Quais são as atrocidades que podem ser faladas na Meta com o fim da moderação nas plataformas

Novas diretrizes da empresa afrouxam o que pode ser dito nas redes, mesmo que os tópicos incluídos sejam imigração, gênero, orientação sexual ou façam comparações entre pessoas, animais e doenças

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Por João Pedro Adania

A nova política de moderação das redes sociais da Meta substituiu o crivo de checadores por um sistema baseado na comunidade, algo semelhante ao usado no X, de Elon Musk. Isso significa que agora, Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads vão depender dos usuários para identificar conteúdo falso.

Na prática, as mudanças afrouxam o que pode ser dito nas redes, mesmo que os tópicos incluídos sejam imigração, gênero, orientação sexual ou façam comparações entre pessoas, animais e doenças. A medida já começou a valer nos Estados Unidos e não há data sobre a implementação delas no Brasil.

Novas diretrizes da empresa afrouxam o que pode ser dito nas redes, mesmo que os tópicos incluídos sejam imigração, gênero, orientação sexual ou façam comparações entre pessoas, animais e doenças. (Jim Wilson/The New York Times)  Foto: Jim Wilson/NYT

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Várias partes da nova diretriz exemplificam como será o tipo de conteúdo permitido pela gigante. Em um trecho, o documento admite que a rede permite a livre associação – desde que de forma satírica – entre homossexuais e transgêneros ao termo “esquisito” e sinônimos. Logo após, o texto diz que publicações que defendam superioridade de gênero ou religião em detrimento de outras serão toleradas.

Em suma: a Meta vai a manter nas suas redes piadas que coloquem homossexuais e trans como doentes mentais por causa de suas escolhas sexuais. Ao logo do tempo, páginas foram derrubadas por criar e divulgar memes racistas.

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Um exemplo que teve especial atenção foi em 2012, quando a página “Memes Aborígenes” foi suspensa por compartilhar memes xenófobos. Nesse caso, se a nova diretriz fosse aplicada, a página nunca teria saído do ar por se tratar de uma suposta piada.

Um dos memes preconceituosos criticados pelos usuários do Facebook (Foto: Reprodução) Foto: Facebokk/Reprodução

O resultado do primeiro turno da eleição de 2022 também rendeu uma onda de suspensões. Na ocasião eleitores da região Nordeste viraram alvo de ataques xenofóbicos nas redes sociais após a divulgação do resultado que colocava o então Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança em nove Estados da região. Em geral, as publicações derrubadas se referiam aos nove Estados como “Cuba do Sul” ou Venezuela. “Nunca mais vamos comprar rede desses nordestino (sic) que vem aqui pro Sul do Brasil. Acabou. Fica (sic) vendendo aí nas suas cidades”, dizia um deles. Tudo isso seria tolerado sob os novos termos.

Além da inclusão de normas mais brandas, regras da versão anterior das normas da Meta foram excluídas. Por exemplo: uma seção que proibia chamar transgêneros e não binários de “coisa” ou se referir a mulheres “como objetos domésticos, propriedade ou objetos em geral, foi totalmente apagada.

Empresas do porte da Meta, costumam fazer declarações do que suas políticas representam. Essas declarações servem como cartas abertas que as posiciona social e politicamente. Dessa forma, a Meta alterou a abertura dessa carta.

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Agora, a diretriz reconhece aceitar publicações que usem linguagem excludente sobre imigração, homossexualidade e religião, por exemplo: a seção que barrava ataques a pessoas ou grupos “com afirmações de que eles têm ou espalham coronavírus” foi removida. Durante a pandemia, por exemplo, chineses eram associados ao vírus da covid-19, o que não era permitido. Agora, a Meta aceita associação do tipo. No novo documento, ainda há a permissão de xingamentos focados no gênero no contexto de rompimento amoroso. Ou seja, homens podem usar adjetivos pejorativos contra mulheres.

Segundo as versões anteriores da política de moderação, a existência das regras servia para evitar que a violência online extrapolasse o ambiente virtual e chegasse ao mundo real, porém essa relação foi desfeita na nova versão.

Outra mudança do texto original explica que, embora a plataforma barre conteúdo que defenda a exclusão a espaços e serviços sociais com base em reaça e orientação sexual, haverá tolerância caso o argumento foque em temas de apelo político, como banheiros separados por sexo e competições esportivas divididas por gênero e ensino nas escolas de matérias sobre sexualidade.

Como justificativa para as mudanças, Mark Zuckerberg disse que buscou voltar “às raízes em relação à liberdade de expressão”. O recém nomeado presidente de assuntos globais da Meta, Joel Kaplan, também repercutiu a medida, que alega servir para eliminar regras excessivamente restritivas sobre temas de “frequente debate político”.

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O que ainda não pode ser falado?

As normas preservaram algumas restrições, como negar a existência do holocausto, blackface (prática que consiste em pessoas, geralmente brancas, pintarem o rosto de preto ou marrom para imitar ou representar pessoas negras) e insinuações sobre judeus controlarem a mídia.

Relacionar negros à “equipamentos agrícolas” também continua proibido, em especial usar o termo “cotton picker” (colhedor de algodão) que remete à escravidão.

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