Modelos de IA se tornarão mais eficientes e debate sobre regulação vai esquentar; leia análise

Na série sobre o que esperar da inteligência artificial em 2024, Fabio Cozman, da USP, fala sobre como a tecnologia ficará mais poderosa e forçará conversas sobre governança e responsabilidade

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Por Fabio Cozman

Escrevo esse texto enquanto participo da NeurIPS edição 2023, uma das maiores conferências do mundo sobre inteligência artificial (IA). Vinte anos atrás, essa conferência reunia cerca de 600 pesquisadores; hoje, mais de 20.000 pessoas se acotovelam em New Orleans, nos Estados Unidos. Esse explosivo crescimento é consequência de vitórias que pareciam improváveis há vinte anos.

A coleta e uso de grandes massas de dados permitiu que inteligências artificiais identifiquem imagens, compreendam textos, auxiliem processos de planejamento, entre outras habilidades surpreendentes. Mais do que isso: neste ano de 2023 presenciamos o impacto social dos modelos de linguagem, como por exemplo o GPT, base do ChatGPT. Um modelo de linguagem é uma representação matemática que nos informa, dados alguns símbolos, quais são os próximos símbolos mais prováveis em uma determinada linguagem. É de fato incrível que tais modelos produzam texto com a qualidade que observamos em nossos computadores.

Modelos devem se tornar mais poderosos e eficientes em 2024 Foto: Dado Ruvic/Reuters

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O que esperar de 2024? Sem dúvida, uma previsão fácil é que veremos ainda mais aplicações de impacto da IA. Em particular, na academia veremos cada vez mais a IA aplicada à compreensão e à antecipação de fenômenos físicos ou sociais, nos mais variados campos do saber. Por exemplo: a IA pode combinar grandes massas de dados e com conhecimento sobre oceanos para prever ressacas e alertar populações ribeirinhas, e pode combinar milhões de dados do SUS para encontrar a melhor estratégia de vacinação.

Surpresas mais fortes deverão vir dos modelos de linguagem. A pesquisa em IA está no momento fortemente concentrada nesses modelos. Em 2023 não só percebemos a sua enorme promessa, mas também identificamos seus pontos fracos. Dois desses pontos devem ser mencionados, pois serão importantes em 2024. Em primeiro lugar, modelos de linguagem hoje produzem informações falsas com extrema facilidade (as chamadas “alucinações”). Em segundo lugar, modelos de linguagem têm tido dificuldade para responder questões que envolvem raciocínio, por exemplo questões matemáticas. Dado o incrível esforço que vemos hoje em torno desses desafios, podemos esperar para 2024 uma nova geração de modelos, mais eficientes no uso de energia, com maiores garantias de veracidade em suas afirmações, e com maior habilidade de se conectar com programas auxiliares — por exemplo, programas que facilmente resolvam questões matemáticas. Grandes empresas têm mostrado que pretendem levar esses avanços para o mercado com celeridade.

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Em 2024 também veremos uma discussão muito mais acalorada, no mundo inteiro, sobre regulação e governança da IA. A União Europeia aprovou há pouco regras que merecem ainda muita análise; outros países estão debatendo o assunto e testando várias abordagens diferentes. Pode-se prever avanço em alguns pontos, como por exemplo diretrizes sobre como avaliar e quantificar os riscos associados a uma inteligência artificial. Em particular, em 2024 veremos esforços das próprias empresas para avaliar e certificar suas tecnologias de IA como socialmente adequadas. Os países que tiverem cuidado nesse processo de regulação terão mais sucesso: uma previsão garantida para o futuro é que quem proibir a tecnologia estará em piores condições econômicas e sociais em alguns anos.

Como a área de IA tem atraído muita atenção e muitos investimentos, previsões são arriscadas. Infelizmente, ainda não conhecemos nenhuma inteligência que consiga prever o futuro corretamente.

*Fabio Cozman é diretor do Centro de Inteligência Artificial da Universidade de São Paulo (USP)

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