Inteligência artificial do governo brasileiro deve ganhar escala a partir de 2026, diz ministra

Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) foi apresentado a Lula nesta semana, com regulamentação da tecnologia e previsão de investimentos

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A ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, estima que o País levará ao menos dois anos para alcançar resultados em larga escala do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). Em entrevista ao Estadão/Broadcast, a ministra explica que, a partir de um sistema nacional de armazenamento de dados, ao qual denomina como “nuvem soberana”, o objetivo é criar ferramentas para otimizar a gestão pública e garantir segurança a dados sensíveis.

A proposta do plano “IA para o Bem de Todos”, apresentada nesta semana, prevê investimento de R$ 23,03 bilhões entre 2024 e 2028. Uma das etapas mais imediatas é a destinação de recursos para a consolidação da “nuvem soberana”, que deve ser a base para a entrega dos primeiros resultados que poderão ser observados diretamente pela população.

Presidente Lula recebeu nesta semana o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que regulamenta a tecnologia e prevê investimentos em infraestrutura no País Foto: Wilton Junior/Estadão

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A “nuvem soberana”, com armazenamento e cruzamento de dados, será viabilizada pelo já existente Supercomputador Santos Dumont, do Laboratório Nacional de Ciência da Computação (LNCC), que receberá o aporte de R$ 700 milhões. Será a partir do supercomputador que o governo federal criará parte das ferramentas de inteligência artificial para uso em áreas como saúde, educação, agricultura e emprego.

“Entendemos que a nossa estrutura atual não é suficiente para o tamanho e a quantidade de dados e a velocidade que precisamos para o desenvolvimento da inteligência artificial”, explica a ministra ao justificar o investimento de R$ 700 milhões no LNCC. Mesmo com o aporte milionário, Luciana Santos destaca que é preciso de tempo e grandes equipes para desenvolver o projeto e integrar as informações necessárias.

Na área da Saúde, a expectativa é de que a IA possa acelerar a velocidade da entrega de diagnósticos de doenças específicas. “Temos alguns projetos já em desenvolvimento no SUS e queremos entregar a versão piloto em um ano”, afirma a ministra. Ainda na Saúde, a inteligência artificial deve ser utilizada para reduzir desperdícios na distribuição de medicações e equipamentos.

“Com a inteligência artificial, você vai identificar aquilo que já tem no Data SUS, como é que está a situação do paciente, para que a gente otimize, torne eficiente a logística de distribuição”, explica Luciana Santos.

Na área de emprego, os esforços serão para cruzar os dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e as vagas de trabalho disponíveis no Sistema Nacional de Emprego (Sine). “Poderemos comparar os perfis, inclusive para aproveitar para fazer a porta de saída do Bolsa Família”, detalha a ministra.

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Transferência tecnológica

O plano prevê 31 impactos divididos em sete aplicações em curto prazo. “A maioria dessas soluções depende de aplicativos, de transferência tecnológica, de compra. E o nosso desafio é ter soluções nossas. A grande entrega que faremos são aplicações dessas soluções no Brasil”, afirma Luciana Santos.

FR45 SAO PAULO 27/09/2023 - NACIONAL - MINISTRA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA- Foto da ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. FOTO: FELIPE RAU /ESTADÃO Foto: Felipe Rau/Estadão

Para além do plano lançado nesta semana, o governo atua com 11 centros aplicados de inteligência artificial, sete a mais desde a posse da atual gestão do Executivo Federal. “Nós estamos descentralizando de modo a ter, em desafios de temas diferenciados, soluções brasileiras de inteligência artificial”, diz.

Orçamento

Dos R$ 23,03 bilhões previstos para o programa, R$ 12,72 bilhões são oriundos de créditos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FDNCT) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros R$ 5,57 bilhões correspondem ao recurso não-reembolsável do FNDCT; R$ 2,90 bilhões, à Lei Orçamentária Anual (LOA), sem FNDCT não-reembolsável; R$ 1,06 bilhão, ao setor privado, com investimentos e contrapartidas; R$ 430 milhões, a empresas estatais; e R$ 360 milhões de demais fontes.

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Os valores projetados são totais e ainda dependem de confirmação na programação orçamentária e financeira de cada ano. A maioria das verbas seria destinada para ações de Inovação Empresarial.

Nesta semana, após a entrega do plano ai presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra disse ser preciso consolidar recursos da Lei Orçamentária Anual (LOA) e do FNDCT. Luciana afirmou, em coletiva de imprensa depois do evento de apresentação, que os valores estão chancelados, principalmente aqueles de impacto de um ano. Porém, ponderou: “Como é [um plano] dinâmico, vamos precisar buscar mais fontes, com certeza.”

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