CEO do Google prevê um 2025 difícil para empresa e avisa: ‘os riscos são altos’

Declaração aconteceu em uma reunião com funcionários enquanto a gigante enfrenta a maior concorrência da sua história aliada aos obstáculos regulatórios e o avanço da inteligência artificial

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Por João Pedro Adania
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Sundar Pichai, CEO do Google, prevê o ano de 2025 como decisivo. “Os riscos são altos” disse o executivo aos funcionários no momento em que a gigante enfrenta a maior concorrência da sua história aliada aos obstáculos regulatórios e o avanço da inteligência artificial (IA).

“Acho que 2025 será crítico”, afirmou Pichai em um evento interno de fim de ano. “É realmente importante internalizarmos a urgência deste momento e precisamos nos mover mais rápido como empresa. Os riscos são altos”.

CEO do Google fala sobre os riscos da empresa em 2025 e cita ‘urgência do momento’  Foto: Michael M. Santiago/AFP

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Os comentários do CEO são reflexo da pressão que o Google passou em 2024, no qual a empresa viveu uma dicotomia. As receitas aumentaram em áreas-chave, como anúncios e armazenamento em nuvem, porém foi no core da gigante onde a concorrência mais avançou.

No começo de dezembro, a OpenAI liberou o SearchGPT, um site de buscas próprio que impulsiona as buscas dos usuários com IA. A ferramenta logo foi comparada ao Gemini, do Google, e se destacou por acessar dados mais atualizados, fornecer respostas precisas e relevantes sobre eventos recentes, além de ser menos propensa a “alucinações”. Os investimentos na OpenAI impulsionaram a empresa até ela chegar no valor de US$ 157 bilhões. A Perplexity fechou recentemente uma rodada de financiamento de US$ 500 milhões e é avaliada em US$ 9 bilhões.

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A pioneira nas buscas da web responde com investimentos no seu modelo de IA, que para Pichai é estratégia central no plano de “construir novos e grandes negócios”. O aplicativo Gemini dá aos usuários acesso a uma série de ferramentas que incluem um chatbot do Google. “Escalonar o Gemini no lado do consumidor será nosso maior foco no próximo ano”.

Pichai ainda citou uma prioridade máxima para 2025: fazer com que o app do chatbot alcance meio bilhão de usuários, marca já atingida por outros 15 aplicativos da empresa. “Temos esse trabalho a fazer em 2025 para fechar essa lacuna e estabelecer uma posição de liderança lá também”.

“Estes são momentos de disrupção”, concluiu Pichai. “Em 2025, precisamos estar focados incansavelmente em desbloquear os benefícios desta tecnologia e resolver problemas reais do usuário”.

A gigante comandada por Sam Altman não é a única companhia a preocupar os executivos do Google. Outros buscadores que usam IA de forma esperta, como a Perplexity AI, que recebeu investimento de Jeff Bezos, têm ativos importantes na área de buscas com IA generativa.

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Na reunião, Pichai mostrou um gráfico de grandes modelos de linguagem (LLMs) que coloca o Gemini 1.5 na liderança, na ideia de que o importante é ser o melhor e não o primeiro. “Não precisa sempre ser o primeiro, mas temos que executar bem e realmente ser o melhor em classe como produto”.

Problemas regulatórios

A regulação movimentou o setor jurídico da companhia. Em agosto, um juiz federal americano decidiu que o Google detém monopólio ilegal no mercado de buscas. O Departamento de justiça solicitou, em novembro, que o navegador Chrome fosse vendido.

Em um caso separado, a empresa foi acusada de dominar ilegalmente a tecnologia de publicidade online, o processo foi concluído em setembro e aguarda a decisão de um juiz. Outra disputa que envolvia a Epic Games e outros desenvolvedores de aplicativos na Play Store, o Google foi obrigado a abrir o Android para que concorrentes tenham seus próprios sistemas de cobrança fora do ecossistema do sistema operacional.

Os tribunais europeus também entraram na cola da gigante. O órgão regulador do Reino Unido declarou objeções sobre a prática de publicidade do Google, na qual definiu como muito relevante frente a concorrência. “Não me escapa que estamos enfrentando um escrutínio em todo o mundo”, respondeu Pichai. “Isso vem com o tamanho e sucesso. É parte de uma tendência mais ampla onde a tecnologia está impactando a sociedade em grande escala”.

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No Brasil, o Ministério da Fazenda apresentou em outubro uma proposta de regulação para as “big techs” (as gigantes globais da tecnologia) com objetivo de evitar práticas predatórias de grandes plataformas digitais, ao limitar ou encarecer o acesso de consumidores a produtos e empresas. A proposta se baseia em regras de atuação já aplicadas em dez países, incluindo EUA, Alemanha, Inglaterra e Australia.

Respostas do CEO

Pichai e outros executivos responderam perguntas de funcionários que participavam do evento, inclusive a um comentário que sugeriu que o ChatGPT “está se tornando sinônimo de IA da mesma forma que o Google é para busca”.

Em resposta à provocação, Pichai recorreu ao co-fundador da DeepMind, Demis Hassabis, que disse que as equipes vão “turbinar” o aplicativo do Gemini e que a empresa notou progresso no número de usuários desde o lançamento do app, em fevereiro. “Os produtos vão evoluir massivamente ao longo dos próximos dois anos”, disse.

Sobre o custo da IA do Google, Pichai afirmou não ter planos para assinaturas acima de US$ 20. “Eu diria, necessariamente, nunca, mas não é o momento”. (Jason Henry/The New York Times) 

Hassabis descreve sua visão para o assistente universal que “pode operar sem problemas em qualquer domínio, qualquer modalidade ou qualquer dispositivo”. O Projeto Astra, um chatbot multimodal incluído no Gemini, apresentado em maio será atualizada ainda no primeiro semestre de 2025.

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Sobre o custo da IA do Google, Pichai afirmou não ter planos para assinaturas acima de US$ 20. “Eu não diria, necessariamente, nunca, mas não é o momento”.

Novos recursos

O chefe do Google Labs, Josh Woodward, apareceu no final do evento para o que descreveu como “seis demonstrações em oito minutos”. Ele começou por um assistente de codificação já em fase de testes. “É para onde o futuro do desenvolvimento de software está indo”.

Woodward falou sobre o NotebookLM, um produto de tomada de notas com IA, que apresentou uma série de atualizações em 2024, como a ferramenta de áudio que passa por testes que vai permitir “ligar” para um podcast.

O Projeto Mariner, uma extensão do Chrome multitarefa movida a IA, no qual Woodward pediu para adicionar os melhores restaurantes do TripAdvisor ao aplicativo Maps levou a plateia de funcionários aos aplausos.

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Às demonstrações serviram para que Pichai reforçasse o lembrete aos funcionários de “permanecer enérgicos”. O Google passou por uma extensa fase de corte de custos que incluiu a demissão de cerca de 6% de funcionários em 2023.

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