Antes de tudo, na quarentena, veio o boom do Zoom. Depois, logo na sequência, ninguém aguentava mais fazer chamadas de vídeo. Aí, todos viraram fãs de jogos e começaram a receber visitantes em suas ilhas virtuais. O mundo das videochamadas também teve raves, reuniões, meditações e noites de cinema, tudo isso na internet. Agora, meses depois e sem nenhum sinal do vírus ir embora, parece que chegamos a uma nova fase do tédio e do isolamento: é o “vamos-conhecer-gente-nova-online”.
O Omegle, um site que põe visitantes aleatórios para conversar por meio de chats e chamadas de vídeo, ganhou popularidade nos últimos quatro meses. (“Por que todo mundo está no Omegle, será que perdi alguma coisa?”, alguém postou no Twitter um dia desses).
O Omegle se parece com o Chatroulette – que já era muito popular e que também está passando por um renascimento – porque é gratuito, não requer registro e promete uma experiência social surpreendente. Os visitantes podem escolher palavras-chave para filtrar pessoas com interesses em comum. Quem está na faculdade pode inserir um endereço de e-mail .edu, que o site usa para verificar identidades, e assim encontrar outros universitários. Também existe, previsivelmente, uma seção “adulta” – e é bom tomar cuidado com ela.
O site existe há mais de uma década – foi fundado em 2009, alguns meses antes do Chatroulette, pelo empresário de tecnologia Leif K-Brooks, que tinha 18 anos na época e não respondeu a um pedido de entrevista. Passou muito tempo no ostracismo, mas recentemente voltou das cinzas – sobretudo entre adolescentes que estavam se sentindo isolados por meses de aulas remotas e pouca socialização cara a cara. “Nos últimos meses, vi as mesmas pessoas e fiz as mesmas coisas”, disse o YouTuber Cole Giannasca, de 18 anos. “A novidade e a possibilidade de conhecer alguém no mundo parece muito melhor agora do que antes da quarentena”.
Gravações de vídeos no Omegle vêm ajudando criadores a gerar e viralizar conteúdo para outras plataformas. Os youtubers estão conseguindo milhões de visualizações em vídeos sobre a seção “adulta” do Omegle (para pessoas acima de 18 anos), combatendo agressores no Omegle, fazendo cosplay no Omegle, fingindo ser celebridades no Omegle, ficando no Omegle por até 48 horas seguidas, entre outras coisas.
O Omegle tem sido uma dádiva para os influenciadores da geração Z, que usam o site para improvisar encontros e eventos virtuais. Emma Chamberlain, estrela do YouTube, fez uma festa de aniversário no Omegle em maio. Muitas estrelas do TikTok têm usado a plataforma para surpreender os fãs que estão procurando outros entusiastas no site através de seus filtros.
“Todos começaram a selecionar os TikTokers”, disse Michael Le, 20 anos, estrela do TikTok com quase 35 milhões de seguidores. Muitas vezes, os influenciadores transmitem as reações de seus fãs ao vivo no TikTok. “É como se fosse um jogo de namoro rápido gigante com seus fãs”, disse Alex Warren, de 19 anos, youtuber e membro da Hype House.
O site tem uma estética de Web 2.0 e traz várias mensagens políticas sutis. A página inicial do Omegle mostra um “anúncio de serviço público” comparando o presidente da China, Xi Jinping, com o Ursinho Pooh. E, na parte superior de todas as caixas de bate-papo, aparece uma frase pedindo aos visitantes que “Apoiem Hong Kong contra o Partido Comunista Chinês!”.
Assim como o Chatroulette e outros sites que aproximam visitantes aleatoriamente, pode haver surpresas desagradáveis – e explícitas. Na página inicial, a empresa afirma: “sabemos que abusadores usam o Omegle, portanto, tenha cuidado”.
“Sempre existe o fator choque”, disse a youtuber Nailea Devora, de 18 anos. “Tem muita coisa de pornografia. Acabamos de filmar nossas reações, é tipo, ‘mano do céu, eu não queria ver esse negócio!’ As pessoas ficam curiosas para ver o que vai acontecer a seguir, o que próximo desconhecido vai fazer. Acho que, na maioria, somos apenas adolescentes querendo conhecer pessoas, mas a coisa pode ficar meio estranha e sinistra”.
Mas, no geral, o site oferece uma amostra dos estranhos e variados interesses da internet. “Num certo vídeo, conheci uma senhora, ela tinha um pato”, disse Devora. “Ela estava lá, segurando o pato, e o pato estava de fralda”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.