O Facebook anunciou nesta quinta-feira, 15, novos recursos da rede social para evitar a disseminação de notícias falsas, que se tornaram um dos principais desafios da rede social em 2016. A empresa fez parcerias com agências independentes de checagem de dados nos Estados Unidos que, a partir de agora, vão checar notícias reportadas como falsas por um número significativo de usuários. Além disso, a rede social vai facilitar denúncias sobre boatos e outras informações falsas que circulam na rede e alertar usuários que compartilham esse tipo de conteúdo.
No início, os novos recursos funcionarão em caráter de teste apenas nos Estados Unidos, mas se funcionarem de maneira esperada, a previsão é que o site adote os mecanismos globalmente nos próximos meses. As agências de checagem de dados Snopes, Politifact, ABC News e Factcheck.org estão entre as primeiras parceiras da empresa liderada por Mark Zuckerberg -- elas não receberão nenhum tipo de pagamento da rede social para checar as informações. Todas as empresas são parte da Rede Internacional de Checagem de Dados do Instituto Poynter, uma entidade sem fins lucrativos reconhecida por promover o ensino do jornalismo.
O Facebook vai identificar as notícias falsas a partir das denúncias feitas pela própria comunidade. Em entrevista ao Estado, John Hegeman, vice-presidente de gerenciamento de produto do Facebook, afirmou que será mais fácil para as pessoas reportarem conteúdo como falso na rede social. Segundo ele, ao tocar na opção "Denunciar publicação" -- acessível por meio do botão no canto superior direito de cada publicação --, o usuário já verá a opção para informar que trata-se de uma notícia falsa. Até agora, era preciso percorrer mais um nível para chegar a esse detalhamento, o que dificultava as denúncias.
Quando uma série de usuários da rede social marcarem uma notícia como falsa, as agências de checagem de dados entrarão em ação: elas vão verificar as informações com fontes confiáveis e, caso os dados não sejam verdadeiros, a notícia vai ganhar uma marca especial. Isso vai sinalizar para as pessoas que usam a rede social que o conteúdo não é confiável. Se duas ou mais agências de checagem concordarem que a notícia é falsa, ele vai ganhar uma espécie de selo que vai identificar o conteúdo como falso. Segundo o Facebook, ainda assim, o conteúdo não será excluído da rede social. "Não estamos na posição de julgar", diz Hegeman.
A rede social, entretanto, vai alertar os usuários caso eles tentem compartilhar o conteúdo, ainda que tenham visto a marcação. A pessoa terá de confirmar que quer compartilhar com sua rede de amigos, mas não será impedida de disseminar o conteúdo. As notícias marcadas como falsas pelas agências de checagem de dados também deixarão de ficar em evidência no feed de notícias dos usuários, independente de quais amigos compartilharam, o que pode reduzir a audiência dos sites responsáveis por esse tipo de conteúdo. Além disso, segundo Hegeman, a rede social não vai permitir que as notícias marcadas como falsas sejam promovidas, ou seja, tenham seu alcance amplificado por meio de pagamento ao Facebook.
Reação. O anúncio do Facebook ocorre pouco mais de um mês depois que Donald Trump derrotou Hillary Clinton na eleição presidencial norte-americana e a rede social enfrentou acusações de que os boatos que circularam no site teriam favorecido esse resultado. O presidente norte-americano Barack Obama chegou a criticar a rede socia classificando a onda de notícias falsas no Facebook como uma "nuvem de poeira sem sentido". O presidente executivo da rede social, por outro lado, tem rebatido as críticas ao dizer que apenas uma pequena porcentagem do conteúdo compartilhado por meio do Facebook é composto por boatos.
Com o anúncio dos novos recursos, porém, Zuckerberg adotou tom conciliador e disse que o Facebook é um novo tipo de plataforma de distribuição de conteúdo e, embora não produza as informações, têm responsabilidade de garantir que a distribuição de informações aconteça da melhor maneira possível na rede. Ainda assim, ele defendeu a posição da empresa de não banir notícias falsas do site. "Com quaisquer mudanças que fizermos, nós devemos lutar para dar voz a todas as pessoas e resistir a nos tornarmos juizes da verdade", disse Zuckerberg, por meio de seu perfil na rede social na tarde desta quinta-feira.
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