Como Mark Zuckerberg está desenhando o futuro do Facebook

Diante do crescimento de rivais, fundador da rede social tenta traçar novos caminhos

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Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, convocou seus principais assistentes na rede social para uma reunião de última hora na área da baía de São Francisco em julho. Na agenda: uma “maratona de trabalho” para discutir o plano para melhorar o aplicativo do Facebook, incluindo uma reformulação que mudaria a forma como os usuários navegam.

Durante semanas, Zuckerberg enviou mensagens aos executivos sobre a reforma, pressionando-os a aumentar a velocidade e a execução de suas tarefas, disseram pessoas a par do tema. Alguns executivos – que tiveram de ler um total de 122 slides a respeito das mudanças – estavam começando a ficar mais nervosos que o habitual, segundo as fontes.

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As lideranças do Facebook vieram de todo o mundo. Zuckerberg e o grupo se debruçaram sobre cada slide. Em poucos dias, a equipe fez uma atualização no app do Facebook para competir melhor com o TikTok, um de seus principais rivais.Zuckerberg está determinando um ritmo implacável enquanto conduz sua empresa de US$ 450 bilhões, agora chamada de Meta, para uma nova fase. Nos últimos meses, ele controlou os gastos, reduziu os benefícios, reorganizou sua equipe de liderança e deixou claro que cortaria funcionários com baixo desempenho. Quem não concordar está convidado a sair, ele disse. Os gestores enviaram memorandos para deixar claro a seriedade da estratégia – um, que foi compartilhado com o New York Times, tinha o título de “Operando com maior intensidade”.

Zuckerberg, 38, está tentando afastar a empresa de suas origens nas redes sociais e focar sua atuação no mundo imersivo – e até agora teórico – chamado de metaverso. Em todo o Vale do Silício, ele e outros executivos que construíram o que muitos chamam de Web 2.0 – uma versão da internet mais social e focada em aplicativos – estão repensando e subvertendo sua percepção original depois que suas plataformas foram assoladas por problemas relacionados a temas como privacidade, conteúdo tóxico e desinformação.

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O momento faz lembrar das mudanças de apostas de outras empresas, como quando a Netflix encerrou seu negócio de enviar DVDs pelo correio para se concentrar no streaming. Entretanto, Zuckerberg está fazendo essas mudanças, pois a Meta está em uma situação desfavorável. A empresa está de olho na iminente recessão global. Concorrentes como TikTok, YouTube e Apple estão partindo para cima.

O sucesso está longe de ser garantido. Nos últimos meses, os lucros da Meta caíram e a receita diminuiu conforme a empresa gastou suntuosamente com o metaverso e a desaceleração econômica prejudicou seus negócios de publicidade. E suas ações despencaram.

“Quando Mark fica superfocado em algo, isso quer dizer que todos devem seguir o exemplo dentro da empresa”, disse Katie Harbath, ex-diretora de políticas do Facebook e fundadora da consultoria Anchor Change. “As equipes deixaram de lado rapidamente outros trabalhos para se concentrar no problema em questão, e a pressão é intensa para mostrar progresso.” A Meta, holding do Facebook, se recusou a fazer comentários.

Zuckerberg está tentando afastar a empresa de suas origens nas redes sociais e focar sua atuação no metaverso Foto: Mandel Ngan/AFP

Reformulação

A proposta de reposicionamento de Zuckerberg para a Meta começou no ano passado, quando ele iniciou a reorganização de seu time de assistentes.

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Em outubro, ele promoveu um amigo e colega de longa data, Andrew Bosworth, a diretor de tecnologia, liderando as iniciativas de hardware para o metaverso. Ele também promoveu outros aliados, entre eles Javier Olivan, o novo diretor de operações; Nick Clegg, que se tornou presidente de assuntos globais; e Guy Rosen, que assumiu a função de diretor de segurança da informação.

Em junho, Sheryl Sandberg, braço direito de Zuckerberg durante 14 anos, disse que deixaria o cargo no segundo semestre. Embora ela tenha passado mais de uma década construindo os sistemas de publicidade do Facebook, não estava tão interessada em fazer o mesmo para o metaverso.

Zuckerberg transferiu milhares de trabalhadores para diversas equipes direcionadas ao metaverso, treinando o foco delas para projetos ambiciosos como óculos inteligentes, dispositivos e um novo sistema operacional para esses equipamentos.

“É uma aposta em relação a onde as pessoas na próxima década vão se conectar, se expressar e se identificar umas com as outras”, disse Matthew Ball, executivo de tecnologia de longa data e autor de um livro sobre o metaverso. “Quando se tem o dinheiro, os engenheiros, os usuários e a convicção para se tentar fazer algo, então se deve fazer isso.”

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Mas os esforços estão longe de ser baratos. O departamento do Facebook conhecido como Reality Labs, que está construindo produtos de realidade aumentada e virtual, afetou negativamente o balanço da empresa; a unidade de hardware perdeu quase US$ 3 bilhões apenas no primeiro trimestre.

Ao mesmo tempo, a Meta está tentando lidar com as mudanças de privacidade da Apple que dificultaram a capacidade da empresa de medir a eficácia dos anúncios no iPhone. O TikTok, o app chinês de vídeos curtos, roubou o público jovem dos principais aplicativos da Meta, como o Instagram e o Facebook. Esses desafios surgem em meio a um cenário macroeconômico cruel, que levou Apple, Google, Microsoft e Twitter a congelar ou desacelerar as contratações.

Mais com menos

Então, Zuckerberg deu um ultimato aos seus funcionários: é hora de fazer mais com menos.

Em julho, a empresa reduziu as metas de contratação de engenheiros de 12 mil para 10 mil e, depois, para 6 mil; e disse que deixaria algumas vagas sem serem preenchidas. Os orçamentos que antes eram gordos estão sofrendo cortes, e os gerentes foram instruídos a esperar um limite de profissionais para suas equipes. Em um memorando em junho, Chris Cox, diretor de produtos da Meta, disse que a conjuntura econômica exigia “equipes mais enxutas, mais ambiciosas e com melhores práticas”.

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Em uma reunião com funcionários na mesma época, Zuckerberg disse estar ciente de que nem todos aprovam as mudanças. “Isso não era um problema”, disse ele.

“Acho que alguns de vocês podem decidir se este lugar é ou não para vocês, e essa escolha individual funciona para mim”, disse Zuckerberg. “Em termos práticos, provavelmente há um monte de pessoas que não deveriam estar aqui.”

Outro memorando que circulou entre os trabalhadores em julho tinha o título de “Operando com maior intensidade”. No memorando, um vice-presidente da Meta dizia que os gestores deveriam começar a “refletir a respeito de cada pessoa em sua equipe e no valor que estavam agregando”.

“Se um subordinado está se esforçando pouco ou tem um desempenho fraco, ele não é quem precisamos”, dizia o memorando. “Como um gestor, você não pode permitir que alguém seja neutro ou negativo para a Meta.”

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O TikTok chegou a 1 bilhão de usuários em setembro de 2021 e não parou de crescer  Foto: Dado Ruvic/Reuters

Zuckerberg está de olho nos esforços daqueles em áreas que ele acredita serem as que mais beneficiarão a Meta a longo prazo. Isso inclui metaverso, mensagens, Instagram Reels, privacidade, inteligência artificial (IA) e receitas maiores de produtos que atualmente trazem pouco lucro. Segundo o memorando, Cox definiu seis “prioridades de investimento” para a empresa no segundo semestre.

A Meta está recuando em produtos com poucas vendas, como o dispositivo de videochamada Portal, que não será mais oferecido aos consumidores – ele será direcionado para empresas. Bosworth também suspendeu o desenvolvimento de um smartwatch com duas câmeras, embora a empresa esteja trabalhando em outros protótipos.

Poucos dias após a “maratona de trabalho” com os gestores do Facebook em julho, Zuckerberg postou uma atualização em seu perfil na rede social, comentando algumas mudanças no app. O Facebook começaria a mostrar para os usuários um Feed com maior presença de vídeos e sugestões de conteúdo, imitando o TikTok.

A Meta tem investido fortemente em vídeo e em sugestões de conteúdo, com o objetivo de fortalecer sua IA e melhorar os algoritmos que sugerem conteúdo com engajamento para os usuários.

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No passado, o Facebook testou grandes atualizações de produtos com alguns públicos anglófonos para ver como as pessoas se comportariam antes de lançá-las para o público em geral. Mas, desta vez, as 2,93 bilhões de pessoas em todo o mundo que usam o app da rede social terão acesso à atualização simultaneamente.

É um sinal do quanto Zuckerberg está apostando nessas mudanças, disseram alguns funcionários da Meta. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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