Pergaminhos de 2 mil anos são revelados com ajuda de IA: ‘É uma revolução na filosofia grega’

Trio de pesquisadores criou algoritmos que conseguiram ler um lote de cartas da Grécia Antiga carbonizado pela erupção do Vesúvio, em 79 d.C.

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Foto do author Guilherme Guerra
Atualização:

As Ciências Humanas têm uma nova aliada: a inteligência artificial (IA).

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Um lote de pergaminhos em papiro de quase 2 mil anos de idade teve seu conteúdo enfim revelado pela primeira vez após pesquisadores utilizarem IA para decifrar o material, carbonizado e deteriorado com os séculos. Para a área, a descoberta pode destravar lacunas que a arqueologia e historiografia não conseguiram desvendar — uma revolução.

O anúncio foi realizado nesta segunda-feira, 5, como resultado do prêmio do Desafio do Vesúvio (Vesuvius Challenge), criado pelo cientista computacional Brent Seales, da Universidade do Kentucky, e por apoiadores no Vale do Silício, na Califórnia, EUA. Lançado no ano passado, o objetivo é chamar cientistas para desenvolverem algoritmos para escanear pergaminhos em papiro e transformá-los em imagens em alta resolução por meio de tomografia computadorizada.

Quem levou o prêmio foi o trio de jovens pesquisadores Youssef Nader (Alemanha), Luke Farritor (Estados Unidos) e Julian Schillinger (Suíça), recebendo US$ 700 mil, segundo o executivo americano Nat Friedman, um dos patrocinadores do desafio.

Reprodução/Vesuvius Challenge Foto: Reprodução/Vesuvius Challenge

O trio criou um software que leu 2 mil cartas da Grécia Antiga. O lote era mantido em uma luxuosa villa romana em Heculano, mas foi queimado no ano de 79 depois de Cristo, quando o Vesúvio devastou a Pompeia e levou cinzas às cidades vizinhas. Escavações do século 18 recuperaram mais de mil pergaminhos do lote, cuja propriedade é atribuída ao sogro do imperador romano Júlio César — e, até então, o conteúdo dos pergaminhos estava oculto de pesquisadores, devido à carbonização do material.

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O trio se uniu de forma pouco comum. Em outubro passado, Farritor criou um software que conseguiu identificar a palavra grega “roxo”, o que lhe resultou um prêmio de US$ 40 mil em desafio semelhante. Em novembro, ele se juntou a Nader e, dias depois, a Schillinger, que desenvolveu um algoritmo que revela imagens de tomografia computadorizada (TC). A inscrição do trio foi feita no prazo máximo para inscrever o projeto, em 31 de dezembro.

Este é o início de uma revolução na papirologia de Herculano e na filosofia grega em geral

Federica Nicolardi, da Universidade de Nápole Federico II

“Este é o início de uma revolução na papirologia de Herculano e na filosofia grega em geral. É a única biblioteca que chegou até nós da antiga Época Romana”, declarou ao jornal The Guardian a papirologista Federica Nicolardi, da Universidade de Nápole Federico II.

O que vem após a descoberta

Agora, os papirologistas e historiadores devem se debruçar sobre a transcrição dos pergaminhos e decifrar os conteúdos. Em leitura preliminar, os rascunhos indicam que se trata de um texto do filósofo e poeta Filodermo de Gadana (110-35 a.C.), um seguidor de Epicuro e professor de Virgílio.

“O epicurismo diz olá, com um texto cheio de música, comida, sentidos e prazer!”, diz Federica, após analisar os rascunhos.

Criador do Desafio Vesúvio, o cientista Brent Seales, da Universidade do Kentucky, nos EUA, afirma que vai construir um escâner de tomografia computadorizada portátil e treinar algoritmos de IA para realizar o trabalho. Segundo ele, o objetivo é evitar retirar os pergaminhos de suas coleções.

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“Estamos entrando em uma nova era”, disse Seales ao The Guardian.

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