Por dez anos, o brasileiro Marco DeMello viveu nos Estados Unidos como funcionário da Microsoft. Ele foi responsável pela segurança do sistema operacional Windows por três anos e chegou a trabalhar em projetos ao lado de Bill Gates. A partir da próxima semana, o executivo vai fazer o trajeto Rio de Janeiro-São Francisco com um propósito diferente: comandar o novo escritório da startup brasileira PSafe no coração do Vale do Silício.
A empresa, que foi fundada por DeMello e outros dois sócios norte-americanos em 2010, vai investir US$ 20 milhões para ampliar o número de consumidores nos EUA. “Queremos ter uma equipe de vendas e de marketing local, dedicada ao mercado americano”, conta DeMello. “Nossa ambição é de ser uma empresa global.”
Atualmente, o aplicativo de segurança da companhia, chamado PSafe Total, tem mais de 2,5 milhões de usuários no país. No total, a empresa tem mais de 21 milhões de usuários ativos por mês, somando a base no Brasil e no México.
O aplicativo da PSafe é usado para encontrar vírus e outras ameaças de segurança em smartphones e tablets com sistema operacional Android. Ao oferecer o aplicativo de forma gratuita, a empresa ganha dinheiro ao exibir publicidade aos usuários do serviço. Ao contrário de outros casos de sucesso de startups brasileiras, a PSafe lida com um assunto pouco “atraente” para o consumidor à primeira vista. “Segurança não é nada sexy, mas não deixa de ser necessário. São como vitaminas”, diz DeMello. “E o segmento é capaz de gerar empresas bilionárias.”
A expansão para os Estados Unidos acontece um ano após a criação do primeiro escritório internacional da empresa, na Cidade do México. No Brasil, a empresa está em São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro – onde a startup nasceu. Ao todo, são cerca de 140 funcionários.
Custo alto. Para atacar o mercado americano, a empresa pretende distribuir o investimento de US$ 20 milhões pelos próximos 18 meses. Os recursos serão direcionados para a inauguração do escritório, ações de marketing com o público local e formação da equipe, que contará com cerca de 10 pessoas.
“Até o final do ano, queremos chegar a 22 milhões de usuários em todo o mundo”, diz DeMello. “Para o final de 2017, esperamos ter cerca de 30 milhões de usuários, e boa parte disso vai vir dos EUA.”
A criação do escritório deve ajudar a empresa a ampliar sua rede de contatos no Vale do Silício. “É possível ter escala global fora do Vale, mas para quem quer atacar o público americano, é importante ter um escritório lá”, diz Pedro Waengertner, presidente da aceleradora Ace. Embora a escolha faça sentido para empresas do porte da PSafe, o custo é alto. “Ter um escritório no Vale significa disputar equipe com empresas como Google e Facebook, o que faz a operação se tornar caríssima.”
Hoje, dois fundos importantes do Vale investem na brasileira: o Redpoint eVentures e o Pinnacle. Em três rodadas de investimento, a PSafe já recebeu mais de US$ 90 milhões. “Não vamos fazer outra rodada até nos tornarmos uma empresa lucrativa”, diz DeMello, que projeta que isso deve acontecer no primeiro semestre de 2017.
Além do crescimento no mercado americano, DeMello planeja lançar uma versão paga, sem propagandas do PSafe Total. “Vamos dar ao usuário a opção de pagar um pouco por isso”, comenta DeMello. A empresa ainda não definiu quanto o app vai custar, mas garante que não tem planos de criar uma versão com mais recursos.
A empresa também prevê que a quantidade de ameaças que o aplicativo bloqueia vai aumentar: a previsão de DeMello é de que o aplicativo impeça cerca de 1,5 milhões de ataques por dia no final de 2017 – hoje são cerca de 600 mil. “Os ataques acontecem 24 horas por dia. Não dá para dormir no ponto.”
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