ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN - O ChatGPT vai sempre continuar como uma ferramenta gratuita, garantiu nesta segunda-feira, 11, o executivo Peter Deng, chefe de produtos da OpenAI (e responsável por liderar as equipes envolvidas com o chatbot), no palco principal do South by Southwest (SXSW) 2024, festival de tecnologia, música e cinema que acontece em entre os dias 8 e 15 de março em Austin, nos Estados Unidos.
“Sempre vai ter uma versão gratuita do ChatGPT. Isso é parte da nossa missão”, disse Deng na conferência.
A OpenAI, desenvolvedora de serviços de inteligência artificial desde 2016, quando foi fundada, apresenta-se como uma organização de tecnologia sem fins lucrativos. Em 2019, criou uma unidade lucrativa, cujos ganhos são redirecionados para serem reinvestidos em mais desenvolvimento de tecnologia. O objetivo da organização é criar uma inteligência artificial geral (AGI, na sigla em inglês) que “beneficie toda a humanidade”, diz o site.
Por isso, o ChatGPT não cobra de usuários para oferecer os serviços de geração de texto criados por inteligência artificial. Esse modelo de negócio segue desde o lançamento da ferramenta, em novembro de 2022, quando o chatbot foi revelado ao mundo.
Essa estratégia mudou um pouco em março de 2023. Nessa época, a OpenAI revelou o GPT-4, uma versão atualizada e mais inteligente do modelo amplo de linguagem (LLM, na sigla em inglês) que até então abastecia o chatbot, o GPT-3.5. Na prática, a nova IA é capaz de responder a perguntas com mais exatidão e criar legendas para imagens, entre outras tarefas.
Para usar o ChatGPT com GPT-4, a OpenAI faz uma cobrança: o usuário deve bancar uma assinatura baseada em tokens, para qual cada token equivale a palavras geradas pela IA. Atualmente, o preço de uma assinatura com mil tokens equivale a US$ 0,03 mensais para o GPT-4.
Os maiores assinantes do GPT-4 são as empresas, que fornecem o serviço para seus funcionários ou utilizam a estrutura de códigos da OpenAI para criar produtos internos tendo o ChatGPT como base.
Custa caro manter um produto como o ChatGPT nos servidores
Peter Deng, executivo da OpenAI
Segundo Deng, são esses clientes corporativos que estão bancando a gratuidade do ChatGPT para o mundo. “Essa é a parte bonita (do negócio)”, disse. “Há pessoas de muitas empresas que o utilizam, recebem algum valor por isso e acabam pagando o preço proporcional ao uso. E parte desse valor pode ser transferido (para outras pessoas).”
O executivo da OpenAI, no entanto, afirma que não é barato manter a gratuidade desse serviço. “Custa caro manter um produto como o ChatGPT nos servidores”, aponta Deng.
A OpenAI não revela o quanto desembolsa para manter o ChatGPT e outros serviços de IA disponíveis, como o Dall-E 2. Além disso, treinar inteligência artificial custa dinheiro. As empresas de tecnologia estão em uma corrida desenfreada por servidores e processadores gráficos (GPUs) e neurais (NPUs) de fabricantes de chips, como a Nvidia, para conseguir rodar seus modelos.
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Em 2023, a imprensa americana revelou que a startup desembolsava cerca de US$ 700 mil por dia para rodar o chatbot com GPT-3 em servidores. O GPT-4 pode ser ainda mais caro, disse um analista da consultoria SemiAnalysis ao site The Information à época.
Esses custos altos ajudam a explicar como a OpenAI vem procurado novos parceiros em rodadas de investimento para bancar o negócio. Além disso, a OpenAI é bancada pela Microsoft. A companhia fundada por Bill Gates já aportou cerca de US$ 13 bilhões na startup desde 2019.
Sem remunerar artistas
Na conferência, Deng esquivou-se quando perguntado se a OpenAI e outras empresas de inteligência artificial deveriam remunerar os artistas, como ilustradores e escritores, que têm suas obras utilizadas para treinar as IAs.
“Essa é uma ótima pergunta”, declarou Deng. Sem responder, a plateia do SXSW 2024 soltou gritos “sim!”, até o jornalista Josh Constine, que mediava a conversa, decidir ir para o próximo tópico.
“Acredito que os artistas devem ser parte desse ecossistema o tanto quanto possível”, disse Deng, minutos depois. “Mas as mecânicas exatamente… Eu não sou um especialista.”
Em dezembro de 2023, o jornal americano The New York Times anunciou que estava processando a OpenAI e Microsoft por utilizar conteúdo da publicação, cujo material é protegido por direito autoral. A OpenAI nega e afirma que o jornal está distorcendo os fatos.
Nesta semana, a Nvidia foi processada por violação de direitos autorais.
*Repórter viajou a convite do Itaú
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