ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN - Em 2045, os humanos vão ser capazes de desafiar as leis vigentes da natureza e viver até 500 anos. É o que prevê o ex-engenheiro do Google, inventor e pioneiro da tecnologia Ray Kurzweil, que no domingo 10 subiu ao palco do South by Southwest (SXSW) 2024, festival de inovação, música e cinema que acontece entre os dias 8 e 16 de março em Austin, nos EUA.
Essa longevidade não vai vir de avanços surpreendentes na medicina, como se poderia imaginar. Mas sim da inteligência artificial (IA), que, segundo Kurzweil, vai se tornar eficiente a ponto de conseguir mapear o cérebro de alguma pessoa e “baixar” as informações nele.
“Em 2045, vai ser possível entrar no cérebro e capturar tudo lá. O seu pensamento vai ser uma combinação de tudo o que veio da computação, que vai ser expandir a sua mente”, diz Kurzweil no palco do SXSW 2024.
Kurzweil é autor do livro “A Singularidade Está Próxima”, publicado em 2005. A partir de cálculos apresentados na obra, o autor prevê que, até 2045, as pessoas vão ter suas habilidades superadas pela inteligência artificial — e que isso vai possibilitar uma fusão entre humanidade e máquina, cujo fenômeno é batizado por ele de singularidade.
Se você for dizimado em uma explosão de bomba, vai ser possível recriar tudo o que estava no seu cérebro por volta de 2045
Ray Kurzweil, ex-engenheiro do Google
Nesse futuro, as capacidades mentais e motoras devem ser expandidas com a ajuda da tecnologia. Entre elas, a própria longevidade humana. “Então, se você for dizimado em uma explosão de bomba, vai ser possível recriar tudo o que estava no seu cérebro por volta de 2045. Essa é uma das implicações da singularidade”, descreve.
Em junho, Ray Kurzweil deve atualizar sua magnum-opus com um novo título, A Singularidade Está Ainda Mais Próxima (tradução livre, sem previsão de lançamento no Brasil). Na obra ainda a ser lançada, o futurologista aposta que nanorobôs vão mudar a biotecnologia e cérebros humanos vão poder ser conectados à nuvem, por exemplo.
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Além disso, Kurzweil reforça sua aposta, feita originalmente em 1999, de que a inteligência artificial vai se adotar capacidades similares à humana até 2029. Esse tipo de tecnologia é chamada de inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) — e se tornou uma espécie de Santo Graal do mercado da tecnologia nos últimos anos.
A OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, afirma que o foco da startup é desenvolver uma AGI. Para o fundador e presidente executivo Sam Altman, trata-se do objetivo maior da empresa, que busca atingi-lo em até dez anos. Recentemente, relatos que saíram na imprensa americana afirmam que a companhia conseguiu desenvolver um modelo de IA (batizado de Q*) que soluciona problemas matemáticos, avanço importante rumo à inteligência geral da máquina.
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Além disso, a rival DeepMind, startup comprada pelo Google e com o mesmo propósito, afirma que busca maneiras de desenvolver uma AGI. Recentemente, o fundador e presidente executivo da empresa, Demis Hassabis, afirmou que essa tecnologia vai chegar “gradualmente”, e não com uma “ruptura repentina”.
Ciente dessa corrida, Kurzweil afirma que mantém o prazo para 2029.
“Adiei o lançamento do meu livro para abordar a tecnologia dos modelos amplos de linguagem”, diz o autor no palco do SXSW, em referência ao sistema que abastece chatbots como o ChatGPT, Gemini, Midjourney e outros serviços de IA. “Fiz a previsão em 1999. Ainda não estamos lá (na AGI), mas vamos chegar, um ou dois anos antes do previsto.”
*Repórter viajou a convite do Itaú
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