Elon Musk prometeu um Twitter melhor, mas, um ano após compra, serviço é pior; leia análise

Bilionário não solucionou problema com contas de robôs e desinformação e criou incentivo para perfis buscarem engajamento a qualquer custo

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Foto do author Bruno Romani
Foto do author Guilherme Guerra
Atualização:

Há um ano, o empresário Elon Musk concluía a conturbada aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões. À época, a promessa do fundador da Tesla (principal montadora de carros elétricos do mundo) e da SpaceX (pioneira no turismo espacial) era a de que poderia melhorar a “praça digital da internet”, segundo ele próprio. No entanto, doze meses depois, a realidade é que o Twitter, agora chamado X, está pior.

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Essa foi uma história em três atos ao longo de 2022: o bilionário propôs a compra com a intenção de ter mais poder nas decisões da rede social; tentou desistir do negócio ao ver que as métricas econômicas da firma não eram tão saudáveis, mesmo que investidores já tivessem topado a transação; e depois foi forçado a fechar o acordo pelo preço inicial, tido como alto demais por ele.

Logo ao assumir a empresa, Elon Musk demitiu a maior parte dos executivos do alto escalão, incluindo o então presidente executivo, Parag Agrawal. Pouco depois, o bilionário assustou o mundo da tecnologia ao começar a dispensar pessoas da empresa, totalizando em até 75% do antigo Twitter em poucos meses — rapidamente, foi levantada a preocupação de que a rede ficaria fora do ar com tamanho esvaziamento de pessoal. Hoje, o número é de pouco mais de 1,5 mil pessoas e, contrariando as expectativas, a plataforma segue no ar, ainda que com alguns erros frequentes.

Na parte da infraestrutura, ele, de fato, conseguiu mostrar que era possível operar com menos gente.

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Twitter Blue deixou tudo pior

Na parte do serviço, o plano de Musk era combater contas de robôs (os “bots”) e verificar usuários para impedir perfis falsos. E equilibrar a receita da empresa, ainda dependente de publicidade, com recursos pagos também era uma necessidade.

A solução encontrada pelo bilionário para resolver esses três problemas foi incrementar o Twitter Blue, plano de assinatura mensal já existente que, sob a nova gestão, concede alguns benefícios ao usuário, entre eles o famoso selo azul de verificação, antes dado pelo próprio Twitter a pessoas notáveis que precisavam atestar a veracidade de suas contas. Desde então, quem paga pela assinatura recebe automaticamente o selo azul, ganha mais visibilidade e alcance com as postagens, pode editar tuítes já publicados, recebe menos anúncios na tela e pode até monetizar suas mensagens.

Essa mudança transformou a rede social — para pior, é preciso esclarecer. Não é mais possível saber quais contas são autênticas e relevantes para o debate público, e antigos perfis confiáveis perderam alcance e o selo de verificação, desincentivando essas pessoas a usar a plataforma. Além disso, comentários raivosos de “perfis azuis” ganham destaque no topo dos tuítes, muitas vezes agregando pouco ao debate e famintos pelo incentivo financeiro.

Esse não foi um processo que ocorreu da noite para o dia. A deterioração da qualidade das conversas foi sendo sentida aos poucos pelos usuários e ficou escancarada no início do conflito entre Israel e Hamas. Um estudo da agência de checagem de notícias NewsGuard mostrou que 74% das notícias falsas sobre o conflito na Faixa de Gaza mais disseminadas no X são de contas com o selo azul.

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Recentemente, a União Europeia acusou Musk publicamente de permitir que mentiras sobre o conflito circulassem livremente. No final de semana do início da guerra, Musk recomendou pessoalmente que os usuários seguissem contas conhecidas por promover mentiras.

Ambas estavam entre os mais importantes divulgadores de uma falsa explosão perto da Casa Branca, em maio deste ano. Ele acabou apagando as mensagens, mas antes elas foram visualizadas 11 milhões de vezes em apenas três horas.

Sob Elon Musk, antigo Twitter ganhou novo nome e identidade visual: a plataforma X, que deve ser transformada em um 'superapp' Foto: Etienne Laurent/EFE

Não é só isso. Sob o CEO, o X mostrou mais insensível a denúncias de conteúdo de ódio, já que não há mais equipes de moderação de humanos para checar se as publicações se enquadram nas regras da empresa. Tampouco há a seleção de notícias de fontes verificadas da imprensa, batizada de Moments, uma das poucas iniciativas bem-sucedidas do Twitter pré-Musk.

A ausência de moderação, que visava à liberdade de expressão sem limites ou responsabilidades, permitiu, por exemplo, que conteúdos golpistas se proliferassem pela plataforma no 8 de Janeiro deste ano - havia posts convocando e exibindo os ataques em Brasília. Já em abril, a plataforma permitiu a circulação de mensagens que convocavam ataques a escolas brasileiras. Os representantes da rede social se reuniram com as autoridades do governo e causaram mal-estar ao defender a manutenção de conteúdos extremistas. Pressionada, a empresa acabou removendo as contas.

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Esse problema não é novo e também atinge outras gigantes da tecnologia, mas parece ter se agravado sob a nova direção.

Queda de usuários

Esse ambiente mais tóxico tem afastado parte dos usuários novos e antigos do Twitter. Segundo dados do site de monitoramento Sense Tower citados pelo jornal Wall Street Journal, o X encolheu 16% em usuários diários ativos por mês entre outubro de 2022 e setembro de 2023, enquanto cresceram outras plataformas (como Snapchat, Instagram, Youtube, TikTok e Facebook). Isso é equivalente a cerca de 183 milhões de contas, número inferior aos 245 milhões comemorados por Musk no mesmo mês deste ano e ainda menor em relação aos 237 milhões auditados em junho de 2022, antes de o acordo ser concluído.

A relação com os anunciantes também ficou abalada. Segundo um estudo Guideline, a receita de publicidade do X caiu 54% entre agosto de 2022 e setembro de 2023. Durante o percurso, o bilionário contratou a executiva Linda Yaccarino, que atuava como presidente de publicidade global e parcerias do grupo de mídia americano NBC Universal. A ideia era restabelecer a relação com os anunciantes, mas o ambiente na plataforma não permitiu uma retomada sólida até agora.

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Há, porém, um fator bastante importante em favor de Musk: o X parece insubstituível no cardápio das plataformas digitais, ainda mantendo um papel relevante para informação. Concorrentes como Koo, Bluesky, Mastodon e Threads nasceram com o intuito de surfar no vácuo deixado pelo Twitter, mas nenhum deles parece ter se mantido relevante por tempo suficiente.

Para Musk, o desafio é provar que o X pode se tornar o “superapp” que ele tanto almeja — uma plataforma em que usuários podem ver publicações de criadores, trocar mensagens, realizar transações financeiras e até permitir compras.

Esse projeto pode levar anos, e poderia falhar mesmo que a plataforma tivesse melhorado a experiência dos usuários. Em um ambiente deteriorado, será necessária muita determinação de seu dono - talvez, até maior do que tinha para colocar US$ 44 bilhões na mesa e levar o passarinho azul para casa.

Empresário Elon Musk concluiu a compra do Twitter por US$ 44 bilhões em outubro de 2023 Foto: Dado Ruvic/Reuters
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