THE WASHINGTON POST - Depois que a pandemia derrubou as barreiras entre o trabalho e o lar, muitos funcionários reorganizaram suas prioridades, dando mais ênfase ao bem-estar e à família. Como resultado, o perfil do LinkedIn também e os trabalhadores ficaram confortáveis em compartilhar assuntos pessoais, como anúncios de noivado, suas jornadas de fertilidade, diagnósticos de câncer, status de relacionamento, momentos engraçados com seus animais de estimação e até o que cozinharam para o jantar.
Embora muitos publiquem esse conteúdo com moderação, alguns dizem que isso os humaniza para sua rede profissional. Outros dizem que suas histórias se relacionam com lições que podem ser aplicadas nos negócios. Enquanto alguns acham o conteúdo irritante.
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Pode ser também um reflexo das mudanças no cenário das mídias sociais. O X, anteriormente conhecido como Twitter, perdeu muitos de seus usuários mais influentes à medida que o aplicativo se tornou menos funcional para contas gratuitas sob a propriedade do bilionário Elon Musk. Enquanto isso, após uma estreia impressionante, o Threads, o mais recente aplicativo da Meta, dona do Facebook, viu uma diminuição na atividade. O Instagram e o TikTok continuam a prosperar entre os usuários mais jovens, especialmente com conteúdo em vídeo.
O LinkedIn diz que seu engajamento de usuários dobrou no início da pandemia e experimentou um aumento de 40% entre 2021 e 2023. O número de usuários que visitam o site pelo menos uma vez por mês deve aumentar em mais de 8 milhões, chegando a 84,1 milhões até 2027, com a Geração Z sendo um grande motor de crescimento, mostram dados da empresa de pesquisa de mercado Insider Intelligence. No mesmo período, espera-se que o número de usuários do Facebook diminua em 600 mil, chegando a 177,3 milhões, e os usuários do Instagram devem crescer 20,2 milhões, alcançando 155,4 milhões.
O LinkedIn diz que viu um aumento nas postagens pessoais durante o pico da pandemia, mas isso desde então desacelerou. Para garantir que os feeds das pessoas permaneçam úteis, a empresa fez alterações em seu algoritmo. Agora, ele mostra mais publicações de conexões diretas e seguidores, bem como daquelas de pessoas fora de suas redes que são baseadas em conhecimento profissional e conselhos. Ainda assim, o conteúdo do LinkedIn está refletindo uma mudança maior na sociedade que está acontecendo no local de trabalho.
“Estamos muito mais abertos como profissionais para falar sobre o que fazemos além do nosso trabalho e para mostrar vulnerabilidade em como operamos”, disse Dan Roth, editor-chefe e vice-presidente do LinkedIn. “Há um desejo por autenticidade. Você quer trabalhar com pessoas que são reais, não robôs.”
Escolha por parecer vulnerável
Usuários que escolhem ser mais vulneráveis no LinkedIn dizem que compartilhar partes de suas vidas pessoais tem sido benéfico para eles. Eles conseguem revelar suas personalidades, se relacionar com os outros e, muitas vezes, receber respostas significativas de seus seguidores.
Para Rachel B. Lee, uma co-proprietária e diretora de marketing de 35 anos da firma de marketing StandOut Authority, compartilhar experiências pessoais online é imperativo para construir uma marca de sucesso, incluindo a dela. Ela postou recentemente uma foto chorando no carro, junto com a história por trás da foto: ela estava lamentando o terceiro cancelamento de transferência durante sua jornada de fertilização in vitro. Na postagem, ela enfatiza a importância da saúde mental e oferece dicas.
“Faz parte da minha missão dar permissão às pessoas para compartilharem sua voz autenticamente”, disse a moradora de Austin. “Isso é o que fazemos como empresa, então se eu não posso viver nesse espírito, isso é um problema.”
Alguns usuários que começaram a compartilhar partes de suas vidas pessoais na plataforma acharam isso recompensador de mais de uma maneira. Casey Nelson, fundador e CEO da empresa de consultoria de tecnologia StakWise Data Automation, compartilhou recentemente algo que não havia contado a ninguém além de seu círculo íntimo de amigos e familiares: ele está passando por um divórcio.
Ele disse que revelou a notícia porque queria que suas conexões profissionais soubessem por que ele não havia postado recentemente, já que costuma usar o LinkedIn para se conectar com clientes. Ele também lembrou como uma postagem anterior de uma amiga no Facebook discutindo seu divórcio ajudou a tranquilizá-lo sobre o dele. Ele queria retribuir.
Vários usuários dizem que suas histórias pessoais são voltadas para explorar lições de vida ou profissionais mais amplas.
Jenna Fisher, diretora administrativa da empresa de busca executiva e consultoria de liderança Russell Reynolds Associates, disse que geralmente posta sobre o avanço das mulheres em cargos executivos de topo e tendências de liderança. Mas, em uma postagem recente, ela falou sobre sua cirurgia para corrigir um desvio de septo, depois de anos sem conseguir respirar direito.
“Não percebemos [as limitações autoimpostas] até que elas desapareçam”, disse ela.
No entanto, alguns conteúdos pessoais podem ser irritantes. “Eu vi muitas pessoas reclamarem sobre isso”, disse Americus Reed, professor de marketing na Wharton School da Universidade da Pensilvânia, sobre postagens puramente pessoais. “As pessoas têm uma tolerância menor para esse tipo de coisa porque o LinkedIn está bem situado em sua identidade profissional.”
O propósito de uma postagem
Quando se trata de expor seus pensamentos, sentimentos ou experiências mais íntimas, ajuda ou atrapalha compartilhá-los em uma rede social profissional? De acordo com especialistas em mídias sociais e negócios, tudo depende do que você está tentando transmitir e de como faz isso.
Ovul Sezer, professora assistente de gestão e organizações na Cornell S.C. Johnson College of Business, estudou impressões de diferentes tipos de perfis no LinkedIn. Ela disse que muitas das conclusões também podem se aplicar às postagens.
“Se você falar sobre sua jornada - os altos e baixos - então as pessoas costumam a pensar que você é mais simpático, e isso demonstra humildade”, diz ela. “Antes de postar, pergunte-se: ‘Isso diz algo específico sobre minha história?’”. /TRADUÇÃO BRUNO ROMANI
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