Afinal, de quem é o ‘foguete abandonado’ que vai atingir a Lua? Entenda a confusão

A trajeto indesejado da espaçonave foi identificado por astrônomos amadores e profissionais em janeiro; até o momento, nenhum governo ou empresa assumiu responsabilidade pelo lixo espacial

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Por Redação Link
Cientistas descartaram a hipótese de o foguete ser do modelo Falcon 9, da SpaceX Foto: Scott Audette/Reuters

A caminho de colidir com a Lua nas próximas semanas, o foguete “abandonado” descoberto em janeiro ainda tem dono desconhecido. Inicialmente, o astrônomo americano Bill Gray indicou que a nave era do modelo Falcon 9, da SpaceX. Duas semanas depois, porém, o especialista corrigiu a informação, dizendo que se tratava de um propulsor chinês, o Chang 5-T1. Agora, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, nega que o foguete seja do país. 

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A confusão na identificação da origem do veículo se deve à dificuldade de rastrear detritos espaciais. Além disso, assumir a identidade do foguete não é uma responsabilidade que uma empresa ou governo gostaria de ter: trata-se do primeiro caso de lixo espacial em rota de colisão com o satélite natural da Terra. 

A trajeto indesejado foi identificado por astrônomos amadores e profissionais em janeiro. O astrônomo americano Bill Gray, criador do Guide (software de observação de estrelas e asteroides), foi quem primeiro apontou o Falcon 9 como o equipamento em rota de colisão com a Lua. O veículo foi originalmente lançado da Flórida (EUA) em fevereiro de 2015, como parte de uma missão para colocar em órbita o satélite meteorológico DSCOVR. 

Na semana passada, porém, Gray voltou atrás em seu palpite após Jon Giorgini, do Jet Propulsion Laboratory (JPL), afirmar que a trajetória inicial do DSCOVR não passou perto da Lua. 

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“O objeto tinha o brilho que esperávamos e apareceu no momento esperado, movendo-se em uma órbita razoável. Mas, nas observações, eu deveria ter notado coisas estranhas”, escreveu Bill Gray em um post. Segundo outros astrônomos, esse “erro honesto” apenas mostra o pouco investimento em material para observação espacial.

Contudo, apesar de vários cientistas agora apontarem para o propulsor chinês Chang 5-T1, o governo do país nega responsabilidade pelo veículo abandonado. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que o estágio superior desse foguete queimou "completamente" na atmosfera da Terra – ele também disse que as práticas aeroespaciais da China estavam sempre de acordo com as leis internacionais e que o país estava determinado a proteger a "sustentabilidade de longo prazo" do espaço sideral. Bill Gray, porém, acredita que o governo chinês pode estar confundindo diferentes missões ao apontar a queima do veículo. 

Após a sequência de confusões, o criador do Guide aproveitou para fazer um pedido de implementação no sistema de rastreamento de foguetes para que sejam mais rígidos. Além disso, recomendou que fornecedores de lançadores fizessem a disponibilização pública das últimas trajetórias. Também disse que devem considerar a redução do lixo espacial, desorbitando os propulsores não-utilizados sempre que possível. Por fim, o cientista sugeriu a criação de uma organização internacional para realizar o rastreamento preciso desses objetos, frisando que esse programa deve ser bem financiado.

Como será a colisão?

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A expectativa é de que o foguete abandonado atinja a Lua no dia 4 de março – ainda não é possível saber o local e o horário exatos em que o foguete atingirá a Lua, tendo em vista efeitos como a luz solar e alterações da órbita do foguete. Segundo cientistas, a colisão dificilmente poderá ser vista da Terra, já que o foguete deve atingir o lado mais distante da Lua.

De acordo com especialistas, porém, o risco de que alguma consequência da colisão possa ser sentida na Terra é praticamente nulo. Alexandre Zabot, professor de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que, por conta da distância da Lua — e da face na qual o choque deve acontecer — não será possível sentir ou mesmo ver o evento. 

"Dependendo do ângulo em que caia, pode levantar uma grande quantidade de poeira, mas ainda não vai ser possível ver a olho nu. Com telescópio, talvez algum tipo de espalhamento de luz solar poderia ser visível, mas ninguém aposta nisso", explica Zabot.

Por outro lado, é esperado que o acidente traga informações valiosas para a comunidade de astronomia – os satélites que orbitam a Lua poderiam coletar dados sobre a cratera de impacto e estudar o material subterrâneo gerado pela colisão. 

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Para Cassio Leandro Dal Ri Barbosa, astrônomo e professor do Centro Universitário FEI, o maior ganho para estudos astronômicos poderia vir dos fragmentos gerados pela colisão e das imagens que sondas espaciais poderiam fazer da cratera após o choque. O material pode ser um importante item para descobrir mais sobre o solo lunar e sobre a força de impacto no satélite.

"O que se pretende, talvez para aproveitar o evento, é utilizar sondas que estão na órbita da Lua. É difícil sincronizar o momento da colisão com as sondas, mas a tentativa vai ser fotografar a colisão para ver se é possível ter alguma informação a respeito da cratera criada", aponta Barbosa. Os especialistas também descartam efeitos da colisão para a Terra e para os satélites em nossas órbitas. 

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