O que é inteligência artificial geral, mencionada por Musk em seu processo contra a OpenAI?

Bilionário processa OpenAI e Altman, alegando desvio de propósito em aliança com a Microsoft

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Por Henrique Sampaio
Atualização:

Na noite da quinta-feira, 29, Elon Musk entrou com um processo contra a OpenAI e seu CEO Sam Altman, acusando a companhia de deturpar seu propósito original em sua aliança com a Microsoft.

A petição escrita pelos advogados de Musk diz que a OpenAI “não está apenas desenvolvendo, mas está refinando uma inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) para maximizar os lucros da Microsoft, e não para o benefício da humanidade.”

Musk suspeita que GPT-4 seja AGI, violando contrato comercial  Foto: Dado Ruvic/Reuters

Segundo o documento, o GPT-4, última versão do ChatGPT, já supera os seres humanos em raciocínio e que, portanto, há suspeitas de que a ferramenta seja um algoritmo AGI. Com isso, a OpenAI estaria violando o próprio contrato comercial com a Microsoft, uma vez que o acordo entre as companhias está restrito à “tecnologia pré-AGI”. A texto ainda menciona a construção de um modelo ainda mais avançado, o Q* (Q Star), que teria um potencial ainda maior de ser uma AGI.

Mas o que é uma AGI?

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Em geral, AGIs são definidos como sistemas autônomos com capacidade de superar os humanos em quase qualquer tipo de atividade. Contudo, ainda existe muito debate - e discordância - sobre o tema

O termo “inteligência artificial geral” foi usado pela primeira vez pelo físico Mark Gubrud em 1997 em um artigo sobre nanotecnologia e segurança internacional, porém popularizado a partir de 2001 pelo especialistas em IA Shane Legg, cofundador do Google DeepMind, e Ben Goertzel, o cientista chefe por trás do infame robô Sofia. Conforme o desenvolvimento tecnológico avançou, o termo passou a ganhar notoriedade, deixando os ambientes acadêmicos e alcançando o jargão comercial, com a ascensão das IAs generativas.

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Segundo a equipe do Google DeepMind, empresa focada em pesquisa e desenvolvimento de IA, uma AGI pode ter cinco níveis ascendentes: emergente, competente, expert, virtuoso e superhumano. No último estágio, a AGI seria capaz de realizar tarefas impossíveis aos seres humanos, incluindo prever eventos futuros, ler pensamentos e se comunicar com animais. Dentro desta perspectiva, chatbots como ChatGPT e Gemini, do Google, estariam dentro do nível inicial de uma AGI.

Para o vice-presidente do Google Research, Blaise Agüera y Arcas, e o diretor de pesquisas da Universidade Stanford, Peter Norvig, os modelos atuais “já executam com competência mesmo em novas tarefas para as quais elas não foram treinadas, cruzando um limitar que as gerações anteriores de IA e sistemas de aprendizagem profunda nunca conseguiram.” Os especialistas ainda prevêem que os chatbots serão reconhecidos no futuro como os primeiros exemplos de AGI, tal como o ENIAC, de 1945, é reconhecido hoje como o primeiro computador eletrônico.

O cientista Gary Marcus, especialista em IA, porém, discorda que chatbots sejam AGI, uma vez que são baseados nos modelos amplos de linguagem (LLMs), treinados para aprender a partir de enormes bancos de dados públicos. Para Marcus, AGI é “uma abreviação para qualquer inteligência (pode haver muitas) que é flexível e geral, com desenvoltura e confiabilidade comparáveis (ou superiores) à inteligência humana.”

Para ele, as atuais IAs não são capazes de fazer isso e falham especialmente na parte da confiabilidade. “Elas não podem, por exemplo, obedecer ao ditado ‘não invente coisas’, quando escreve uma biografia ou uma nova história, e ainda não as vimos dirigir carros tão bem quanto um adulto humano médio.”

Apesar das divergências, há uma verdadeira corrida do ouro em torno das AGIs, o que deve acontecer de forma “gradual e não uma ruptura repentina”, segundo Demis Hassabis, fundador e presidente da DeepMind.

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