Já foi incomodado pelo ‘jogo do tigrinho’ hoje? Perfis infestam Instagram e no WhatsApp

Usuários das redes sociais relatam que foram seguidos, marcados em fotos ou adicionados em grupos por contas criados somente para divulgar o jogo de azar

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Foto do author Alice Labate

Nos últimos meses, um novo tipo de perfil tem se proliferado no Instagram e no WhatsApp, causando incômodo e preocupação entre os usuários das plataformas. Trata-se das contas dedicadas exclusivamente à divulgação do jogo de azar “Fortune Tiger”, popularmente conhecido como “jogo do tigrinho”.

Relatos de quem é importunado pelas contas indicam que esses perfis seguem um padrão específico, com nomes de usuário complexos, números de telefone internacionais e fotos de perfil com a imagem de um tigre. Essas contas geralmente se utilizam de quatro formas para alcançar os usuários: seguindo, marcando em fotos e enviando mensagens. O esquema de divulgação inclui um quarto método: incluir os usuários em grupos no WhatsApp.

Perfis divulgando o jogo do tigrinho vem incomodando usuários Foto: Alice Labate/Estadão

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Ana Maria de Souza, 52, é cozinheira e contou que foi adicionada a grupos no WhatsApp três vezes. “Foi muito ruim, porque eles não criam apenas grupos, mas também comunidades, o que torna ainda mais difícil sair. Estava com medo de que fosse algum tipo de vírus”, relata, “Usaram meu número pessoal e duas vezes o meu número de trabalho, o que acabou atrapalhando meu serviço”.

Rafael Oliani, 24, é estudante de engenharia de produção e enfrentou uma situação parecida, mas no Instagram. “Recebi uma notificação de que fui adicionado a um grupo no Instagram. Quando entrei, vi que tinham enviado um texto bem grande falando sobre o ‘jogo do tigrinho’ e um link para uma conversa no WhatsApp”, conta Rafael.

O “Fortune Tiger” ou “jogo do tigrinho” é um jogo de azar online do tipo caça-níquel virtual. Nessa plataforma, os jogadores apostam dinheiro na esperança de combinar três figuras iguais em três fileiras, o que resultaria em prêmios em dinheiro. “Esse jogo de azar foi desenvolvido pela empresa maltesa PG Soft. No Brasil, o jogo não possui registro, e, em setembro de 2023, ele foi retirado da Play Store”, explica Fernando de Falchi, gerente de Engenharia de Segurança da Check Point Software do Brasil.

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Ainda que a versão original esteja banida, clones do jogo se espalharam pelas lojas de aplicativos, e a a ação nas redes sociais é intensa para divulgá-lo.

“Na minha opinião, esse golpe explora a popularidade crescente de jogos online e a tendência das pessoas de buscar recompensas rápidas e fáceis. É possível que sua disseminação rápida e eficiente tenha sido facilitada pelo uso de redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, que permitem atingir um grande número de pessoas em pouco tempo”, completa o especialista.

Como funciona a divulgação do jogo nas redes sociais?

Os perfis que divulgam o “jogo do tigrinho” geralmente são identificados por terem caracteres aleatórios como nome de usuário, além de utilizarem números de telefone de outros países. Essas escolhas de formatação da conta podem parecer aleatórias, mas, de acordo com o especialista Falchi, não é.

Segundo ele, esses perfis costumam usar nomes de usuário complexos para evitar filtros automáticos de spam e dificultar o rastreamento, além disso, muitas dessas contas são criadas por bots, que geram nomes aleatórios em massa. Os números de telefone utilizados, por sua vez, geralmente possuem DDDs de outros países, ocultando a origem real dos golpistas e evitando bloqueios locais.

Outra questão é a da seleção dos usuários que vão receber as mensagens de spam. A escolha também parece aleatória, mas Falchi novamente explica que não. “Os golpistas usam bots para vasculhar redes sociais, fóruns e outras plataformas online em busca de dados de contato, como números de telefone e endereços de e-mail”, conta Falchi. “Eles obtêm listas de contatos de vazamentos de dados ou compram essas listas em mercados clandestinos na dark web.”

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“Achei bem esquisito. Não sabia direito o que era esse jogo, mas o texto parecia suspeito, por isso, decidi não entrar mais no grupo, saí depois de um tempo e deixei arquivado”, afirma o estudante de engenharia de produção. Rafael também conta que essa não foi a primeira vez que ele havia se deparado com o jogo de azar: “Nunca tinha sido adicionado em um grupo assim, mas já havia sido seguido no Instagram algumas vezes por esses perfis divulgando o golpe”.

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Ana Maria, por sua vez, também hesitou em tentar sair dos grupos imediatamente. “Não tentei sair imediatamente porque tinha medo de acessar a conversa e piorar a situação. Eram tantas mensagens que preferi apenas ignorar e não mexer mais”, explica. A situação foi inédita para Ana Maria. “Sim, foi a primeira vez que passei por isso. Nunca tinha sido adicionada a tantos grupos indesejados dessa forma antes”, finaliza.

O especialista explica que perfis com configurações de privacidade fracas são alvos fáceis. “Golpistas podem coletar informações de perfis públicos e usar essas informações para criar mensagens personalizadas que parecem legítimas. Eles participam de grupos e comunidades online onde podem acessar facilmente listas de membros e obter suas informações de contato”, conta Falchi

Ele também destaca o uso de perfis falsos para realizar a divulgação desse conteúdo: “Criam perfis falsos e enviam solicitações de amizade para aumentar suas redes de contatos. Uma vez aceitos, começam a enviar mensagens de spam. Enviam e-mails de phishing para coletar dados pessoais. Uma vez que um usuário cai no golpe, suas informações são usadas para futuras tentativas de fraude”.

O que diz a Meta?

As políticas do Instagram (as mesmas do Facebook) dizem que contas relacionadas a apostas online devem ter a permissão da plataforma para divulgar esse conteúdo. Porém, a rede social proíbe publicação excessiva, venda de privilégios e engajamento forçado. Além disso, veta práticas de engajamento sob pretextos falsos e o uso de URLs enganosas, e também não permite interfaces enganosas que geram tráfego acidental e typosquatting - prática em que um domínio é criado com um erro de digitação proposital para imitar marcas conhecidas.

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No WhatsApp, por sua vez, em sua política proíbe que os usuários se envolvam em fraudes ou spam, “isso inclui contatos repetidos e indesejados com usuários do WhatsApp e atividades que enganem ou fraudem o WhatsApp ou nossos usuários por meio de manipulação ou falsificação de identidade proposital”.

Contas divulgando jogo de azar inundaram redes sociais nas últimas semanas Foto: Alice Labate/Estadão

Em resposta ao Estadão, a Meta, empresa responsável pelo Instagram e pelo WhatsApp, explicou suas políticas e ações para combater esses conteúdos indesejados nas plataformas. “Trabalhamos muito para limitar a disseminação de spam no Facebook e no Instagram porque não permitimos conteúdos que possam enganar os usuários. Entendemos que esse tipo de conteúdo cria uma experiência negativa e prejudica a capacidade das pessoas de interagir de forma autêntica em suas comunidades”, declarou a empresa.

Sobre o WhatsApp, a empresa explicou ao Estadão que a plataforma ”trabalha ativamente para reduzir o envio de qualquer tipo de conteúdo indesejado (spam) no nosso sistema. No entanto, assim como acontece com mensagens SMS e ligações telefônicas, outros usuários do WhatsApp ou empresas que têm seu número de telefone podem entrar em contato com você”.

A Meta também enfatizou a importância da denúncia dos usuários para identificar contas suspeitas. “Recomendamos que as pessoas denunciem perfis que acreditem que possam violar nossas políticas”, instruiu.

Como se proteger para não cair no golpe?

Para se proteger contra golpes como o do “jogo do tigrinho”, é essencial adotar práticas robustas de cibersegurança e vigilância contínua.

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Falchi, da Check Point Software do Brasil, destaca a importância de desconfiar de mensagens não solicitadas e verificar a autenticidade das fontes. “Mensagens que prometem ganhos fáceis ou impõem urgência são suspeitas”, alerta. Ele também recomenda o uso de software de segurança atualizado e a ativação da autenticação em duas etapas.

A Meta, por sua vez, disse ao Estadão que oferece em suas redes sociais várias opções para proteger os usuários contra perfis fraudulentos. No Instagram, é possível denunciar e bloquear contas que enviam spam e ajustar as configurações de privacidade para limitar quem pode adicionar você em grupos. “Fechar o perfil do Instagram para não ser adicionado por ninguém aplicando golpes é uma boa proteção, caso isso seja possível”.

Para denunciar um perfil no Instagram é necessário estar na conta que deseja denunciar e clicar nos três pontinhos que estão no canto superior direito da tela. Depois basta clicar em Denunciar e seguir as instruções da plataforma para especificar o motivo da denúncia.

No WhatsApp, caso um contato enviar uma mensagem de spam, basta entrar nos dados desse contato, rolar a tela e selecionar a opção Denunciar. É possível fazer o mesmo em um grupo no app, basta rolar a tela e clicar no botão vermelho Denunciar grupo.

Ainda é possível tomar outra medida de segurança no mensageiro, evitando que pessoas que não estão nos contatos te adicionem em grupos. Para isso, vá em Configurações no aplicativo, em seguida em Privacidade e entra na aba Grupos, então é só clicar na opção Meus contatos. Com essa opção se alguém de fora dos números salvos tentar adicionar um usuário em um grupo, ele receberá uma mensagem permitindo que escolha entrar ou não.

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*Alice Labate é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani

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