Depois de assistir ao sucesso repentino do Clubhouse, a concorrência já se movimenta para não ficar para trás — é a mentalidade do “pode copiar, só não faz igual” dos tempos de escola.
Desde dezembro de 2020, o Twitter está testando o Spaces, função que permitiria conversas por áudio em tempo real na plataforma do passarinho. Ao contrário do Clubhouse, no entanto, não há um “corredor” em que é possível procurar por salas com interesses comuns — só é possível entrar em uma sala se ela for divulgada em tuítes ou se um perfil estiver falando ao vivo.
Analistas esperam que o grande trunfo do Twitter seja a base de mais de 300 milhões de usuários ativos mensalmente, o que pode atrair os criadores de conteúdo que já estão se firmando no concorrente recém-chegado
Já o Facebook, segundo o The New York Times, já deu aval para um produto similar ao Clubhouse seja desenvolvido. Após comprar o Instagram, em 2012, e o WhatsApp, em 2014, e se inspirar nos “snaps” do Snapchat e nos vídeos do TikTok, Zuckerberg parece que não quer perder tempo.
Como se não bastasse a entrada de pesos pesados no jogo, foi anunciada a criação de mais uma rede social, a Fireside. Ela promete que criadores de conteúdo gravem, transmitam e monetizem podcasts, de acordo com o site The Verge. O projeto deve ver a luz do dia já em 2021, mas mais detalhes não foram revelados.
Além daqueles que estão correndo atrás, quem pode se beneficiar da onda é o Discord, aplicativo que existe desde 2015. Ele é utilizado principalmente pela comunidade de games para fazer transmissões, mas, ao contrário do movimento que o Clubhouse ensaia, nunca saiu do nicho para o qual foi criado.
A febre do áudio social
Outras 20 redes sociais com esses mesmos modelos já foram detectadas pelo especialista de tecnologia Jeremiah Owyang. Não à toa, a quantidade de serviços surgindo fez com que ele e o analista Alex Kantrowitz batizassem o fenômeno de “áudio social”, uma nova categoria de rede social. Nesses novos tempos, o texto não é suficiente para se expressar, mas fazer uso de vídeo parece trabalhoso demais para os usuários. A voz seria o meio-termo perfeito.
“Estamos no fim da era das curtidas e no início da era da voz na internet”, concorda Edney Souza, diretor acadêmico da Digital House Brasil. “O formato do Clubhouse veio para ficar porque nós estamos mais acostumados a consumir conteúdo por áudio, que é uma interface mais natural de comunicação”, explica. Somado a isso, o contexto de pandemia, em que parte da população mundial aderiu ao home office como medida sanitária para combater a covid-19, turbina a necessidade por interações mais reais e práticas.
O movimento pode não ser uma modinha pandêmica. Os especialistas acreditam que a pandemia apenas acelerou a tendência, que já vinha em alta com o consumo de podcasts. Somada a celulares equipados com microfones mais precisos, fones de ouvido para todos os gostos e a conexões de internet cada vez mais rápidas, a solução ganha força.
O desafio, no entanto, será prender os criadores de conteúdo com monetizações, algo em que rivais com maior capital podem sair na frente. Isso deixa a disputa mais nebulosa no longo prazo.
“Na medida em que uma rede social extremamente popular incorpore as medidas existentes no Clubhouse, será que vai desaparecer o incentivo para continuar no Clubhouse?”, reflete Carlos Affonso de Souza, do ITS-Rio.
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