Golpe dos ‘nudes’ no Instagram: perfis clonados enganam usuários com venda falsa de conteúdo erótico

Vítimas fazem denúncias em massa para atestar falsidade ideológica

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Foto do author Guilherme Guerra

“Bem-vindo à minha página privada”, publicou na segunda-feira, 13, o suposto perfil no Instagram de Évelin Nogueira, 25, moradora de São Carlos, interior de São Paulo, onde cursa Odontologia. “Inscreva-se agora e aproveite meus 30 dias de acesso gratuito e assista a todas as minhas cenas sem censura.” Nada disso é verdade, mas, na mensagem e no perfil, é uma foto pessoal da estudante que aparece.

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Nas últimas semanas, o Instagram foi tomado por uma onda de perfis clonados com fins maliciosos, perturbando a paz dos usuários que usam a rede social da Meta (empresa-mãe também de Facebook e WhatsApp). No golpe, criminosos roubam fotos de vítimas aleatórias, criam perfis aparentemente idênticos (com nome de usuário e descrição muito similares) e tentam vender conteúdo adulto se passando por essas pessoas.

A verdadeira Évelin foi avisada do perfil falso por amigos e amigas, que entenderam se tratar de um golpe. Mas a estudante não conseguia abrir o perfil, já que foi bloqueada pelo criminoso e, por isso, estava impossibilitada de visualizar a conta falsa.

Depois de fazer um apelo em sua própria conta para que denunciassem o esquema ao Instagram como falsidade ideológica, o perfil clonado saiu do ar no dia seguinte. “Ficou só um dia no ar, mas muita coisa pode acontecer nesse período”, diz.

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Évelin Nogueira conseguiu derrubar o perfil falso em seu nome no Instagram no dia seguinte após a denúncia Foto: Arquivo pessoal/Évelin Nogueira

Caso similar aconteceu com Júlia Scochi, 28, moradora da capital paulista e criadora de conteúdo focado em games. No Twitter, em 7 de fevereiro, ela publicou: “Gente, fizeram um ‘fake’ (perfil falso) meu no Instagram, e (a pessoa) está divulgando link malicioso. Podem me ajudar a denunciar por favor?”. Horas depois, a página saiu do ar.

“Percebi que estavam clonando diversos outros perfis e supostamente vendendo conteúdo adulto dessas pessoas. Muitas pessoas relataram o problema”, afirma Júlia.

O golpe mira dois alvos. O primeiro - e mais óbvio - são os donos dos perfis clonados. “O risco aqui é da reputação da pessoa, já que os atacantes estão se personificando de uma pessoa real para enganar outras vítimas”, aponta Luis Corrons, especialista de segurança da Avast.

O risco aqui é da reputação da pessoa, já que os atacantes estão se personificando de uma pessoa real para enganar outras vítimas

Luis Corrons, especialista de segurança da Avast

É o caso de Évelin. “Eles podem acabar com a minha imagem ao publicar essas coisas”, conta. Em uma das publicações feitas pelo perfil falso atribuído à estudante de Odontologia, os criminosos publicaram fotos de um vibrador, com o texto: “Quer me ver brincar com ele? Assine agora e tenha acesso grátis”.

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Évelin, é claro, ficou assustada. “Fiquei imaginando o que pensariam as pessoas da igreja da minha mãe, por exemplo”, diz.

O segundo tipo de vítima é aquele que clica no link malicioso, fornece informações pessoais e até faz transferências financeiras para os supostos donos do perfil. As contas clonadas direcionam essas vítimas para uma página falsa, onde dados podem ser roubados e o crime, enfim, realizado.

Vítimas ficam de mãos atadas

As vítimas têm muito pouco a fazer, caso descubram que tiveram seus perfis clonados, dizem os especialistas.

Eles, além do próprio Instagram, recomendam um único caminho: denunciar a conta junto à plataforma, reportando falsidade ideológica. Eles também reforçam que é importante que amigos e parentes se juntem às denúncias, aumentando o coro para o processo de revisão da plataforma ser acelerado.

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Em alguns casos, como de Évelin e Júlia, as contas saem do ar rapidamente. Mas nem sempre isso funciona.

O cozinheiro Iago Schmidt, 29, teve a conta no Instagram clonada também em 7 de fevereiro e, tão logo foi avisado por uma amiga, fez a denúncia pelo aplicativo. Mas, até a publicação desta reportagem, o perfil falso continuava no ar.

“Devido ao alto número de denúncias que recebemos, nosso time não foi capaz de revisar a sua denúncia”, afirmou o Instagram a Schmidt em 10 de fevereiro.

Por preocupação com a segurança, o cozinheiro trancou o próprio perfil na rede social, impedindo que estranhos visualizem sua conta. “Pretendo reabrir o perfil quando o ‘fake’ cair de fato ou quando eu cansar”, diz.

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Segundo especialistas, comunicar um boletim de ocorrência (B.O.) é uma saída, mas pode não ter efeito na velocidade necessária. “Esse método é possível, mas depende de ter dano comprovado”, explica Emilio Simoni, chefe de segurança da PSafe.

Instagram apresenta canais de denúncia de perfis clonados, mas solução nem sempre funciona Foto: Dado Ruvic/Reuters

Não há como se prevenir dos ‘clones’

Para evitar ser “clonado”, também não há o que fazer. Especialistas afirmam que a melhor solução é trancar o próprio perfil, tornando-o impossível de ser visualizado para estranhos e desconhecidos que não seguem a conta.

“É a única forma de se proteger. É a melhor recomendação”, afirma Fernando de Falchi, gerente de engenharia de segurança da Check Point Software Brasil. “Esse criminoso não parece ser um conhecedor de tecnologia”, diz o especialista, comparando-o com atacantes que criam vírus ou páginas para roubar dados.

Com clonagens de perfis, não dá para fazer muita coisa

Emilio Simoni, chefe de segurança da PSafe

Simoni, da PSafe, concorda. “Se a pessoa tiver perfil privado, reduz as chances de golpe”, diz. “Mas, infelizmente, com clonagens de perfis, não dá para fazer muita coisa.”

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Essa infestação de clones no Instagram não é exatamente uma novidade da rede social. No final de janeiro, a plataforma também foi tomada por outro fenômeno: perfis falsos que “interagem” com usuários, curtindo fotografias e engajando com os Stories. Nesse caso, tratam-se de robôs (bots), que fazem tarefas automatizadas tentando levar pessoas a links maliciosos. É um problema que também vem perturbando usuários de outras redes sociais.

Em dezembro passado, o Twitter, adquirido por Elon Musk em outubro por US$ 44 bilhões, passou por problema similar ao implementar o Twitter Blue, serviço de assinatura que, entre diversos benefícios exclusivos, concede um selo de verificação da conta.

Contrariando as regras da plataforma, usuários, em tom jocoso, criavam perfis imitando celebridades também verificadas e tentavam se passar por elas, causando confusão na rede social — a farmacêutica Lilly perdeu bilhões de dólares em avaliação de mercado depois que um usuário criou uma conta falsa e publicou que a empresa tornaria gratuita a comercialização da insulina. Após o caso, o Twitter implementou mudanças para evitar que a situação se repita.

O que diz o Instagram

Ao Estadão, a Meta afirma que a prática não é permitida no Instagram e que a empresa busca aprimorar “a tecnologia para combater atividades suspeitas”.

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O Instagram também lembra que há um formato mais burocrático para fazer uma denúncia: ir a um formulário, por onde a vítima deve enviar documentos pessoais comprovando a própria identidade. O método não permite que terceiros façam a denúncia.

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