Supercondutor LK-99 pode estar perto de revolucionar o mundo, mas cientistas estão céticos

Avanço na física do estado sólido pode viabilizar computação quântica e trens de levitação magnética, entre outras possibilidades

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Por Kenneth Chang

THE NEW YORK TIMES - Quando Sinéad Griffin, do Lawrence Berkeley National Laboratory, na Califórnia, teve algumas novas descobertas para compartilhar sobre um material aparentemente mágico que fez os usuários do Twitter enlouquecerem, ela não teve que fazer muito para ganhar muita atenção.

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O material incomum, chamado LK-99, foi apresentado ao mundo como um supercondutor que transportaria eletricidade à temperatura ambiente sem resistência.

No Twitter (ou X, após rebranding de Elon Musk), o “LK-99″ tem sido assunto nos últimos dias, e os entusiastas comemoraram o que acreditam ser o santo graal há muito procurado da física, que transformaria a vida cotidiana com novas tecnologias para resolver as mudanças climáticas e tornar comum os trens levitantes.

Na segunda-feira à noite, a Dra. Griffin deixou o mundo das redes sociais saber de suas descobertas em uma postagem curta que continha apenas um link para seu artigo preliminar e um GIF animado do presidente Barack Obama largando um microfone no Jantar dos Correspondentes da Casa Branca em 2016.

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A resposta foi entusiástica. A largada do microfone foi interpretada por alguns usuários do X como a confirmação de que o santo graal havia sido encontrado.

A Dra. Griffin, assim, proporcionou outra reviravolta numa montanha-russa de excitação e desilusão que tem encantado os fãs do LK-99 por mais de uma semana.

Supercondutor LK-99 promete transmitir eletricidade em temperatura ambiente com zero resistência Foto: Hyun-Tak Kim/The New York Times

A saga começou quando uma equipe de cientistas sul-coreanos, a maioria trabalhando para uma pequena startup chamada Quantum Energy Research Center, em Seul, postou dois relatórios que descreviam sua técnica para fazer o LK-99 e as medições que eles disseram mostrar a habilidade supercondutora do material. (O nome do material vem das iniciais dos sobrenomes de dois dos cientistas - Sukbae Lee e Ji-Hoon Kim - e o ano de 1999, quando dizem ter sintetizado o LK-99 pela primeira vez.)

De forma mais impressionante, eles forneceram um vídeo mostrando uma pequena amostra parcialmente levitando sobre um ímã. A levitação, disseram os cientistas, demonstrou o efeito Meissner, que garante um campo magnético zero dentro de um supercondutor.

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Alex Kaplan, que se formou em física na Universidade de Princeton, descobriu sobre o LK-99 no Hacker News, um site agregador de notícias.

“Eu fiquei chocado”, disse Kaplan em uma entrevista. “Minha mandíbula caiu no chão, e comecei a ligar para todos os amigos que eu conhecia em física.”

Naquela noite, ele compartilhou sua empolgação no Twitter.

Com aquele tuíte, que recebeu mais de 132 mil curtidas, Kaplan se juntou a um grupo de fãs do LK-99 que impulsionaram a empolgação nas redes sociais na última semana. A maioria dos entusiastas não são especialistas, no entanto. Kaplan, por exemplo, trabalha como chefe do produto de café na Cometeer, uma empresa que vende extrato de café congelado instantaneamente.

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Nem tanto entusiasmo

Os cientistas que estudam supercondutividade e física do estado sólido têm sido mais silenciosos. Eles apreciam a curiosidade (o trabalho raramente atrai um frenesi de alegria pública), mas estão intrigados sobre por que essa reivindicação específica de supercondutor à temperatura ambiente decolou loucamente enquanto muitas reivindicações anteriores que não se provaram verdadeiras vieram e foram sem alarde.

“É ótimo ter interesse público na pesquisa de física do estado sólido”, disse a Dra. Griffin, “com a devida cautela de ser explicado corretamente e com as ressalvas que acho que são necessárias para algumas dessas discussões. Mas acho que é divertido.”

É muito cedo para concluir qualquer coisa sobre supercondutividade

Sankar Das Sarma, especialista da Universidade de Maryland

O ceticismo permanece, porque os dados fornecidos pelos cientistas coreanos até agora não são convincentes, dizem muitos especialistas.

“É muito cedo para concluir qualquer coisa sobre supercondutividade”, disse Sankar Das Sarma, diretor do Condensed Matter Theory Center na Universidade de Maryland. “Os dados são extremamente sugestivos, mas de forma alguma são convincentes.”

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O Dr. Das Sarma postou comentários na conta do Twitter do centro. Ele apontou, por exemplo, que na temperatura que os cientistas coreanos afirmam que o LK-99 se torna um supercondutor, a resistência elétrica cai, mas não para zero. De fato, a resistência do material, feito do mineral apatita com alguns dos átomos de chumbo substituídos por cobre, é cerca de 100 vezes maior do que o cobre puro e outros metais bons condutores.

O vídeo da levitação também não é definitivo, porque materiais não supercondutores, incluindo grafite, também podem flutuar parcialmente da mesma maneira.

Computação quântica exige novas tecnologias para operar e se massificar, e supercondutor LK-99 pode ser solução Foto: Diana Craik/Universidade de Oxford

No último fim de semana, Kaplan, que havia iniciado grande parte da excitação inicial, postou uma imagem de uma Magic 8 Ball que dizia: “Provavelmente acabou.” Então ele viu o artigo da Dra. Griffin.

Em uma entrevista, a Dra. Griffin disse que seu artigo, intitulado “Origem das bandas planas isoladas correlacionadas em apatita de fosfato de chumbo substituída por cobre”, não confirmava o furor.

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“Certamente não estou descrevendo supercondutividade nestes cálculos”, disse ela. Em vez disso, suas simulações de computador mostram que a substituição do cobre na apatita resultou em uma reorganização incomum dos átomos. O volume da estrutura cristalina do mineral encolheu levemente. Isso, por sua vez, pareceu deslocar a estrutura eletrônica para uma que poderia ser propícia à supercondutividade.

Supercondutores de alta temperatura

As características eletrônicas, conhecidas como “bandas planas”, parecem semelhantes ao que foi observado em supercondutores de alta temperatura, uma classe de materiais descoberta nos anos 1980. (O nome, supercondutores de alta temperatura, é um pouco enganoso. Eles funcionam em temperaturas consideravelmente mais altas do que as observadas anteriormente, mas ainda mais frias do que qualquer local naturalmente ocorrente na Terra).

Essas características podem facilitar interações fortes entre muitos elétrons, o que poderia levar à supercondutividade - mas nem sempre.

A Dra. Griffin admite que os cálculos da estrutura eletrônica são menos definitivos do que suas descobertas sobre a retração do cristal por causa do grande número de elétrons envolvidos. “Há inerentemente muitas aproximações que você tem que fazer ao fazer isso”, disse ela. “Não é um cálculo definitivo do que você mede em experimento.”

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Um grupo de cientistas chineses publicou um artigo descrevendo cálculos semelhantes que encontraram uma estrutura eletrônica semelhante.

“Realmente não entendo a empolgação com o pré-print dela”, disse Douglas Natelson, professor de física da Universidade Rice em Houston. “Isso não quer dizer que está errado, apenas que teóricos e especialistas em materiais computacionais produzem pré-prints muito frequentemente com base no último material reivindicado de interesse. Não há nada de excepcional nisso.”

Na quarta-feira, a Dra. Griffin seguiu com uma longa sequência de tuítes desinflando as interpretações otimistas do GIF do microfone sendo largado.

O ciclo de excitação e desinflação se repetiu mais tarde no dia quando cientistas da Universidade Southeast em Nanjing, China, relataram que haviam sintetizado o LK-99 e medido resistência zero em uma das amostras.

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No entanto, a resistência zero relatada ocorreu quando a amostra foi resfriada para -260º Fahrenheit, não em temperaturas ambiente, e foi uma diminuição gradual da resistência elétrica, não a queda acentuada que seria esperada de um supercondutor. Os dados também mostraram uma queda de resistência em temperaturas mais altas, que os cientistas da Universidade Southeast atribuíram a impurezas ou um erro instrumental.

O Dr. Das Sarma novamente não se impressionou.

Assim como os artigos originais do LK-99, “Southeast também não tem transição, apenas artefatos instrumentais”, ele escreveu em um tuíte. “Qual é o objetivo aqui? Ninguém pode enganar a natureza.”

O Dr. Das Sarma disse que sabia que os grupos de pesquisa de vários físicos proeminentes estavam trabalhando para sintetizar o material e fazer medições para determinar se o LK-99 é realmente um supercondutor.

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“Uma afirmação tão grande tem que ser examinada muito, muito cuidadosamente”, disse o Dr. Das Sarma. “E tem que ser duplicada por grupos independentes de todas as maneiras possíveis antes de declararmos vitória.”

Ele acrescentou: “Acredito que isso possa acontecer. Mas isso não significa que isso tenha acontecido.” / TRADUÇÃO POR GUILHERME GUERRA

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