mas tínhamos todos os relatórios em mãos”, lembra Joice. “Depois, nos disseram que o trabalho acabava ali e que o doador iria escolher. E aí uma equipe da MacKenzie Scott nos ligou para avisar que fomos selecionados.”

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Para a CEO, passar por um processo seletivo tão rígido e ter o aval de um dos maiores nomes da filantropia mundial são um carimbo de qualidade do trabalho da Vetor Brasil, que já havia recebido doações de institutos como Itaú, Lemann e Gol. “Todo mundo sabe que, se você passa por eles, você está muito mais capacitado. Mas o aporte é também um voto de confiança naquilo que a gente faz, porque, ao contrário de uma empresa, não temos a métrica do lucro para medir nosso desempenho”, diz ela.

Joice Toyota é cofundadora da Vetor Brasil, organização que usa tecnologia para treinar funcionários públicos Foto: Divulgação/Vetor Brasil

RH dos governos

Aprincipal atuação da Vetor Brasil é a atração, a seleção e o treinamento de pessoas que desejam trabalhar no governo, como pastas municipais, secretarias estaduais e ministérios — ao todo, já foram mais de 400 profissionais formados distribuídos em mais de 120 órgãos públicos de 14 partidos políticos na esfera pública. A diferença é que, ao contrário de consultorias do setor, a organização usa tecnologia para trazer eficiência e escala ao processo.

Atualmente em fase beta, a entidade desenvolveu algoritmos de combinação (inspirados em aplicativos de paquera, como o Tinder) para analisar o perfil dos candidatos, fazendo a ponte entre políticos e profissionais que desejam integrar gabinetes — a ideia é trazer perfis técnicos nos cargos comissionados do Executivo e Legislativo, especialmente dos entes subnacionais, fugindo de indicações que ignoram aptidões e competências. “Nós queremos que os governos tenham pessoas melhores”, observa Joice.

Além disso, a ONG possui um treinamento de capacitação de lideranças negras nos governos, o Ubuntu, para funcionários públicos pretos e pardos em cargos de chefia. Em outro projeto, é dado um treinamento a gestores das secretarias estaduais de educação, com foco na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

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Com o novo cheque em mãos, a organização, que possui atualmente 40 funcionários, pretende continuar a investir em tecnologia para escalar a capacitação de pessoas Brasil afora. Até o fim do primeiro semestre deste ano, já antevendo mudanças rotineiras nas equipes dos governos antes das eleições presidenciais, a Vetor do Brasil pretende lançar uma plataforma de cursos e ferramentas online para gestores escolares.

“O terceiro setor no Brasil ainda é muito artesanal. Precisamos trazer tecnologia para fazer uso eficiente do recurso filantrópico que vem para nós”, afirma Joice.

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