Vigiados, chineses dizem não se preocupar com privacidade digital

Uso intenso de serviços digitais no país tornou ‘comum’ prática de monitoramento online de informações pessoais

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Vigia: Óculos da polícia ‘enxergam’ suspeito Foto: AFP-5|2|2018

Para boa parte dos chineses, a privacidade de dados pessoais não é uma preocupação na maior parte do tempo. Por já usarem muitos serviços digitais, como aplicativos de mensagens instantâneas, comércio eletrônico e pagamento móvel, eles já se dizem acostumados com a coleta massiva de informações e não enxergam o sistema de crédito social do governo como uma ameaça.

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É o caso do estudante Russel, de 36 anos. Segundo ele, os únicos dados que ele faz questão de proteger são os de seu cartão de crédito. “Eu não me preocupo nenhum um pouco com privacidade”, disse ele à reportagem do Estado. “Acho que o governo pode estar acessando meus dados pessoais, mas eu não me importo porque eu não sou nenhum tipo de ativista contrário ao governo. Não tenho nenhum segredo.”

A pontuação é vista como uma forma de transformar a vida em uma espécie de jogo, segundo os que se cadastraram voluntariamente nos sistemas de ranking social privados, como o Sesame Credit, da gigante Alibaba (ler mais ao lado). Segundo fontes ouvidas pela reportagem do Estado, é comum que amigos comparem suas notas no sistema durante jantares ou por meio das redes sociais. Para muitos chineses, usufruir das vantagens que a pontuação dá é sinal de status social.

Os especialistas, porém, acreditam que essa visão vem da ingenuidade em relação ao controle do governo. “As pessoas na China não sabem que as tecnologias que usam são monitoradas e controladas”, afirma o analista de dados da Spectrum, empresa especializada em análise de dados com sede em Hong Kong, Max Della Libera.

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Um exemplo é a censura do governo a mensagens trocadas por meio do aplicativo WeChat. Ao escrever uma frase proibida, o sistema ainda mostra o texto como se tivesse sido enviado, mas ele não chega ao destinatário. “As pessoas na China não sabem as consequências de serem espionadas e, por isso, é difícil para elas opinarem contra o que está acontecendo lá”, avalia Libera.

Para Ana Lara, pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), os chineses enxergam a privacidade de forma diferente das pessoas no Ocidente. “É algo mais fluido e focado no bem coletivo”, diz. “Eles acham que aquilo (sistema de crédito social) será bom para todos.”

A China tem um dos mais sofisticados sistemas de vigilância do mundo. Além do monitoramento de serviços de internet, o governo mantém a maior rede de câmeras de segurança do mundo, com mais de 170 milhões em operação. Outras 400 milhões de câmeras serão instaladas nos próximos dois anos.

No início deste ano, policiais da cidade de Zhengzhou começaram a testar óculos equipados com sistemas de reconhecimento facial, que identificam, em tempo real, suspeitos de crimes na cidade.

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